segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Águas-vivas podem revolucionar tecnologia de submarinos, diz estudo

"Nossas pesquisas mostram que as medusas e as lampreias aspiram a água para poder ir pra frente em vez de empurrar contra a água que fica para trás, como imaginávamos", disse John Dabiri


INTERESSA
Já se sabia que as águas-vivas e as lampreias eram capazes de mover-se rapidamente sem gastar muita energia, mas não se sabia a razão
 

Na era do toque na tela, mente já controla coisas

Cérebro substitui controle remoto de brinquedos e combina a leitura de movimentos oculares para auxiliar pessoas que sofrem de paralisia a usar computadores


Usar um leve toque de dedos para controlar qualquer objeto parecia até há pouco tempo algo impensável a qualquer geração. Agora, com a internet comandando as nossas vidas, temos qualquer tela ao nosso alcance. A próxima barreira, no entanto, é controlar a tecnologia sem uso das mãos, usando o poder do cérebro para acionar telas e outros equipamentos, como computadores, próteses, robôs e utensílios domésticos. E isso tudo pode ser realidade em até dez anos.

BrainDriver
No projeto BrainDriver, pesquisadores alemães demonstraram como um motorista pode usar interfaces homem-máquina não invasivas para dirigir um veículo usando apenas os pensamentos para controlar o motor, os freios e a direção
 

A previsão é de uma pesquisa recente realizada pelo Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) com mais de 3.000 pessoas. Além da diminuição da importância dos smartphones, os resultados mostram ainda que a mente humana será a tecnologia de escolha para controle de dispositivos na vida cotidiana em 2025, e que as pessoas já estão dispostas a usar o cérebro como meio de controle para abrir portas, usar utensílios na cozinha, acionar dispositivos móveis e de telefonia celular e controlar as luzes de casa.
O professor de engenharia elétrica da Universidade Estadual de Michigan, nos Estados Unidos, Dean Aslam, criou um boné equipado com um sistema que detecta a atividade cerebral e permite, a qualquer pessoa, comandar um robô usando a força do pensamento. A tecnologia do projeto, que consegue incorporar o sensor de controle da mente em roupas, já está sendo ampliada a casos voltados para a saúde, objetos pessoais e casas inteligentes. “Alguns sistemas estarão disponíveis até 2020 ou antes disso. O grande desafio é desenvolver interfaces cérebro-máquina que são confortáveis de usar”, adianta o professor.
 
 

Suprindo deficiências

A difusão de vídeos de amputados ganhando novamente o controle sobre membros artificiais, através da aplicação dessas ferramentas no cenário da neurociência, fez com que projetos semelhantes se espalhassem. Com isso, inúmeras facetas da pesquisa vêm ganhando impulsos cada vez mais avançados, como o projeto do engenheiro biomédico Jordan Nguyen. 
 
Junto a pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Sydney, na Austrália, ele trabalha com projetos de tecnologia inteligente para a deficiência. Seu mais recente trabalho é uma cadeira de rodas comandada pela mente. “Nós ainda estamos aprendendo a compreender o verdadeiro poder e o potencial do cérebro humano. Mas nós precisamos ter certeza de que estamos fazendo isso para o avanço e benefício da sociedade”, afirma.
 
Na avaliação do membro sênior do IEEE, Raul Colcher, apesar de atualmente essa possibilidade já existir em algumas áreas, principalmente no âmbito de sistemas médicos (para contornar ou minorar deficiências físicas), essa área científico-tecnológica ainda apresenta obstáculos importantes. 
 
“Creio que o desafio consiste em aperfeiçoar tradutores e mecanismos menos invasivos, barateando e tornando as soluções mais seguras, convenientes e vantajosas. O universo de possibilidades é ilimitado e, a curto prazo, creio que isso virá com avanços na área de neurociência, mas também em outras, como, por exemplo, a eletrônica, nanociência e ciência de materiais”, projeta Raul Colcher.
 
 

Aceitação

Por enquanto, os brasileiros ainda desconfiam do controle mental. “Essa diferença provavelmente se atribui ao fato de que, no Brasil, a ideia ainda é considerada longe de ser uma realidade, diferente dos Estados Unidos” afirma Colcher. Talvez por isso, resultados discretos como o do exoesqueleto-robô que foi usado para que um voluntário paraplégico desse um “chute simbólico” na abertura da Copa do Mundo do Brasil, sigam sem maiores impactos. 
 
 

Cérebro substitui controle remoto de brinquedos

Com um olhar atento para o futuro, para novas tecnologias e tendências, uma agência de publicidade de São Paulo desenvolve projetos que usam a “Internet das Coisas” (Internet of Things – IoT, em inglês) como premissa. A novidade, que agrada crianças e adultos, é um brinquedo com carrinhos movidos usando a força do pensamento no lugar dos tradicionais controles remotos.
 
“Trabalhamos dois pontos de contato: os batimentos cardíacos e um ponto central na testa que capta as faixas de onda de atividade cerebral. No projeto usamos basicamente a atenção e as piscadas. Quanto mais concentrada, mais a pessoa irá conseguir converter em energia para o carrinho andar mais rápido”, explica o sócio-fundador da Bolha, Nagib Nassif Filho.
 
Para o empresário, o barateamento das tecnologias foi crucial. “Até cinco anos atrás, só existiam aparelhos para medir a atividade cerebral em hospitais. Agora já conseguimos chegar à casa das pessoas. É um caminho sem volta”, diz.
 
O italiano Riccardo Giraldi, que também criou brinquedo semelhante, faz planos. “No futuro, essa passará a ser a maneira mais conveniente de interagir com as informações e o mundo que nos rodeia”.

Cura para o câncer pode ter sido descoberta acidentalmente

Estudo buscava vacina contra a malária em mulheres grávidas e proteína que combate células cancerígenas foi identificada por acaso


Cura do câncer pode ter sido descoberta acidentalmente
Cura do câncer pode ter sido descoberta acidentalmente
 
Cientistas da Universidade de Copenhagen, na Dinamarca, realizavam um estudo para buscar a  eficácia de uma vacina contra a malária em mulheres grávidas. Porém, para a surpresa dos estudiosos, os resultados apontaram que determinada proteína da malária pode, na verdade, combater células cancerígenas.
Segundo os cientistas, quando mulheres grávidas são infectadas com a malária, a placenta pode ser atacada, prejudicando também o feto. Assim, há algum tempo eram buscadas semelhanças entre tumores e a placenta, dado seu padrão de crescimento, mas só agora foi possível revelar que a proteína da malária conecta-se ao mesmo carboidrato em ambos os tecidos.
Ali Salandi, da Universidade de Copenhagen, explicou que a placenta é um órgão, que em alguns meses cresce a partir de poucas células em um órgão que pesa cerca de um quilo, e provê ao embrião oxigênio e alimentação em um ambiente relativamente estranho. Ele ressalta que, de certa forma, tumores fazem o mesmo. Eles crescem agressivamente em um ambiente estranho.  Com isso, os pesquisadores se deram conta de que essa proteína criada pode também atacar as células do câncer, o que seria um grande passo rumo à cura da doença.

O estudo publicado no "Cancer Cell" apresentou testes realizados em camundongos portadores de câncer e apresentaram tais resultados. Os cientistas esperam que em até 4 anos realizar testes em humanos, mas já avisam que o resultado pode ser um tiro pela culatra, pois há chances de que o organismo humano não consiga processar a quantidade de proteína de malária necessária para curar um câncer.
Agora resta aguardar e torcer para que tudo saia como o esperado e várias vidas sejam salvas e não se interrompam por esta doença que tanto assusta nos dias de hoje.

Cientista diz ter criado minicérebro humano

Com o tamanho de uma ervilha, órgão não é capaz de “pensar”


Washington, EUA. Cientistas americanos conseguiram fazer crescer em um laboratório uma versão quase completa de um pequeno cérebro humano, algo que – segundo eles alegam – pode representar um avanço crucial para o tratamento de doenças neurológicas.

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Imagem mostra estrutura criada em laboratório

Rene Anand, professor da Universidade Estadual de Ohio, nos Estados Unidos, conseguiu fazer crescer um cérebro com uma maturidade similar a de um feto de cinco semanas, informou a universidade.
“Não apenas se parece com um cérebro em desenvolvimento, mas seus diversos tipos de células expressam quase todos os genes como um cérebro humano”, disse Anand.
Com o tamanho de uma ervilha, o órgão inclui múltiplos tipos de células, todas as principais regiões do cérebro e uma medula espinhal, mas carece ainda de um sistema vascular, explicou a universidade. Portanto, o pequeno cérebro ainda não “pensa” e não tem estímulos sensoriais.
O órgão artificial foi desenvolvido a partir de um conjunto de células de pele humana e, segundo os cientistas, é o órgão de seu tipo mais completo conhecido até agora.
Anand apresentou seu trabalho no dia de ontem durante um evento militar sobre saúde na Flórida.
Em geral, os avanços científicos importantes são divulgados, na realidade, em publicações especializadas, após avaliações de comitês independentes.
Anand e um colega fundaram uma empresa em Ohio, no Centro-Leste dos Estados Unidos, para comercializar o sistema de crescimento cerebral, segundo a universidade.

Reconstruções digitais: uma nova forma de fazer neurociência

Um dos autores principais da pesquisa Blue Brain Project, que pretende recriar um cérebro humano em ambiente digital


RAQUEL SODRÉ
Cientista indiano é um dos programadores que elaboraram o algoritmo – espécie de fórmula – do “cérebro digital”. Ele falou a sobre a importância da conquista, os desafios que a equipe ainda enfrentará e como a inteligência artificial deve ser abordada.
O indiano Srikanth Ramaswamy é formado em engenharia elétrica pelo Instituto Nacional de Engenharia, em seu país natal. Mas sua paixão foi cair mesmo nas neurociências. Em 2006, ele se juntou ao time do professor Henry Markram no Blue Brain Project para realizar as pesquisas de seu doutorado. Sua função é modelar as conexões sinápticas entre os neurônios e validar o modelo com dados experimentais. Junto com o professor Markram, ele respondeu às perguntas de O TEMPO sobre o projeto, que está sendo visto como uma nova fronteira da ciência moderna.
Por que é tão importante recriar o cérebro? Há várias maneiras de responder a essa questão. A primeira delas é que o processo de construção da recriação é enormemente informativo. A única forma de construir um modelo compreensível a partir de dados esparsos é explorar as interdependências presentes nos dados experimentais. Reconhecer essas interdependências é um passo imenso na direção do entendimento. Além disso, discrepâncias entre a reconstrução e os dados experimentais fornecem outras ideias – ressaltando erros na reconstrução, mas também nos próprios dados experimentais.

E as demais possibilidades de resposta, quais são? As reconstruções e as simulações digitais fornecem uma nova forma de fazer neurociência. Uma vez estabelecido que a simulação pode fornecer respostas confiáveis para uma classe específica de perguntas científicas, os pesquisadores podem explorar essas perguntas usando a simulação antes de partirem para os testes em animais ou em tecidos biológicos. Isso lhes permite fazer experimentos de forma muito mais rápida e a um custo muito mais baixo do que seria possível com métodos alternativos. Além disso, nos experimentos “in silico” (no silício, ou seja, em ambiente digital), ao contrário dos experimentos biológicos, os pesquisadores podem estimular, manipular e medir cada aspecto do sistema que eles estão estudando e repetir os experimentos quantas vezes quiserem. Isso torna possível realizar estudos que não seriam factíveis em laboratório.
O senhor acredita que, entendendo a fisiologia do cérebro, conseguiremos compreender também a mente das pessoas? A personalidade é o que distingue uma pessoa da outra. O que estamos estudando no momento é a biologia, que todos os cérebros têm em comum. Mas, é claro, quando a biologia tem alguma falha – como nas doenças, por exemplo –, ela pode afetar profundamente a personalidade. Contudo, no momento, isso é bem prematuro, pois estamos estudando o cérebro de ratos, e não de humanos.
Quão longe o senhor acredita estarmos de criar um cérebro humano completo? Se nos ativermos ao nosso nível de detalhamento, devemos ter um rascunho de reconstrução do cérebro de um rato nos próximos anos. Mas, evidentemente, nosso nível de detalhamento está muito longe de estar completo. Por exemplo, nós ainda não modelamos a plasticidade do cérebro, a glia (célula cerebral provavelmente envolvida na ligação de áreas diferentes do órgão), a neuromodulação e o metabolismo. Nós temos planos de fazer isso, mas levará um tempo considerável.
O físico Stephen Hawking tem sido muito crítico com a forma como estamos tratando a inteligência artificial. O senhor acredita que estamos preparados para ter um cérebro eletrônico totalmente funcional? A inteligência artificial é uma ferramenta para a qual os humanos estabelecem as metas. Ela não tem metas próprias. Dito isso, os humanos podem causar muitos danos de posse de ferramentas. Qualquer tecnologia é perigosa. Nós precisamos de um debate social sobre isso. Ainda temos um caminho longo pela frente até alcançarmos um cérebro eletrônico completo. Por ora, algumas tecnologias, como a aprendizagem profunda, parecem ser mais relevantes para essa pergunta do que o nosso trabalho.
Vocês recriaram uma versão digital do neocórtex. Por que essa parte do cérebro é tão importante ao ponto de ter sido a primeira a receber sua réplica digital? Na verdade, o que nós fizemos foi reconstruir uma pequena parte do córtex somatossensorial (região do neocórtex). Escolhemos essa área porque ela já foi extensamente estudada por nós e por outros cientistas, e nós usamos os dados desses estudos tanto para construir o modelo como para validar sua precisão. Sobre as demais regiões do cérebro, nós já estamos trabalhando para fazer reconstruções digitais de todo o córtex somatossensorial (reconstruções em escala maior do que nossa reconstrução atual do microcircuito neural), do hipocampo, do cerebelo e do cérebro inteiro.
E-G
Qual é o próximo passo do projeto e quando ele ficará pronto? Nosso objetivo é escalar nossas reconstruções para cobrir regiões cerebrais inteiras, depois o cérebro inteiro de roedores e, por fim, o cérebro humano. Mas, antes de conquistarmos isso, ainda há muitos desafios à frente. Precisaremos de novas ferramentas – para, por exemplo, modelar partes do cérebro fora do córtex –, mais capacidade de computação, mais dados e mais algoritmos. Estamos fazendo progressos em todas essas áreas. As ferramentas, provavelmente, não serão um impedimento muito grande – há muito a ser feito, mas não enxergamos nenhuma barreira intransponível. O mesmo vale para a capacidade de computação de dados.
O supercomputador nós já possuímos – e os outros supercomputadores que podemos acessar por meio do Human Brain Projetct (projeto que pretende criar chips com características semelhantes às do cérebro) são poderosos o suficiente para simular um cérebro de rato completo no nosso nível de detalhamento atual. Os computadores em “exaescalas” maiores de que necessitaremos para simular o cérebro humano já estão na linha do horizonte.
“Ainda temos um caminho longo a percorrer até alcançarmos um cérebro eletrônico completo.”
“Antes de conquistarmos isso, há muitos desafios à frente, mas não enxergamos nenhuma barreira intransponível.”

Ciência esbarra no tempo na luta contra o envelhecimento

"Não acredito que seja ainda neste século que vamos desenvolver um elixir da juventude, pois as variáveis são inúmeras", diz nutróloga


envelhecimento


Ser jovem para sempre parece ser um desejo íntimo de todo ser humano. E a ciência corre atrás: pesquisa após pesquisa, estudiosos vêm tentando descobrir como prolongar nosso tempo de vida sobre a Terra. 
 
No mais recente trabalho sobre o assunto, publicado em julho deste ano no periódico “Molecular Cell”, o professor de biociência molecular Richard Morimoto, autor da pesquisa e professor da Universidade Northwestern, dos Estados Unidos, conseguiu paralisar o envelhecimento em vermes microscópicos da espécie C. elegans. 
 
Ele percebeu que as células do C. elegans sofrem um declínio significativo depois que atingem sua maturidade reprodutiva. “Vimos uma queda dramática da resposta de proteção ao choque térmico no início da vida adulta”, comenta Morimoto. Sem essa proteção, as células começam a morrer. Restabelecer essa proteção, portanto, seria a melhor forma de manter esses organismos vivos e jovens. 
 
Pesquisadores espanhóis foram por outro caminho. O grupo, da Universidade de Oviedo, estudava um medicamento para tratar doenças raras associadas ao envelhecimento prematuro. Eles introduziram em ratos de laboratório duas moléculas experimentais que bloquearam a ação de uma proteína capaz de inibir a formação de células-tronco. 
 
O resultado surpreendeu até os próprios cientistas: além de aliviar os sintomas das doenças, o medicamento ainda rejuvenesceu as células do organismo das cobaias. “Demonstramos que a inibição (do marcador) DOT1L in vivo aumenta o tempo de vida e melhora o fenótipo de envelhecimento em ratos”, declaram os pesquisadores no texto da pesquisa. Os ratos que receberam as moléculas viveram 65% mais. Se a experiência mostrar os mesmos resultados em humanos, nossa expectativa de vida poderia ir para 135 anos, aproximadamente. 
 
Na Rússia, outro grupo de cientistas tenta uma terceira abordagem. Cientistas da Universidade Estadual de Moscou estão desenvolvendo um novo antioxidante para agir sobre as mitocôndrias celulares. “Elas são as culpadas pelos ataques no coração e por doenças como o Alzheimer e o Parkinson. Se as doenças passarem a se desenvolver mais lentamente, então nossa ideia para combater o envelhecimento através das mitocôndrias está correta”, prevê Maxim Skulachev, coordenador da pesquisa. 
 
 

Vamos ter que esperar

As pesquisas são promissoras. Mas não para as pessoas da nossa geração. O médico Luiz Vicente Rizzo, diretor-superintendente de pesquisa do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein, que tem pesquisas centradas no envelhecimento, não hesita em dizer que nenhuma das pessoas vivas hoje irá se beneficiar dessas descobertas.
 
“Se você for um C. elegans ou um rato, pode ficar muito feliz. Mas o DNA dos primatas têm características únicas, então, até que essas descobertas sejam transpostas para um organismo tão complexo quanto o do ser humano, já teremos morrido”, garante ele, categórico. “Não acredito que seja ainda neste século (que vamos desenvolver um elixir da juventude), pois as variáveis são inúmeras”, reforça a nutróloga Dinah Ribeiro de Paula, vice-diretora da Sociedade Brasileira de Antienvelhecimento. 
 
Por enquanto, a ciência tem focado na prevenção e no tratamento de doenças – vide o recente aumento da expectativa de vida. E isso deverá nos bastar. 
 
 

Envelhecimento saudável continua sendo o mais importante

A realidade é dura: os seres – inclusive os humanos – foram feitos para envelhecer. O que podemos (e devemos) fazer é cuidar para ter um envelhecimento saudável. Para isso, não há segredo. “Manter uma vida saudável, com boa alimentação, atividade física, sono reparador, boas relações sociais, gostar do que faz etc serão ainda a chave de um envelhecimento bem sucedido”, lembra a médica Dinah Ribeiro de Paula, da Sobrae.
 
O cérebro também se beneficiará muito disso, mas é possível fazer mais. “A pessoa tem que ter o hábito de manter uma atividade intelectual rica ao longo da vida, principalmente fazendo atividades com um objetivo definido, como um curso de línguas, aprender uma nova habilidade, fazer um voluntariado”, aconselha o neurologista Paulo Caramelli, que pesquisa sobre envelhecimento na UFMG.
 
“Seu relógio (biológico) vai marcar fim de jogo em um ponto qualquer. Jogue bem o jogo. Viva sua vida de maneira que valha a pena, equilibrando hábitos saudáveis e espaços para a sua diversão. Esse é o verdadeiro elixir da juventude – não interromper marcadores de envelhecimento”, aconselha o médico Luiz Vicente Rizzo, do Hospital Albert Einstein.

Cientistas fazem história ao recriar parte de um cérebro

Simulação digital é passo concreto para o sonho de 31 pesquisadores  do Blue Brain Project de reproduzir esse complexo órgão humano



O cérebro é a fronteira final da ciência. A obra-prima do universo, a tecnologia mais avançada de que se tem notícia até hoje. Entendê-lo significa, basicamente, desvendar todos os mistérios da ciência, e um passo fundamental para isso foi dado na última semana pelos 31 pesquisadores do Blue Brain Project, que conseguiram reproduzir digitalmente um pequeno pedaço do cérebro de um rato. A conquista do time comandado pelo professor Henry Markram foi publicada em um artigo no periódico científico “Cell”.
“Reconstruímos uma pequena parte (equivalente a cerca de 0,3 mm³ – menor que uma cabeça de alfinete) do córtex somatossensorial, região responsável pela percepção das sensações, como tato, olfato e visão. Nós a escolhemos porque é uma área que já foi extensamente estudada por nós e por outros pesquisadores, e salvamos os dados desses estudos tanto para construir o modelo como para validar sua precisão”, explica com exclusividade à O TEMPO o pesquisador Srikanth Ramaswamy, um dos desenvolvedores do algoritmo do “cérebro digital” – uma espécie de fórmula para o seu funcionamento. Agora, esse modelo está se comportando como um pedacinho de cérebro em um sistema digital.
Apesar desse passo, a comunidade científica ainda não chegou a uma conclusão se será capaz, um dia, de recriar em ambiente digital um cérebro humano. “Para alguns cientistas, talvez consigamos. Para outros, nós não vamos conseguir mesmo. E há, ainda, um grupo que acredita que só vamos chegar a recriar uma versão digital do cérebro se mudarmos a forma como pensamos em ciência”, explica o neurocientista Bruno Rezende Souza, professor do Núcleo de Neurociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
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O professor Henry Markram é o coordenador do ambicioso projeto


De acordo com ele, nossa ciência ainda é muito baseada nas leis de Newton, segundo as quais toda ação acarreta uma reação. Mas os sistemas complexos, como o cérebro, não obedecem exatamente a essas regras. “Todo sistema orgânico é complexo – tem muitas variáveis. Além disso, ele é dinâmico. Em um milissegundo, as variáveis já podem ser outras. Por fim, ele é aberto, o que significa que as variáveis são influenciadas pelo ambiente”, diz. Entender todas essas questões seria, então, a chave para desvendar, de verdade, os mistérios do universo.

O ‘vaso’ que descansa a mente : meditação

Técnica mostra como trabalhar a postura para que ela se torne aliada


BAJA
O ser que medita desenvolve a atenção plena, a quietude da mente, mas e o corpo como fica? Não são poucas as pessoas que sentem desconforto durante a prática, os pés ficam dormentes, a coluna incomoda, não há posição confortável. Parece fácil quando contemplamos quem medita, mas não é.
A arquiteta e instrutora de ioga e meditação, Marcia Baja, 44, é aluna, desde 1996, do lama Padma Samten, mestre do budismo tibetano. Vive no Centro de Estudos Budistas Bodisatva Darmata, no interior de Pernambuco. Ela vem à capital ministrar o curso “O Corpo – Vaso para o Silêncio”, em que ensina que é no silêncio da meditação que o corpo se torna o assento onde vai repousar. “A expressão ‘corpo-vaso’ quer mostrar a receptividade natural do nosso corpo para realizar qualquer atividade para a qual nos dispusermos. Basta treinarmos. Nesse curso, vamos descobrir o potencial do nosso corpo de se tornar um vaso perfeito para o silêncio, para a prática da meditação com completo conforto e estabilidade”, ensina Marcia.

A proposta do curso é iluminar o corpo para que ele se torne um aliado da prática de meditação.
“Isso é possível por meio da consciência. É ela que irá iluminar o corpo para que ele se torne um instrumento para o silêncio e o autoconhecimento. A consciência unida aos exercícios de ioga nos levará a um passeio por todo o corpo, ‘lavando-o’ de todas as limitações e, ao mesmo tempo, oferecendo novas informações e estímulos. Por meio de uma prática contínua, nosso corpo irá mudar, pois ele é receptivo e está em constante movimento e mutação. Se nós o estimularmos adequadamente ele será um aliado não só para a prática da meditação, mas para uma vida muito mais plena e feliz”, comenta a instrutora.

Mas por que as pessoas sentem tanto incômodo durante a prática? “As dificuldades na meditação surgem por não sabermos lidar com o corpo, a mente e a energia quando estamos parados. Estamos completamente identificados com o movimento, e, ao nos depararmos com o silêncio e a imobilidade, todo tipo de aflição pode surgir. Vamos sentir vontade de nos mover, sentir dores, nossa mente parecerá mais agitada do que nunca, emoções irão brotar, e iremos oscilar entre a excitação e o sono. E é assim mesmo para a maioria das pessoas. Mas o ponto é não desistir”, infere Marcia.

Segundo ela, há métodos para se domar o cavalo selvagem da mente e do corpo. “Se formos pacientes e perseverantes iremos colher bons resultados. A meditação é um treinamento. Em nossas vidas, estamos sempre treinando, sempre aprendendo algo novo. Vamos repetindo até a atividade se tornar tão natural a ponto de nem mais precisarmos pensar sobre ela. Com a meditação também é assim, precisamos ser contínuos. Os frutos certamente virão”.

Corpo domado, mas e a mente? Afinal, meditar é estarmos atentos ao nosso corpo, aos nossos pensamentos, ou é a busca do silêncio?

“Há muitos métodos para a meditação. Alguns irão buscar o ‘não pensar’, mas há outros que tentam ir além da noção de ‘pensar’ e ‘não pensar’, buscando apenas o estado natural da mente. Nesse estado natural, tanto o pensar como o não pensar são possíveis. Nessa perspectiva, o maior ganho da meditação será a liberdade. Podemos pensar, mas não somos escravos dos pensamentos.

Podemos também não pensar, mas não nos engessamos nesse estado, achando que os pensamentos são um problema. É a partir dessa liberdade que encontraremos a verdadeira paz. Estaremos em paz no movimento da mesma forma que estaremos em paz no repouso. A meditação deveria nos levar a um ponto livre de extremos”, observa a instrutora.

A qualidade da meditação vem da integração do corpo, da energia, da mente e de um bom alinhamento desses três corpos.

“Quanto mais bem trabalhado o corpo físico na prática de ioga, menos obstáculos teremos durante a meditação - menos dores, menos impulsos de nos mexer, menos riscos de nos machucar. Se nós não prepararmos o corpo, ele será justamente o foco da nossa atenção por um bom tempo. Já se formos praticantes de ioga, teremos um tempo reservado apenas para cuidar do corpo e, ao sentarmos em silêncio, encontraremos um conforto natural e nos sentiremos estáveis, relaxados e cheios de vivacidade. Com esse conforto, poderemos ir adiante e focar em outros aspectos da meditação, que estão relacionados à energia e à mente”, finaliza a instrutora.
Atenção plena. A instrutora de ioga e meditação Marcia Baja vai ensinar como iluminar o corpo para que ele se torne um aliado da prática



Neuromodulação atua como aliada contra dores de cabeça

Aparelho funciona por meio de eletrodos e substitui medicamento


A-GQPNU
O pequeno Vinícius já apresenta melhoras com a neuromodulação
 

Somente aqueles que sofrem com dores de cabeça sabem o quão desagradável e prejudicial elas podem ser. Em casos de enxaquecas, o trabalho e a vida social de quem possui a enfermidade podem ser afetados por crises muitas vezes intensas que podem durar dias. Existem vários fatores que desencadeiam as crises, como obesidade, noites maldormidas, indigestão, jejum e alterações hormonais, entre outros. E em tempos de muita competitividade, cobranças e metas, as pessoas são submetidas diariamente a situações estressantes, o que potencializa a frequência das crises.
A mais recente novidade na prevenção e no alívio dos sintomas é a neuromodulação. Trata-se da utilização de estímulos elétricos e magnéticos para influenciar e modular o funcionamento do cérebro, diferentemente dos medicamentos, que estimulam ou inibem as funções cerebrais.
Novidade. O método surgiu como tratamento para a doença de Parkinson. Com o implante de eletrodos nos núcleos da base do cérebro, conseguiu-se conter o tremor dos pacientes. Posteriormente, ela passou a ser utilizada no tratamento de epilepsia. Nos casos em que só o medicamento não é suficiente, eletrodos são implantados para estimular o nervo vago, localizado no pescoço, e conter as crises epiléticas. Agora, a neuromodulação passa a figurar como uma alternativa para o tratamento da enxaqueca e cefaleias.
Diferentemente das outras situações, no caso das dores de cabeça, o tratamento não é invasivo. Trata-se de um novo aparelho em formato de arco – cujo nome comercial é “Cefaly” – que, ao ser colocado na cabeça, gera pequenos estímulos elétricos, alterando a forma que a dor é assimilada. A neurofisiologista clínica Andréa Julião explica que o aparelho pode ser usado tanto em momentos de crise como para a prevenção. “Para a profilaxia, o aparelho deve ser usado diariamente por 20 minutos. Em caso de crises, o período de uso pode ser maior, e ele atuará como um analgésico ao aliviar as dores”.
A médica também indica o Cefaly para quem precisa parar de tomar os medicamentos para enxaqueca, por exemplo, e para mulheres que estão tentando engravidar, além de ser uma solução para o abuso de remédios. “No Brasil existe uma situação comprovada de abuso de analgésico, pois qualquer um pode comprar e fazer uso. Entretanto, a utilização frequente do remédio pode agravar a crise, pois ele passa a ser um vício para o paciente. Uma enxaqueca simples, por exemplo, pode se tornar uma cefaleia crônica diária. Sem contar o risco de o paciente desenvolver gastrite pelo uso excessivo de medicamentos”, alerta.

Bons resultados. Ir para escola era uma dificuldade para o pequeno Vinícius, 7. O garoto possui uma doença chamada esofagite eosinofílica e a enxaqueca é um dos reflexos da doença. Em seu cotidiano escolar, ele sempre tinha que voltar para casa antes do horário, pois frequentemente as crises fortes de dor de cabeça causavam um enjoo intenso que impedia a sua permanência na escola.
A mãe Sílvia Oliveira conta que, com a prática constante da neuromodulação somada ao tratamento com medicamentos, as crises diminuíram. “Desde maio, ele utiliza o neuromodulador e a mudança é nítida. Ele ainda toma os medicamentos, porém, em breve, não vai precisar mais, e o tratamento será feito apenas com o uso do aparelho”.
Sílvia também ressalta que é preciso paciência para ver os resultados, pois só com a prática frequente da neuromodulação os resultados aparecem. “A curto prazo, deu para notar que o Vinícius está mais relaxado, menos ansioso”, explica.
Flash
Brasil. Apenas uma marca vende o aparelho, a Cefaly, e o preço é alto: em torno de R$ 2.500, mais o valor dos eletrodos, que são vendidos separadamente e custam cerca de R$ 100.
O produto ainda não é encontrado facilmente em lojas físicas, mas está disponível na internet no site da marca www.cefaly.com.br.
Técnica foi aprovada em 2014

A única marca do aparelho para neuromodulação de dores de cabeça é a Cefaly. Trata-se de uma tecnologia desenvolvida em 2009 na Bélgica e aprovada pelo FDA – departamento de administração de comidas e medicamentos dos Estados Unidos – em 2014. Eduardo Hanni Tortorelli, assessor técnica da Politec Saúde, responsável pelo aparelho Cefaly, explica também que o aparelho oferece duas intensidades de estímulos. “Quando o paciente está com crise de enxaqueca, ele deve usar o programa dois, já para em caso de uso contínuo, deve ser acionada a frequência um”, determina.

Embora não haja efeitos colaterais, Tortotelli conta que a reclamação mais comum é de pacientes que reclamam dos estímulos.