terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Fabricantes de Viagra e Botox fecham fusão de US$ 160 bilhões

A Allergan, com sede na Irlanda, fará que a Pfizer, baseada em Nova York, volte a ser o maior grupo farmacêutico do mundo




O laboratório americano Pfizer, dona do Viagra, anunciou nesta segunda-feira uma fusão com a irlandesa Allergan, criadora do Botox, para criar o maior grupo farmacêutico do mundo e pagar menos impostos nos Estados Unidos.
Essa fusão de 160 bilhões dólares é a maior da historia do setor farmacêutico e também a do ano, pouco depois da realizada recentemente pelas fabricantes de cerveja SABMiller e AB InBev, por 112 bilhões de dólares.
A Allergan, com sede na Irlanda, fará que a Pfizer, baseada em Nova York, volte a ser o maior grupo farmacêutico do mundo. O volume de negócios das duas companhias é de 61,5 bilhões de dólares contra 58 bilhões do suíço Novartis.

Fundamentalmente há algo a mais: a união entre Pfizer e Allergan é a maior manobra fiscal de uma empresa dos Estados Unidos. A matriz do gigante será na Irlanda, onde a carga tributária é muito menor do que a americana.
O exílio de empresas americanas através de aquisição de companhias instaladas em países mais lucrativos do ponto de vista fiscal está no foco do Departamento de Tesouro dos Estados Unidos.
Empresas "antipatrióticas"
O presidente Barack Obama classificou de "antipatrióticas" essas operações que privam a Receita americana de arrecadar bilhões de dólares.
Dono de ativos no exterior que não desejava repatriar aos Estados Unidos, a Pfizer jamais ocultou seu objetivo de crescer aliando-se a um grupo baseado fora das fronteiras dos EUA.
A Pfizer se envolveu nos últimos dias nas negociações com a Allergan no que pareceu ser uma corrida contra o Departamento de Tesouro, que na quinta-feira anunciou medidas contra a evasão fiscal pela compra de empresas estrangeiras.
Washington quer eliminar os lucros fiscais de companhias americanas que compram pequenas empresas estrangeiras para fixarem ali ou em um terceiro país a sua sede, reduzindo a carga de impostos.
O Tesouro pretende dificultar a evasão da norma segundo a qual se 80% ou mais das ações de uma companhia são de americanos então ela é considerada americana, independente de onde fica a sua sede.
Para driblar esses obstáculos, as duas companhias recorreram à fusão de modo que a Allergan, que é menor, seja a compradora da Pfizer.
Os atuais acionistas da Pfizer terão 56% das ações da nova companhia e a Allendale, 44%. O grupo deve nascer formalmente em meados do ano que vem se tiver sinal verde dos acionistas e das autoridades.
Os acionistas da Allergan receberão 363,63 dólares por ação, e os da Pfizer 32,18.
Gigante mundial
A Pfizer controlará o Conselho de Administração. A sede operacional será em Nova York, onde suas ações serão negociadas na Bolsa, mas sua matriz administrativa ficará na Irlanda.
Ian Read, presidente da Pfizer, comandará o novo grupo e Brent Saunders, que dirige a Allergan, será o número 2.
A taxa tributária da Pfizer-Allergan será de entre 17 e 18%. Em geral, a taxa de imposto das companhias com sede na  Irlanda é de 12,5% contra 35% nos Estados Unidos.
Em maio de 2014, a Pfizer tentou basear-se fora dos  Estados Unidos ao comprar a concorrente AstraZeneca, com sede np Reino Unido. No entanto, sua oferta de 117 bilhões de dólares foi rejeitada.
"Essa operação nos permite ficar em pé de igualdade com nossos competidores para aproveitar as oportunidades de crescimento de nossa atividade", disse Read nesta segunda-feira.
Não se pode dizer, contudo, que o negócio está fechado: diz que a autorização das autoridades americanas de concorrência e, especialmente, dos organismos reguladores do mercado.
"A resposta dos reguladores americanos é uma incógnita e pode ser negativa dada a magnitude da operação em termos de evasão fiscal", sintetizou Julian Mackenzie-Smith, analista da Morgan Rossiter.

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