quinta-feira, 21 de julho de 2011

Concluído atlas do cérebro humano

Concluído atlas do cérebro humano


Cientistas apresentaram o resultado da pesquisa nesta semana 20/04/2011
Washington EUA. Após mais de quatro anos de pesquisa, cientistas do Allen Institute for Brain Science apresentaram o maior mapeamento computadorizado de um cérebro, em Washington, nos Estados Unidos. Eles desenvolveram uma ferramenta interativa, denominada Atlas do Cérebro Humano, que irá ajudar a entender como um cérebro funciona e pode abrir caminho para novas descobertas em relação a doenças e tratamentos.
As informações utilizadas para construí-lo vêm de análises de dois cérebros humanos, por meio de obtenção de imagens por ressonância magnética e uma variação dessa técnica chamada de "imagem de tensor de difusão". Os cérebros foram fatiados em pequenos pedaços e deles foi extraído ácido ribonucleico (RNA), que, por sua vez, foi utilizado para obter uma leitura de 25 mil genes humanos.

Toda informação foi então conectada para criar um mapa detalhado do cérebro. Os pesquisadores descobriram 94% de similaridade bioquímica entre os dois cérebros e que ao menos 82% de todos os genes humanos estão expressos no cérebro.

Ambos os cérebros utilizados no projeto de US$ 55 milhões eram masculinos. Atualmente, o projeto está analisando um cérebro feminino, e, no futuro, a ferramenta vai permitir que dez cérebros sejam estudados.

Nervo artificial devolve movimentos às mãos

Nervo artificial devolve movimentos às mãos


Rio de Janeiro. Um trabalho de cientistas brasileiros pode revolucionar o tratamento de pessoas que perderam a capacidade de movimento e a sensibilidade das mãos.

Até um pequeno corte no braço pode atingir um nervo e provocar sequela. O nervo precisa ser religado em até duas semanas. Quem não faz a cirurgia nesse prazo recupera, no máximo, 60% das funções da mão.

Agora, cientistas da PUC de Porto Alegre, em parceria com franceses da universidade Montpellier, desenvolveram uma nova técnica que aumenta as chances de recuperação dos pacientes. Os pesquisadores descobriram exatamente quais substâncias ajudam a regenerar o nervo afetado e colocaram tudo em um tubinho menor que um palito de fósforo. É o nervo artificial.

O tubo é formado por cavidades invisíveis a olho nu. Os espaços são preenchidos com os fatores de crescimento: substâncias criadas em laboratório iguais às fornecidas pelo organismo para regenerar tecidos. O tubo substitui o nervo que se rompeu. Ao longo de seis meses, os fatores de crescimento são liberados. O tubo é absorvido pelo organismo e, no lugar dele, um novo nervo se forma.

Testado em cobaias, o nervo artificial recuperou mais de 90% dos movimentos dos ratinhos. Em setembro, será testada em pacientes do SUS. O próximo passo é tentar recuperar lesões ainda mais graves, em ossos, tendões e músculos.

70 anos de "Cidadão Kane" no Brasil

70 anos de "Cidadão Kane" no Brasil MARCELO MIRANDA



Para François Truffaut, "Cidadão Kane" foi um filme que resume todos os feitos anteriormente e antecipa todos que viriam posteriormente. O crítico André Bazin escreveu que Welles "trouxe (ao cinema) uma contribuição poderosa e original, que, queira-se ou não, abalou o edifício das tradições cinematográficas". Rogério Sganzerla definiu o longa como "o primeiro filme baseado em princípios relativistas de captação do universo e de um personagem".

Há exatamente 70 anos, estreava no Brasil aquele que ainda hoje encabeça listas e mais listas de melhor ou, no mínimo, como o mais importante filme de toda a história do cinema. Nada em referência a "Cidadão Kane" costuma ser muito menos que isso. A ideia vale não só para relembrá-lo décadas depois, mas especialmente sobre sua própria feitura. "Em Orson Welles, como em William Blake, a beleza é a exuberância", decretou Sganzerla, em artigo publicado no "Estado de S. Paulo" em 1965. "Exuberância técnica, acúmulo de personagens, de intenções históricas, histriônicas, de montagem, exuberância do mau gosto e, enfim, a exuberância do cinema americano".

Welles tinha apenas 26 anos quando "Cidadão Kane" foi exibido pela primeira vez nos EUA, em maio de 1941. Diferente de boa parte dos filmes expressivos que ganham reconhecimento apenas muitos anos depois de lançados, de cara o diretor foi saudado como gênio precoce. Esta foi, certamente, sua glória e sua maldição.

"Cidadão Kane" dominou as discussões cinematográficas daquela época. Não apenas por ser recebido como um autêntico sopro estético na forma de narrar e desenvolver um enredo aparentemente banal, mas por polemizar em cima da figura do magnata da mídia William Randolph Hearst. O dono de um conglomerado de comunicações processou Welles por acreditar que o personagem Kane era inspirado em fatos nada meritórios de sua vida.

Arrogante e vaidoso, Welles se deixou levar pela fama instantânea. Gerou antipatia de várias frentes, especialmente dos estúdios. Ao rodar seu segundo filme, "Soberba", teve a surpresa de ver a RKO picotar o trabalho e remontá-lo à sua revelia.
TRAJETÓRIA
Obra é das mais fortes feitas nos EUA

Em cena. Orson Welles como o personagem-título de "Cidadão Kane", que ele dirigiu e produziu

Após o ocaso de "Soberba" em 1942, Orson Welles jamais conseguiu a mesma liberdade que teve para realizar "Cidadão Kane". Ele mesmo dizia ter sido o verdadeiro dono de um filme apenas com "Kane" e, depois, "Otelo" (1952) e "Dom Quixote", este nunca tendo sido finalizado.

Mesmo assim, filmes como "A Marca da Maldade", "O Processo" e "A Dama de Shangai", em especial, formam, com "Cidadão Kane" e "Soberba", uma das mais consistentes e fortes obras do cinema feito nos EUA, fosse Welles ou não o artífice final. Mesmo infeliz, ele fez história. (MM)

Chuveiro ligado uma hora por dia encarece conta em R$ 51

Chuveiro ligado uma hora por dia encarece conta em R$ 51
Outros aparelhos, como lavadora de roupa e aquecedor também são vilões


ANA PAULA PEDROSA


O professor Afonso Nogueira levou um susto quando recebeu a conta de luz referente a junho: o consumo, que vinha na casa dos 194 Kwh por mês saltou para 283 Kwh. A mudança doeu no bolso. Em maio, ele pagou R$ 125 na conta de energia e no mês seguinte, teve que desembolsar R$ 186. O aumento de quase 50% tem explicação: o frio, que chegou ainda no outono.


O maior vilão da estação é o chuveiro elétrico, usado nas temperaturas mais altas nesta época do ano. Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) um chuveiro em tensão mais forte ligado por uma hora por dia encarece a conta de luz em cerca de R$ 51 ao final do mês.


Além do chuveiro, o Idec também lista outros equipamentos que elevam o consumo. No inverno, é mais difícil secar as roupas e o uso da secadora aumenta. A água fria também leva os consumidores a optarem por usar mais vezes a lavadora que consome por mês 3,15 kWh a 6,30 kWh quando usada duas vezes por semana. Quem tem aquecedor elétrico, liga o aparelho frequentemente. O grande número de doenças respiratórias coloca em ação aparelhos como vaporizadores e nebulizadores.


Na casa do professor Nogueira foi a combinação de vários desses fatores que levou ao aumento da conta. "Eu acordo às 6h, o banho tem que ser quente mesmo", diz. A filha pequena usa muito vaporizador e ainda faz xixi na cama, o que coloca a máquina de lavar roupa para funcionar mais vezes. No próximo mês, porém, ele está disposto a baixar o gasto. "Tem coisas que não dá para cortar, mas vamos ficar de olho nas lâmpadas acesas à toa e diminuir o tempo dos banhos", explica.


Dicas. Independente do clima, há dicas que devem ser sempre seguidas e que podem ajudar a reduzir as contas. No caso de lavadora de roupas, secadoras e ferro elétrico, o ideal é juntar uma grande quantidade de roupa para ser lavada e passada de uma só vez. Para geladeira, a dica é evitar abrir e fechar muitas vezes e não deixar acumular grandes camadas de gelo no freezer. Outra providência de quem quer gastar menos com energia deve ser trocar lâmpadas incandescentes por fluorescentes e aproveitar a claridade natural do dia.

O vilão. O chuveiro elétrico é de longe o principal motivo da conta de luz ficar mais cara no inverno
DISTRIBUIDORAS
Ministro critica modelo de fiscalização da Aneel
Brasília. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, admitiu que a fiscalização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sobre as distribuidoras de energia não é a "desejável" nem pelo ministério nem pelo próprio órgão regulador para garantir melhor qualidade dos serviços prestados ao consumidor.

"Nem eu estou satisfeito, nem a Aneel está satisfeita. Todos nós achamos que precisa melhorar. Não é uma censura minha à Aneel. A própria Aneel acha isso", revelou Lobão.

Um dos entraves que emperram um melhor desempenho da Aneel na fiscalização das concessionárias é a falta de funcionários. "Ela não pode fiscalizar com a eficiência que ela própria deseja em razão até da escassez de pessoal, mas ela está procurando cumprir o papel dela", afirmou o ministro. "Poderia ser melhor, mas não está abaixo do esperado", ponderou o ministro.
Rede inteligente vai demorar
Brasília. A implantação das redes inteligentes de energia, o chamado "smart grid", vai facilitar a leitura do consumo dos clientes e facilitar a fiscalização. O problema é que vai demorar. Segundo o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, até a implantação dessa tecnologia no Brasil, não há perspectiva de aumentar o quadro de fiscais da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

"Demora? Demora sim. Mas também, se formos contratar gente, leva igualmente tempo, mais isso, mais aquilo, menos eficiência" disse o ministro.

Made in MinasMade in Minas

Made in Minas
É principalmente por fazer o design andar ao lado da sustentabilidade que Adrienne Rabelo concorre na próxima quarta-feira, em Nova York, ao "Fifth Annual Independent Handbag Design Awards", da revista "InStyle". A designer está entre os cinco finalistas com a carteira "Flor da vida", feita de contas de papel resinadas. Além de recicladas, as contas são produzidas por presidiárias e, depois, passam por Adrienne, que as tece geometricamente. A mineira, que competiu com mais de 1.200 candidatos de vários países, explica que sua peça tem como referência a transformação simbólica da vida e faz um alerta para a preservação do planeta, criando através da reutilização do lixo um novo luxo. Para quem não sabe, no ano passado, a designer venceu o prêmio do Salão do Objeto Brasileiro com uma cadeira que "troca de roupa". Mais sobre Adrienne no www.adriennerabelo.com.

A fragilidade dos laços humanos


Gioconda Bordon
O título do livro do sociólogo polonês Zigmunt Bauman é sugestivo e, sobretudo, apropriado para um sentimento que não se submete docilmente a definições. Professor emérito de sociologia nas Universidades de Varsóvia e de Leeds, na Inglaterra, ele tem vários livros traduzidos para o português, e o tema recorrente em sua obra são os vínculos sociais possíveis no mundo atual, neste tempo que se convencionou denominar de pós-modernidade.

A noção de liquidez, quando se refere às relações humanas, tem um sentido inverso ao empregado nas relações bancárias, a disponibilidade de recursos financeiros. A liquidez de quem tem uma conta polpuda no banco, acessível a partir de um comando eletrônico é capaz de tornar qualquer desejo uma realidade concreta. É um atributo potencializador. O amor líquido, ao contrário, é a sensação de bolsos vazios.

É preciso deixar claro que Bauman não se propõe a indicar ao leitor fórmulas de como obter sucesso nas conquistas amorosas, nem como mantê-las atraentes ao longo do tempo, muito menos como preservá-las dos possíveis, e às vezes inevitáveis, desgastes no decorrer da vida a dois. Não há como assegurar conforto num encontro de amor, nem garantias de invulnerabilidade diante das apostas perdidas, nunca houve. Quem vende propostas de baixo risco são comerciantes de mercadorias falsificadas.

A área de estudo principal de Bauman é a sociologia, o campo do pensamento que vai ser o ponto de partida e o foco fundamental do retrato sobre a urgência de viver um relacionamento plenamente satisfatório dos cidadãos pós-modernos. Digamos que as dificuldades vividas por um casal refletem o estilo que uma comunidade mais ampla estabelece como padrão aceitável de relacionamento entre seus vizinhos, entre os que habitam um espaço comum. Bauman é realista. Sabe que “nenhuma união de corpos pode, por mais que se tente, escapar à moldura social e cortar todas as conexões com outras facetas da existência social”. Portanto, partindo do seu campo específico de estudo, ele faz uma radiografia das agruras sofridas pelos homens e mulheres que têm que estabelecer suas parcerias no mundo globalizado.

Mundo que ele identifica como líquido, em que as relações se estabelecem com extraordinária fluidez, que se movem e escorrem sem muitos obstáculos, marcadas pela ausência de peso, em constante e frenético movimento. Em seus livros anteriores, já traduzidos e disponíveis para o leitor brasileiro, Bauman defende a idéia de que esse processo de liquefação dos laços sociais não é um desvio de rota na história da civilização ocidental, mas uma proposta contida na própria instauração da modernidade. A globalização, palavra onde estão contidos os prós e os contras da vida contemporânea e suas conseqüências políticas e sociais, pode ser um conceito meio difuso, mas ninguém fica imune aos seus efeitos. A rapidez da troca de informações e as respostas imediatas que esse intercâmbio acarreta nas decisões diárias; qualidades e produtos que ficam obsoletos antes do prazo de vencimento; a incerteza radicalizada em todos os campos da interação humana; a falta de padrões reguladores precisos e duradores; são evidências compartilhadas por todos os que estão neste barco do mundo pós-moderno. Se esse é o pano de fundo do momento, ele vai imprimir sua marca em todos as possibilidades da experiência, inclusive nos relacionamentos amorosos. O sociólogo Zygmunt Bauman mostra como o amor também passa a ser vivenciado de uma maneira mais insegura, com dúvidas acrescidas à já irresistível e temerária atração de se unir ao outro. Nunca houve tanta liberdade na escolha de parceiros, nem tanta variedade de modelos de relacionamentos, e, no entanto, nunca os casais se sentiram tão ansiosos e prontos para rever, ou reverter o rumo da relação.

O apelo por fazer escolhas que possam num espaço muito curto de tempo serem trocadas por outras mais atualizadas e mais promissoras, não apenas orientam as decisões de compra num mercado abundante de produtos novos, mas também parecem comandar o ritmo da busca por parceiros cada vez mais satisfatórios. A ordem do dia nos motiva a entrar em novos relacionamentos sem fechar as portas para outros que possam eventualmente se insinuar com contornos mais atraentes, o que explica o sucesso do que o autor chama de casais semi-separados. Ou então, mais ou menos casados, o que pode ser praticamente a mesma coisa. Não dividir o mesmo espaço, estabelecer os momentos de convívio que preservem a sensação de liberdade, evitar o tédio e os conflitos da vida em comum podem se tornar opções que se configuram como uma saída que promete uma relação com um nível de comprometimento mais fácil de ser rompido. É como procurar um abrigo sem vontade de ocupá-lo por inteiro. A concentração no movimento da busca perde o foco do objeto desejado. Insatisfeitos, mas persistentes, homens e mulheres continuam perseguindo a chance de encontrar a parceria ideal, abrindo novos campos de interação. Daí a popularidade dos pontos de encontros virtuais, muitos são mais visitados que os bares para solteiros, locais físicos e concretos, onde o tête à tête, o olho no olho é o início de um possível encontro. Crescem as redes de interatividade mundiais onde a intimidade pode sempre escapar do risco de um comprometimento, porque nada impede o desligar-se. Para desconectar-se basta pressionar uma tecla; sem constrangimentos, sem lamúrias, e sem prejuízos. Num mundo instantâneo, é preciso estar sempre pronto para outra. Não há tempo para o adiamento, para postergar a satisfação do desejo, nem para o seu amadurecimento. É mais prudente uma sucessão de encontros excitantes com momentos doces e leves que não sejam contaminados pelo ardor da paixão, sempre disposta a enveredar por caminhos que aprisionam e ameaçam a prontidão de estar sempre disponível para novas aventuras. Bauman mostra que estamos todos mais propensos às relações descartáveis, a encenar episódios românticos variados, assim como os seriados de televisão e seus personagens com quem se identificam homens e mulheres do mundo inteiro. Seus equívocos amorosos divertem os telespectadores, suas dificuldades e misérias afetivas são acompanhadas com o sorriso de quem sabe que não está sozinho no complicado jogo de esconde-esconde amoroso.

A tecnologia da comunicação proporciona uma quantidade inesgotável de troca de mensagens entre os cidadãos ávidos por relacionar-se. Mas nem sempre os intercâmbios eletrônicos funcionam como um prólogo para conversas mais substanciais, quando os interlocutores estiverem frente a frente. Os habitantes circulando pelas conexões líquidas da pós-modernidade são tagarelas a distância, mas, assim que entram em casa, fecham-se em seus quartos e ligam a televisão.


Zygmunt Bauman explica que hoje “a proximidade não exige mais a contigüidade física; e a contigüidade física não determina mais a proximidade”. Mas ele reconhece que “seria tolo e irresponsável culpar as engenhocas eletrônicas pelo lento, mas constante recuo da proximidade contínua, pessoal, direta, face a face, multifacetada e multiuso”. As relações humanas dispõem hoje de mecanismos tecnológicos e de um consenso capaz de torná-las mais frouxas, menos restritivas. É preciso se ligar, mas é imprescindível cortar a dependência, deve-se amar, porém sem muitas expectativas, pois elas podem rapidamente transformar um bom namoro num sufoco, numa prisão. Um relacionamento intenso pode deixar a vida um inferno, contudo, nunca houve tanta procura em relacionar-se. Bauman vê homens e mulheres presos numa trincheira sem saber como sair dela, e, o que é ainda mais dramático, sem reconhecer com clareza se querem sair ou permanecer nela. Por isso movimentam-se em várias direções, entram e saem de casos amorosos com a esperança mantida às custas de um esforço considerável, tentando acreditar que o próximo passo será o melhor. A conclusão não pode ser outra: “a solidão por trás da porta fechada de um quarto com um telefone celular à mão pode parecer uma condição menos arriscada e mais segura do que compartilhar um terreno doméstico comum”.

Amor líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos, de Zigmunt Bauman, mostra-nos que hoje estamos mais bem aparelhados para disfarçar um medo antigo. A sociedade neoliberal, pós-moderna, líquida, para usar o adjetivo escolhido pelo autor, e perfeitamente ajustado para definir a atualidade, teme o que em qualquer período da trajetória humana sempre foi vivido como uma ameaça: o desejo e o amor por outra pessoa.

O mais recente título do sociólogo polonês, que recebeu os prêmios Amalfi (em 1989, pelo livro Modernidade e Holocausto), e Adorno (em 1998, pelo conjunto de sua obra), é uma leitura precisa e eloqüente, um convite a uma reflexão aberta não apenas aos estudantes e interessados em trabalhos acadêmicos. O seu texto claro, apesar de fortemente estruturado numa erudição consistente, não deixa de abrir espaço para o leitor comum, interessado em compreender como as estruturas sociais e econômicas dos tempos atuais, tentam dar conta da complexidade do amor que, com a permissão de citá-lo mais uma vez, é “uma hipoteca baseada num futuro incerto e inescrutável”.

Nota do Editor
Ensaio gentilmente cedido pela autora. Publicado no caderno "Fim de Semana", da Gazeta Mercantil, em 31 de julho de 2004.
O título do livro do sociólogo polonês Zigmunt Bauman é sugestivo e, sobretudo, apropriado para um sentimento que não se submete docilmente a definições. Professor emérito de sociologia nas Universidades de Varsóvia e de Leeds, na Inglaterra, ele tem vários livros traduzidos para o português, e o tema recorrente em sua obra são os vínculos sociais possíveis no mundo atual, neste tempo que se convencionou denominar de pós-modernidade.

A noção de liquidez, quando se refere às relações humanas, tem um sentido inverso ao empregado nas relações bancárias, a disponibilidade de recursos financeiros. A liquidez de quem tem uma conta polpuda no banco, acessível a partir de um comando eletrônico é capaz de tornar qualquer desejo uma realidade concreta. É um atributo potencializador. O amor líquido, ao contrário, é a sensação de bolsos vazios.

É preciso deixar claro que Bauman não se propõe a indicar ao leitor fórmulas de como obter sucesso nas conquistas amorosas, nem como mantê-las atraentes ao longo do tempo, muito menos como preservá-las dos possíveis, e às vezes inevitáveis, desgastes no decorrer da vida a dois. Não há como assegurar conforto num encontro de amor, nem garantias de invulnerabilidade diante das apostas perdidas, nunca houve. Quem vende propostas de baixo risco são comerciantes de mercadorias falsificadas.

A área de estudo principal de Bauman é a sociologia, o campo do pensamento que vai ser o ponto de partida e o foco fundamental do retrato sobre a urgência de viver um relacionamento plenamente satisfatório dos cidadãos pós-modernos. Digamos que as dificuldades vividas por um casal refletem o estilo que uma comunidade mais ampla estabelece como padrão aceitável de relacionamento entre seus vizinhos, entre os que habitam um espaço comum. Bauman é realista. Sabe que “nenhuma união de corpos pode, por mais que se tente, escapar à moldura social e cortar todas as conexões com outras facetas da existência social”. Portanto, partindo do seu campo específico de estudo, ele faz uma radiografia das agruras sofridas pelos homens e mulheres que têm que estabelecer suas parcerias no mundo globalizado.

Mundo que ele identifica como líquido, em que as relações se estabelecem com extraordinária fluidez, que se movem e escorrem sem muitos obstáculos, marcadas pela ausência de peso, em constante e frenético movimento. Em seus livros anteriores, já traduzidos e disponíveis para o leitor brasileiro, Bauman defende a idéia de que esse processo de liquefação dos laços sociais não é um desvio de rota na história da civilização ocidental, mas uma proposta contida na própria instauração da modernidade. A globalização, palavra onde estão contidos os prós e os contras da vida contemporânea e suas conseqüências políticas e sociais, pode ser um conceito meio difuso, mas ninguém fica imune aos seus efeitos. A rapidez da troca de informações e as respostas imediatas que esse intercâmbio acarreta nas decisões diárias; qualidades e produtos que ficam obsoletos antes do prazo de vencimento; a incerteza radicalizada em todos os campos da interação humana; a falta de padrões reguladores precisos e duradores; são evidências compartilhadas por todos os que estão neste barco do mundo pós-moderno. Se esse é o pano de fundo do momento, ele vai imprimir sua marca em todos as possibilidades da experiência, inclusive nos relacionamentos amorosos. O sociólogo Zygmunt Bauman mostra como o amor também passa a ser vivenciado de uma maneira mais insegura, com dúvidas acrescidas à já irresistível e temerária atração de se unir ao outro. Nunca houve tanta liberdade na escolha de parceiros, nem tanta variedade de modelos de relacionamentos, e, no entanto, nunca os casais se sentiram tão ansiosos e prontos para rever, ou reverter o rumo da relação.

O apelo por fazer escolhas que possam num espaço muito curto de tempo serem trocadas por outras mais atualizadas e mais promissoras, não apenas orientam as decisões de compra num mercado abundante de produtos novos, mas também parecem comandar o ritmo da busca por parceiros cada vez mais satisfatórios. A ordem do dia nos motiva a entrar em novos relacionamentos sem fechar as portas para outros que possam eventualmente se insinuar com contornos mais atraentes, o que explica o sucesso do que o autor chama de casais semi-separados. Ou então, mais ou menos casados, o que pode ser praticamente a mesma coisa. Não dividir o mesmo espaço, estabelecer os momentos de convívio que preservem a sensação de liberdade, evitar o tédio e os conflitos da vida em comum podem se tornar opções que se configuram como uma saída que promete uma relação com um nível de comprometimento mais fácil de ser rompido. É como procurar um abrigo sem vontade de ocupá-lo por inteiro. A concentração no movimento da busca perde o foco do objeto desejado. Insatisfeitos, mas persistentes, homens e mulheres continuam perseguindo a chance de encontrar a parceria ideal, abrindo novos campos de interação. Daí a popularidade dos pontos de encontros virtuais, muitos são mais visitados que os bares para solteiros, locais físicos e concretos, onde o tête à tête, o olho no olho é o início de um possível encontro. Crescem as redes de interatividade mundiais onde a intimidade pode sempre escapar do risco de um comprometimento, porque nada impede o desligar-se. Para desconectar-se basta pressionar uma tecla; sem constrangimentos, sem lamúrias, e sem prejuízos. Num mundo instantâneo, é preciso estar sempre pronto para outra. Não há tempo para o adiamento, para postergar a satisfação do desejo, nem para o seu amadurecimento. É mais prudente uma sucessão de encontros excitantes com momentos doces e leves que não sejam contaminados pelo ardor da paixão, sempre disposta a enveredar por caminhos que aprisionam e ameaçam a prontidão de estar sempre disponível para novas aventuras. Bauman mostra que estamos todos mais propensos às relações descartáveis, a encenar episódios românticos variados, assim como os seriados de televisão e seus personagens com quem se identificam homens e mulheres do mundo inteiro. Seus equívocos amorosos divertem os telespectadores, suas dificuldades e misérias afetivas são acompanhadas com o sorriso de quem sabe que não está sozinho no complicado jogo de esconde-esconde amoroso.

A tecnologia da comunicação proporciona uma quantidade inesgotável de troca de mensagens entre os cidadãos ávidos por relacionar-se. Mas nem sempre os intercâmbios eletrônicos funcionam como um prólogo para conversas mais substanciais, quando os interlocutores estiverem frente a frente. Os habitantes circulando pelas conexões líquidas da pós-modernidade são tagarelas a distância, mas, assim que entram em casa, fecham-se em seus quartos e ligam a televisão.

Zygmunt Bauman explica que hoje “a proximidade não exige mais a contigüidade física; e a contigüidade física não determina mais a proximidade”. Mas ele reconhece que “seria tolo e irresponsável culpar as engenhocas eletrônicas pelo lento, mas constante recuo da proximidade contínua, pessoal, direta, face a face, multifacetada e multiuso”. As relações humanas dispõem hoje de mecanismos tecnológicos e de um consenso capaz de torná-las mais frouxas, menos restritivas. É preciso se ligar, mas é imprescindível cortar a dependência, deve-se amar, porém sem muitas expectativas, pois elas podem rapidamente transformar um bom namoro num sufoco, numa prisão. Um relacionamento intenso pode deixar a vida um inferno, contudo, nunca houve tanta procura em relacionar-se. Bauman vê homens e mulheres presos numa trincheira sem saber como sair dela, e, o que é ainda mais dramático, sem reconhecer com clareza se querem sair ou permanecer nela. Por isso movimentam-se em várias direções, entram e saem de casos amorosos com a esperança mantida às custas de um esforço considerável, tentando acreditar que o próximo passo será o melhor. A conclusão não pode ser outra: “a solidão por trás da porta fechada de um quarto com um telefone celular à mão pode parecer uma condição menos arriscada e mais segura do que compartilhar um terreno doméstico comum”.

Amor líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos, de Zigmunt Bauman, mostra-nos que hoje estamos mais bem aparelhados para disfarçar um medo antigo. A sociedade neoliberal, pós-moderna, líquida, para usar o adjetivo escolhido pelo autor, e perfeitamente ajustado para definir a atualidade, teme o que em qualquer período da trajetória humana sempre foi vivido como uma ameaça: o desejo e o amor por outra pessoa.

O mais recente título do sociólogo polonês, que recebeu os prêmios Amalfi (em 1989, pelo livro Modernidade e Holocausto), e Adorno (em 1998, pelo conjunto de sua obra), é uma leitura precisa e eloqüente, um convite a uma reflexão aberta não apenas aos estudantes e interessados em trabalhos acadêmicos. O seu texto claro, apesar de fortemente estruturado numa erudição consistente, não deixa de abrir espaço para o leitor comum, interessado em compreender como as estruturas sociais e econômicas dos tempos atuais, tentam dar conta da complexidade do amor que, com a permissão de citá-lo mais uma vez, é “uma hipoteca baseada num futuro incerto e inescrutável”.

Nota do Editor
Ensaio gentilmente cedido pela autora. Publicado no caderno "Fim de Semana", da Gazeta Mercantil, em 31 de julho de 2004.
O título do livro do sociólogo polonês Zigmunt Bauman é sugestivo e, sobretudo, apropriado para um sentimento que não se submete docilmente a definições. Professor emérito de sociologia nas Universidades de Varsóvia e de Leeds, na Inglaterra, ele tem vários livros traduzidos para o português, e o tema recorrente em sua obra são os vínculos sociais possíveis no mundo atual, neste tempo que se convencionou denominar de pós-modernidade.

A noção de liquidez, quando se refere às relações humanas, tem um sentido inverso ao empregado nas relações bancárias, a disponibilidade de recursos financeiros. A liquidez de quem tem uma conta polpuda no banco, acessível a partir de um comando eletrônico é capaz de tornar qualquer desejo uma realidade concreta. É um atributo potencializador. O amor líquido, ao contrário, é a sensação de bolsos vazios.

É preciso deixar claro que Bauman não se propõe a indicar ao leitor fórmulas de como obter sucesso nas conquistas amorosas, nem como mantê-las atraentes ao longo do tempo, muito menos como preservá-las dos possíveis, e às vezes inevitáveis, desgastes no decorrer da vida a dois. Não há como assegurar conforto num encontro de amor, nem garantias de invulnerabilidade diante das apostas perdidas, nunca houve. Quem vende propostas de baixo risco são comerciantes de mercadorias falsificadas.

A área de estudo principal de Bauman é a sociologia, o campo do pensamento que vai ser o ponto de partida e o foco fundamental do retrato sobre a urgência de viver um relacionamento plenamente satisfatório dos cidadãos pós-modernos. Digamos que as dificuldades vividas por um casal refletem o estilo que uma comunidade mais ampla estabelece como padrão aceitável de relacionamento entre seus vizinhos, entre os que habitam um espaço comum. Bauman é realista. Sabe que “nenhuma união de corpos pode, por mais que se tente, escapar à moldura social e cortar todas as conexões com outras facetas da existência social”. Portanto, partindo do seu campo específico de estudo, ele faz uma radiografia das agruras sofridas pelos homens e mulheres que têm que estabelecer suas parcerias no mundo globalizado.

Mundo que ele identifica como líquido, em que as relações se estabelecem com extraordinária fluidez, que se movem e escorrem sem muitos obstáculos, marcadas pela ausência de peso, em constante e frenético movimento. Em seus livros anteriores, já traduzidos e disponíveis para o leitor brasileiro, Bauman defende a idéia de que esse processo de liquefação dos laços sociais não é um desvio de rota na história da civilização ocidental, mas uma proposta contida na própria instauração da modernidade. A globalização, palavra onde estão contidos os prós e os contras da vida contemporânea e suas conseqüências políticas e sociais, pode ser um conceito meio difuso, mas ninguém fica imune aos seus efeitos. A rapidez da troca de informações e as respostas imediatas que esse intercâmbio acarreta nas decisões diárias; qualidades e produtos que ficam obsoletos antes do prazo de vencimento; a incerteza radicalizada em todos os campos da interação humana; a falta de padrões reguladores precisos e duradores; são evidências compartilhadas por todos os que estão neste barco do mundo pós-moderno. Se esse é o pano de fundo do momento, ele vai imprimir sua marca em todos as possibilidades da experiência, inclusive nos relacionamentos amorosos. O sociólogo Zygmunt Bauman mostra como o amor também passa a ser vivenciado de uma maneira mais insegura, com dúvidas acrescidas à já irresistível e temerária atração de se unir ao outro. Nunca houve tanta liberdade na escolha de parceiros, nem tanta variedade de modelos de relacionamentos, e, no entanto, nunca os casais se sentiram tão ansiosos e prontos para rever, ou reverter o rumo da relação.

O apelo por fazer escolhas que possam num espaço muito curto de tempo serem trocadas por outras mais atualizadas e mais promissoras, não apenas orientam as decisões de compra num mercado abundante de produtos novos, mas também parecem comandar o ritmo da busca por parceiros cada vez mais satisfatórios. A ordem do dia nos motiva a entrar em novos relacionamentos sem fechar as portas para outros que possam eventualmente se insinuar com contornos mais atraentes, o que explica o sucesso do que o autor chama de casais semi-separados. Ou então, mais ou menos casados, o que pode ser praticamente a mesma coisa. Não dividir o mesmo espaço, estabelecer os momentos de convívio que preservem a sensação de liberdade, evitar o tédio e os conflitos da vida em comum podem se tornar opções que se configuram como uma saída que promete uma relação com um nível de comprometimento mais fácil de ser rompido. É como procurar um abrigo sem vontade de ocupá-lo por inteiro. A concentração no movimento da busca perde o foco do objeto desejado. Insatisfeitos, mas persistentes, homens e mulheres continuam perseguindo a chance de encontrar a parceria ideal, abrindo novos campos de interação. Daí a popularidade dos pontos de encontros virtuais, muitos são mais visitados que os bares para solteiros, locais físicos e concretos, onde o tête à tête, o olho no olho é o início de um possível encontro. Crescem as redes de interatividade mundiais onde a intimidade pode sempre escapar do risco de um comprometimento, porque nada impede o desligar-se. Para desconectar-se basta pressionar uma tecla; sem constrangimentos, sem lamúrias, e sem prejuízos. Num mundo instantâneo, é preciso estar sempre pronto para outra. Não há tempo para o adiamento, para postergar a satisfação do desejo, nem para o seu amadurecimento. É mais prudente uma sucessão de encontros excitantes com momentos doces e leves que não sejam contaminados pelo ardor da paixão, sempre disposta a enveredar por caminhos que aprisionam e ameaçam a prontidão de estar sempre disponível para novas aventuras. Bauman mostra que estamos todos mais propensos às relações descartáveis, a encenar episódios românticos variados, assim como os seriados de televisão e seus personagens com quem se identificam homens e mulheres do mundo inteiro. Seus equívocos amorosos divertem os telespectadores, suas dificuldades e misérias afetivas são acompanhadas com o sorriso de quem sabe que não está sozinho no complicado jogo de esconde-esconde amoroso.

A tecnologia da comunicação proporciona uma quantidade inesgotável de troca de mensagens entre os cidadãos ávidos por relacionar-se. Mas nem sempre os intercâmbios eletrônicos funcionam como um prólogo para conversas mais substanciais, quando os interlocutores estiverem frente a frente. Os habitantes circulando pelas conexões líquidas da pós-modernidade são tagarelas a distância, mas, assim que entram em casa, fecham-se em seus quartos e ligam a televisão.

Zygmunt Bauman explica que hoje “a proximidade não exige mais a contigüidade física; e a contigüidade física não determina mais a proximidade”. Mas ele reconhece que “seria tolo e irresponsável culpar as engenhocas eletrônicas pelo lento, mas constante recuo da proximidade contínua, pessoal, direta, face a face, multifacetada e multiuso”. As relações humanas dispõem hoje de mecanismos tecnológicos e de um consenso capaz de torná-las mais frouxas, menos restritivas. É preciso se ligar, mas é imprescindível cortar a dependência, deve-se amar, porém sem muitas expectativas, pois elas podem rapidamente transformar um bom namoro num sufoco, numa prisão. Um relacionamento intenso pode deixar a vida um inferno, contudo, nunca houve tanta procura em relacionar-se. Bauman vê homens e mulheres presos numa trincheira sem saber como sair dela, e, o que é ainda mais dramático, sem reconhecer com clareza se querem sair ou permanecer nela. Por isso movimentam-se em várias direções, entram e saem de casos amorosos com a esperança mantida às custas de um esforço considerável, tentando acreditar que o próximo passo será o melhor. A conclusão não pode ser outra: “a solidão por trás da porta fechada de um quarto com um telefone celular à mão pode parecer uma condição menos arriscada e mais segura do que compartilhar um terreno doméstico comum”.

Amor líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos, de Zigmunt Bauman, mostra-nos que hoje estamos mais bem aparelhados para disfarçar um medo antigo. A sociedade neoliberal, pós-moderna, líquida, para usar o adjetivo escolhido pelo autor, e perfeitamente ajustado para definir a atualidade, teme o que em qualquer período da trajetória humana sempre foi vivido como uma ameaça: o desejo e o amor por outra pessoa.

O mais recente título do sociólogo polonês, que recebeu os prêmios Amalfi (em 1989, pelo livro Modernidade e Holocausto), e Adorno (em 1998, pelo conjunto de sua obra), é uma leitura precisa e eloqüente, um convite a uma reflexão aberta não apenas aos estudantes e interessados em trabalhos acadêmicos. O seu texto claro, apesar de fortemente estruturado numa erudição consistente, não deixa de abrir espaço para o leitor comum, interessado em compreender como as estruturas sociais e econômicas dos tempos atuais, tentam dar conta da complexidade do amor que, com a permissão de citá-lo mais uma vez, é “uma hipoteca baseada num futuro incerto e inescrutável”.


Nota do Editor
Ensaio gentilmente cedido pela autora. Publicado no caderno "Fim de Semana", da Gazeta Mercantil, em 31 de julho de 2004.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Mineira cria banco para emprestar a partir de R$500

Mineira cria banco para emprestar a partir de R$500
Com novo conceito colaborativo, instituição terá juros de 4% ao ano  HELENICE LAGUARDIA


O Banco Colaborativista Ada Digital (BCAD) não é apenas mais uma instituição no concentrado mercado financeiro de grandes marcas. Com juros de 4% ao ano para financiamentos de vários tamanhos, a partir de R$ 500, o banco concebido pela mineira Ada Lemos começa a operar a partir de julho, na internet. "Esse é um mundo diferente e não é para competir com o existente, mas fornecer alternativas, ganhar menos com os juros, girando mais os recursos", explicou a fundadora.


O banco é o primeiro a ter um desenho integrado no Brasil e no mundo. Será uma instituição que envolverá empresas dos mundos real e virtual, criação de fundos e apoio a projetos sociais. "Tinha que ser para democratizar o acesso e também ter a participação das pessoas".


Mas de onde virá o dinheiro do BCAD para bancar os projetos que o banco virá a financiar? Segundo Ada, de fundos coletivos que estão sendo criados para uma instituição, nos moldes de uma cooperativa, com projetos que serão mostrados a possíveis financiadores. "Podemos fechar um fundo com 1 milhão de pessoas com aportes pequenos de dinheiro. E outro fundo com menos pessoas e chegando a valor igual ao anterior, que tem mais gente", explicou Ada.


Ela citou o caso do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. "Ele usou esse tipo de construção de fundos e ganhou ‘horrores’ para sua campanha. É algo parecido que montaremos nos fundos do banco", contou.


Ela disse que os fundos serão constituídos de empresários, pessoas físicas e funcionários públicos já interessados no banco. "Elas vão entrar com dinheiro participando da sociedade", disse.


Na prática, Ada dá um exemplo de negociação que poderá ser intermediada pelo banco: o dono de um comércio de material de construção que está interessado num projeto de tecnologia da informação (TI) para sua empresa coloca, por exemplo, R$ 50 mil no banco. Esse empresário terá do banco um projeto customizado para ele. "É uma economia para o comerciante, já que um projeto de TI é bem mais caro, e o banco vai emprestar aqueles R$ 50 mil com juros menores", explicou Ada.


O site do banco ainda está em fase de criação. Ele trará ferramentas para a pessoa ter acesso a informações sobre linhas de crédito, projetos que ela pode financiar e as ideias que ela pode mandar para o banco para se tornarem um projeto.


Para Ada Lemos, as coisas serão trabalhadas no mundo digital, mas virão do mundo real. "A pessoa que quer abrir um negócio próprio vai ter chance no banco virtual", garantiu. 
LOJAS
Fundadora pedirá ajuda ao governo
O Banco Colaborativista Ada Digital (BCAD) será acessado pela internet, mas também terá lojas. "Vamos viabilizar esses pontos físicos com agências de outros bancos", disse a fundadora, Ada Lemos, que está negociando com o Banco Postal – dos Correios –, Banco do Brasil e Caixa Econômica.


A ideia do BCAD será apresentada a vários órgãos internacionais, como o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Ada também vai enviar o projeto do banco para o governo federal. E brinca: "Para as meninas poderosas (as ministras e Dilma)".


O BCAD já tem três projetos em andamento. Um deles é para soluções contra cegueira, usando chips. "Já temos empresas brasileiras interessadas em desenvolver um chip, que chega ao mercado em dois ou três anos", contou Ada, que quer unir universidades e empresas da cadeia de produção. O banco também tem um projeto baseado em consórcios de Arranjos Produtivos Locais que associa artesanato com tecnologias. (HL)

Por se tratar de Banco, instituição que mais explora o cidadão comum, naturalmente a desconfiança é fato. Agora é fato também que esses Bancos: exploradores, mentirosos, ladrões... Vão cair assim como as ditaduras no oriente médio caíram! Na sociedade em rede que emergi, existe uma REDE GLOBAL de pessoas e organizações, que vem redesenhando (tecendo) as estruturas do MERCADO TRADICIONAL, com propósitos de torná-lo mais justo, inovador, transparente, abundante e sustentável. Acredito que o Banco Colaborativista é mais um nodo dessa Rede que busca o BEM COMUM sobre as praticas do MERCADO. Os bancos tradicionais vão ter que se adaptar a essa necessidade ou cairão. E os bancos novos, já devem nascer com novos e bons princípios que a sociedade em rede vem fortalecendo. Caso contrario, tb cairá! Dentro dessa analise, vejo que é mais fácil o novo, nascer com a nova e necessária filosofia de Mercado. "Quando a criação do novo está em jogo, resignar-se ao provável e ao exeqüível é condenar-se ao passado e à repetição. No universo das relações humanas, o futuro responde à força e à ousadia do nosso querer. A capacidade de sonho fecunda o real, reembaralha as cartas do provável e subverte as fronteiras do possível. Os sonhos secretam o futuro."
Eduardo Giannetti


Exercícios mentais ajudam na solução de problemas diários

Exercícios mentais ajudam na solução de problemas diários
O "conhecimento perceptual" permite ao cérebro entender questões abstratas

BENEDICT CAREY
The New York Times

NOVA YORK, EUA. Durante anos, os currículos escolares enfatizaram a instrução de cima para baixo, principalmente em matérias como matemática e ciência. Aprenda as regras primeiro - teoremas, ordem das operações, leis de Newton - e depois resolva a lista de problemas no fim do capítulo.

Entretanto, pesquisas recentes constataram que os verdadeiros especialistas têm algo tão valioso quanto dominar as regras: o instinto, uma percepção instantânea do tipo de problema que devem resolver. Como o goleiro de futebol que consegue "ler" os chutes com antecedência ou o mestre de xadrez que "vê" a melhor jogada, eles desenvolveram o olhar.

Agora, um pequeno grupo de cientistas cognitivos argumenta que escolas e alunos poderiam tirar muito mais proveito dessa habilidade "de baixo para cima", chamada aprendizado perceptual. Afinal, o cérebro é uma máquina identificadora de padrões que, quando está concentrada adequadamente, pode aprofundar a compreensão que a pessoa tem de um princípio, segundo apontam novos estudos. A melhor parte é que o conhecimento perceptual é formado automaticamente.

Não existe motivo para alguém com olho bom para moda ou jogos com palavras não poder desenvolver uma intuição para classificar rochas, mamíferos ou equação de álgebra, se houver um mínimo de interesse ou motivação. "Quando enfrentamos problemas na vida real, a primeira pergunta sempre é: ‘O que estou vendo? Que tipo de problema é esse?’", disse Philip J. Kellman, psicólogo da Universidade da Califórnia. "Qualquer teoria sobre como aprendemos pressupõe conhecimento perceptual, ou seja, que sabemos quais fatos são relevantes e o que procurar", diz.

Kellman completa que o desafio para a educação é descobrir "o que precisamos fazer para que isso ocorra de forma eficiente".

Padrão. Há muito tempo, os cientistas sabem que o cérebro registra padrões sutis de forma subconsciente, bem antes de a pessoa perceber que está aprendendo.

Num experimento famoso de 1997, pesquisadores da Universidade de Iowa descobriram que pessoas participando de um jogo de apostas simples com baralhos de cartas relataram "gostar" de alguns baralhos mais do que outros muito antes de perceberem que alguns deles causavam grandes perdas. Alguns participantes perceberam as diferenças entre os baralhos após apenas dez cartas.

Os carteadores especialistas desenvolvem esse tipo de "radar perceptual sensível" da forma antiga, é claro, através de anos de estudo e prática. Ao mesmo tempo, existem evidências crescentes de que certo tipo de treinamento - visual, acelerado, focado em classificar problemas em vez de resolvê-los - pode rapidamente formar uma intuição.

Numa experiência recente, por exemplo, os pesquisadores descobriram que as pessoas eram melhores para distinguir os estilos de pintura de 12 artistas desconhecidos depois de verem coleções misturadas de obras de todos eles do que quando viam uma dezena de obras do mesmo artista e só depois passarem para o pintor seguinte. O cérebro dos participantes começou a captar as diferenças antes de eles conseguirem expressá-las.

"Assim que o cérebro tem um objetivo em mente, ele liga o sistema perceptual para pesquisar o ambiente" atrás de pistas relevantes, disse Steven Sloman, cientista cognitivo da Universidade Brown. Com o tempo, olhos, ouvidos e nariz aprendem a isolar tais sinais e descartar a informação irrelevante, em contrapartida, aguçando o raciocínio.
APLICAÇÃO
Intuição pode ser estimulada
Nova York. Os atalhos sutis são o centro da intuição perceptual. Com prática, os neurônios no córtex visual se especializam em identificar padrões típicos. Encontrá-los libera recursos mentais para o raciocínio dedutivo, para conferir respostas ou passar a novos problemas.

Essa intuição perceptual não é trapaça – é o que os grandes especialistas fazem. No caso de gráficos e equações, ela inclui a realização de julgamentos rápidos sobre onde as linhas deveriam interceptar os eixos e sobre sua inclinação, mesmo quando isso não é tão óbvio.

Técnica. Superficialmente, pelo menos, pode lembrar as abordagens adotadas pelos cursos pré-vestibulares, que empregam estratégias para se ganhar tempo e palpites fundamentados. Contudo, segundo os pesquisadores, existe uma diferença. Os cursinhos ensinam a fazer a prova, mas as ferramentas do treinamento perceptual visam a habilidades subjacentes – manipular frações, equações gráficas. Ou seja, não é o quanto você se sai bem, mas o quanto você aprende bem.

Idealmente, o treinamento perceptual faz mais do que injetar vida em princípios abstratos, da mesma forma que consertar motores cria uma experiência vívida da mecânica da combustão interna. Ele também prepara os alunos para aplicarem os princípios em outros contextos. Essa capacidade de transferir, como é conhecida, é fundamental para o raciocínio científico e é um dos maiores objetivos de professores de todos os níveis. (BC/NYT)
Como melhorar a percepção das coisas
Estimule a memória: Faça atividades diárias como jogar xadrez e outra tarefas simples como recordar fatos do dia a dia (o que comeu no almoço, por exemplo).

Cultive a atenção: Separe os fatos mais importantes dos que ocorreram durante o dia e procure guardá-los.

Pratique exercícios mnemônicos: Associe fatos a imagens e procure guardá-los na memória. Pense, por exemplo, em um alimento e imagine todas as suas características a ponto de sentir prazer.

Hidrate-se: A falta de água no corpo tem um efeito direto e profundo sobre a memória; a desidratação pode levar à confusão do pensamento.

Relaxe: A tensão e a ansiedade prejudicam a memória e a capacidade de se concentrar em algo.

Faça atividade física: Uma simples caminhada diária é o suficiente para deixar a mente mais atenta.

Durma bem:O repouso cerebral é muito importante para se ter uma boa memória. Quem sofre de insônia tem o raciocínio prejudicado.
TREINAMENTO
Conhecimento. Cientistas argumentam que os alunos podem aprender melhor ao usarem habilidades perceptuais
Percepção correta reforça a persistência
NOVA YORK. Bons professores de todos os níveis de ensino já têm técnicas próprias para acelerar o processo de aprendizado através de situações perceptuais – cartões de multiplicação, dicas para resolver problemas com palavras, rimas heurísticas.

Mesmo assim, cientistas trabalham para sintonizar os olhos dos alunos de forma mais sistemática e construir a compreensão de conceitos muito abstratos. Esse é o caso das frações. A maioria dos alunos norte-americanos a partir da 6ª série, apesar de entender o que as frações representam, não se sai tão bem quando é testada sua habilidade de transformar uma fração em outra através de adição ou subtração.

Exemplo. Em um estudo de 2010, pesquisadores das universidades da Califórnia e Pensilvânia fizeram alunos da 6ª série usarem um programa de treinamento da percepção em um computador. No experimento, uma fração aparecia como um bloco. Os estudantes tinham que fatiar os blocos em frações específicas – por exemplo, dividir o bloco em quatro pedaços e separar três pra demonstrar 3/4. Depois, eles tinham que reconstruir um novo bloco correspondente a uma fração diferente – dividir um bloco igual e agregar mais peças para formar 7/4. De um semestre para o outro, muitos alunos conseguiram melhorar seu desempenho.

"Em vez de desistirem quando uma conta não dá certo, os alunos são forçados a tentar o que faz sentido para eles e continuar tentando", disse Joe Wise, professora de física. "O cérebro é muito bom para classificar padrões se você der a ele a chance e o retorno adequados", concluiu.(BC/NYT)

Cientistas acham forma de mapear o cérebro

Cientistas acham forma de mapear o cérebro


Londres, Reino Unido. Cientistas anunciaram ter dado mais um passo para desenvolver um modelo computadorizado do cérebro depois de terem encontrado, pela primeira vez, uma maneira de mapear conjuntamente as conexões e as funções das células nervosas do órgão.

Pesquisadores do University College London descreveram uma técnica desenvolvida num camundongo que os possibilitou combinar informações sobre funções dos neurônios com detalhes das suas conexões. O estudo é parte de uma área emergente da neurociência chamada "conectomia", que busca mapear as conexões do cérebro. Ao poderem mapear essas conexões, cientistas esperam entender como pensamentos e percepções são gerados e como essas funções deixam de operar e resultam em doenças como Alzheimer e derrames.

"Estamos começando a desvendar a complexidade do cérebro", afirmou Tom Mrsic-Flogel, que liderou o estudo. "Quando compreendermos a função e a conectividade das células nervosas nas diferentes camadas do cérebro, podemos começar a desenvolver uma simulação computadorizada de como esse notável órgão funciona", explicou.

Mas ele disse que ainda levará muitos anos de trabalho científico e grande poder de processamento antes que isso possa ser feito.


Teste detecta Alzheimer antes mesmo de sintomas

Teste detecta Alzheimer antes mesmo de sintomas
Ingleses anunciam forma de verificar se pessoa vai, no futuro, desenvolver doença

Londres, Reino Unido. Cientistas britânicos dizem ter encontrado uma maneira de diagnosticar o mal de Alzheimer anos antes dos primeiros sintomas.
Um exame de punção lombar combinado a uma ressonância magnética do cérebro poderiam identificar pacientes com os primeiros sinais de demência, segundo os pesquisadores.
Atualmente não há cura ou um exame único para detectar a doença, que afeta mais de 20 milhões de pessoas ao redor do mundo. Frequentemente, a demência só é diagnosticada quando já está em estágio mais avançado. Os cientistas esperam que um diagnóstico precoce possa ser usado para selecionar pacientes para testar novos remédios e tratamentos contra a doença.
Encolhimento. Jonathan Schott e a equipe do Instituto de Neurologia da University College London desenvolveram um método que permitiria fazer o diagnóstico nos primeiros estágios da Síndrome de Alzheimer, o tipo mais comum de demência. Os exames checam duas coisas: o encolhimento do cérebro e a presença de níveis baixos de uma proteína, a amiloide, no líquido cérebro-espinhal.
Especialistas já sabem que em pacientes afetados pela síndrome há perda de volume no cérebro e um acúmulo incomum de amiloide no cérebro, o que significa menos amiloide no líquido cérebro-espinhal.
A equipe de cientistas decidiu então fazer os exames de punção lombar e ressonância do cérebro em 105 voluntários saudáveis.
Os resultados revelaram que os cérebros dos indivíduos com baixos níveis de amiloide no líquido cérebro-espinhal (38%) encolhiam duas vezes mais rápido que os cérebros dos demais.
Eles também tinham cinco vezes mais chances de possuir o gene de risco e de ter níveis altos de outra proteína, que costuma ser associada a Alzheimer.


Atualmente, não há cura ou um exame único para detectar a doença de Alzheimer

cidades europeias tentam criar paraiso para pedestres

Maioria das vias do continente surgiu antes da invenção do automóvel


THE NEW YORK TIMES



Conscientização. O bonde é muito usado em Zurique, cidade que vem dificultando o uso dos carros em favor das bicicletas e do transporte público


Zurique, Suíça. Enquanto cidades brasileiras e norte-americanas estão sincronizando as luzes verdes dos semáforos para melhorar o fluxo do trânsito, abrindo vias exclusivas para ônibus e construindo estacionamentos subterrâneos, muitas cidades europeias estão indo na contramão dessa ideia. Muitos municípios estão criando ambientes abertamente hostis para os carros. Os métodos variam, mas a missão é clara - encarecer e dificultar o uso dos veículos para pressionar os motoristas a utilizarem meios de transporte mais ambientalmente corretos.

Grandes cidades como Viena (Áustria), Munique (Alemanha) e Copenhague (Dinamarca) fecharam grandes trechos de ruas para os carros. Barcelona (Espanha) e Paris (França) tiveram pistas de carros substituídas por programas populares de ciclovias. Motoristas de Londres (Reino Unido) e Estocolmo (Suécia) cobram taxas de congestionamento para se entrar na região central da cidade.

E nos últimos dois anos, dezenas de cidades alemãs se juntaram a uma rede nacional de "zonas ambientais", onde apenas carros com baixas emissões de dióxido de carbono podem entrar.
Cidades com pensamento semelhante receberam com agrado novos shopping centers e prédios de apartamentos, mas restringiram severamente o número de vagas de estacionamento disponíveis nas ruas.

"Nos últimos anos, até ex-capitais automotivas, como Munique, evoluíram para ‘paraísos dos pedestres’", disse Lee Schipper, engenheiro pesquisador da Universidade Stanford que é especialista em transporte sustentável.

Tendência. "Nos Estados Unidos, existe uma tendência muito maior de adaptar as cidades para acomodar o tráfego", explicou Peder Jensen, chefe do Grupo de Energia e Transporte da Agência Ambiental Europeia. "Aqui (na Europa), porém, existe um movimento para tornar as cidades mais habitáveis para as pessoas e relativamente livres de carros", continua o especialista.

Para isso, o Departamento de Planejamento de Trânsito de Zurique vem trabalhando para atormentar a vida dos motoristas. Semáforos que ficam pouco tempo com a luz verde foram instalados nas vias de acesso à cidade, provocando atrasos e raiva em quem tem que dirigir até o trabalho. As passagens subterrâneas para pedestres, que permitiam o trânsito fluir livremente nos grandes cruzamentos, foram removidas.

Os operadores dos bondes da cidade, cujos vagões e trilhos estão em ampla expansão pelas ruas, podem acionar os sinais vermelhos dos semáforos em seu favor enquanto se aproximam de cruzamentos, forçando os carros a pararem.

Tartarugas Próximo à Lovernplatz, uma das praças mais movimentadas de Zurique, os carros estão proibidos em vários quarteirões.

Nos lugares onde eles são permitidos, a velocidade foi limitada a um "passo de tartaruga" para que as faixas de pedestres e os sinais de travessia fossem retirados completamente, dando às pessoas a pé o direito de atravessar em qualquer lugar, em qualquer momento.

Em pé, parado e vendo carros se movendo lentamente próximos a um grande número de bicicletas e pedestres, o chefe de planejamento de trânsito Andy Fellman sorria. "Dirigir é uma experiência de parar e arrancar", disse ele. "É disso que gostamos! Nosso objetivo é reconquistar o espaço público para os pedestres, em vez facilitar para os motoristas".

Traduzido por André Luiz Araújo


BOLSO
Gasolina cara é outra forma de pressão
ZURIQUE. Apesar de algumas cidades de todo o mundo estarem realizando medidas para reduzir o fluxo de veículos automotores, expandindo ciclovias e "pedestrializando" alguns trechos de ruas, isso ainda é raro fora da Europa.


As cidades europeias geralmente têm incentivos mais fortes para agirem. Como a maioria foi construída antes do advento dos carros, suas ruas estreitas são ruins para o trânsito pesado. O transporte público normalmente é melhor na Europa do que nos EUA ou Brasil, e a gasolina custa, em média, R$ 3,36 por litro – mais caro do que no resto do mundo. Isso contribuiu para a elevação dos custos de deslocamento por carro.


Metas. Além disso, os países da União Europeia provavelmente não conseguirão cumprir as reduções das emissões de dióxido de carbono acordadas no Protocolo de Kyoto se não reduzirem o número de carros nas ruas. Os Estados Unidos nunca ratificaram esse pacto.


Em todo o mundo, as emissões relacionadas ao transporte continuam subindo sem parar, sendo que metade delas vem dos carros particulares. Entretanto, um impulso importante por trás das reformas do trânsito na Europa é bem familiar a prefeitos em qualquer lugar: tornar as cidades mais convidativas, com ar mais limpo e menos trânsito.


Michael Kodransky, gerente do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento de Nova York, destaca que, "anteriormente, a Europa estava no mesmo caminho dos EUA, com mais pessoas querendo possuir mais carros próprios". Mas, na última década, "houve uma mudança consciente no pensamento e políticas mais firmes. Isso está gerando um efeito", disse ele. (ER/NYT)
FOTO: CHRISTOPH BANGERT/THE NEWYOR
Limmatquai, em Zurique, hoje é uma zona apenas para pedestres, mas tinha congestionamentos todo dia

PREDOMÍNIO
Carro ocupa 38 vezes mais espaço do que uma pessoa
ZURIQUE. Urbanistas geralmente concordam que um aumento no uso de carros particulares para deslocamento não é desejável para nenhuma cidade do mundo. Andy Fellmann, chefe de planejamento de trânsito, calcula que uma pessoa usando um carro ocupe 115 m³ de espaço urbano, enquanto um pedestre ocupe apenas 3 m³. "Não é justo para as outras pessoas o uso do carro", disse ele.

E para cumprir as rígidas diretrizes de poluição por partículas finas estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde, muitas cidades europeias concluíram que, para as pessoas largarem seus carros, medidas extremas são necessárias. Muitos municípios estão investindo em um bom transporte público. Outra estratégia recente na Europa é a elevação dos preços dos estacionamentos rotativos. (ER/NYT)

Desigualdade continua

Ne escola. Abandono e repetência afetam mais estudante negros do que os brancos

Rio. O Relatório Anual das Desigualdades Sociais 2009-2010, divulgado ontem, aponta que a esperança de vida da população negra segue inferior à da população branca. O estudo foi feito pelo Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (Laeser), instituto ligado ao Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE-UFRJ).  

Entre a população preta e parda, a expectativa de vida, em 2008, era de 67,03 anos. Entre a parcela de cor branca, a perspectiva era de 73,13 anos. Na média de toda a população brasileira, a esperança de vida era de 70,94 anos. 

Entre os homens pretos e pardos, o indicador não passou de 66,74 anos. No contingente masculino da população branca, a expectativa alcançou 72,39 anos. 

No estudo com as mulheres, a esperança de vida entre pretas e pardas foi de 70,94 anos, abaixo dos 74,57 anos estimados para a parcela feminina da população branca. 

A taxa de fecundidade das mulheres negras caiu mais do que as das brancas, mas ainda é maior, segundo o relatório.

Quase 30% das mulheres negras em idade fértil fizeram laqueaduras; as brancas, 21,7%; mulheres negras têm menor acesso aos exames ginecológicos preventivos: 37,5% nunca fizeram exame de mamas (brancas, 22,9%); Taxa de não cobertura ao sistema de saúde chega a quase 27% nos negros (brancos, no entorno de 14%); 

A pesquisa revela ainda que negros são os mais beneficiados pelo Programa Bolsa-Família. Uma em cada quatro famílias chefiadas por afrodescendentes recebia o PBF (brancos, 9,8%).

Educação. A taxa de analfabetismo entre os negros é maior do que o dobro entre a população branca, também aponta o estudo. Dos 6,8 milhões de analfabetos em todo o país que frequentam ou tinham frequentado a escola entre 2009 e 2010, 71,6% são pretos e pardos.

O relatório aponta também que jovens afrodescendentes são mais expostos ao abandono escolar e à frequência à escola em idade superior à desejada. Em 2008, das crianças entre 6 e 10 anos, 45,4% não estudava na série adequada. Entre os brancos este percentual era de 40,4%, e entre os pretos e pardos, alcançava quase metade do contingente.

Entre as crianças de 11 e 14 anos, o problema de repetência e abandono se torna ainda pior, pois 55,3% não estudavam na série correta. Entre os jovens brancos este percentual era de 45,7%. Entre os jovens pretos e pardos chegava a 62,3%. 

O estudo aponta que nos últimos 20 anos também houve avanços. A média de anos de estudos das pessoas pretas e pardas acima de 15 anos passou de 3,6 anos de estudo, em 1988, para 6,5, em 2008. Entre os brancos, a taxa subiu de 5,2 para 8,3 anos de estudo.

VIOLÊNCIA
Número de homicídios de negros sobe
Rio. Apesar de o número de homicídios no país permanecer estável nos últimos anos, o número de negros assassinados não para de subir, revela o Relatório Anual das Desigualdades Sociais, divulgado ontem no Rio.

A probabilidade de um homem preto ou pardo morrer assassinado é mais do que o dobro se comparado a de um indivíduo que se declara branco.

Enquanto os homicídios entre homens brancos vêm caindo ao longo dos últimos anos, o movimento entre negros e pardos é inverso.

Em 2001, homens pretos ou pardos representavam 53,5% do total. Ao mesmo tempo, os brancos significavam 38,5%.

Já em 2007, do total de homicídios registrados, 64,09% eram de negros. Já a proporção de brancos recuou para 29,24%. Entre as mulheres, a razão de mortalidade das pretas ou pardas era 41,3% superior à observada entre as mulheres brancas, segundo dados de 2007.

O estudo, desenvolvido pela UFRJ, foi feito a partir de dados do Ministério da Saúde e da Pnad (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios).