terça-feira, 13 de dezembro de 2011

o poder da bolha de sabão


dica de presente de natal


Toda criança adora fazer bolhas de sabão, mas alguns adultos também! :-) 


Afinal, que melhor presente para dar ao seu filho do que algo que ele vai adorar e você também poderá brincar junto? :-)
Veja aqui como funciona o brinquedo e como fazer a receita das bolhas de sabão gigantes com materiais que podem ser comprados em qualquer supermercado.
O brinquedo foi inventado por David Stein no final da década de 1980, patenteado e licenciado para a editora Klutz, que já vendeu milhares de Bubble Things no mundo.

O seu funcionamento é bem simples. Um bastão de plástico, com uma haste um pouco maior deslizante e um pedaço de tecido com uma argola embaixo, que serve para dar um pouco de peso ao tecido.
É só pegar o bastão, deslizar a haste maior até deixar o tecido unido e mergulhá-lo na receita da bolha de sabão gigante. Daí tira-se do balde, e abre-se lentamente a haste. A bolha aparece e é só deslizá-la pelo ar até ela ficar maior e fechá-la para liberar a bolha. Simples assim!
E para quem não puder comprar o brinquedo oficial, é só dar uma olhada como ele é feito e fazer o seu caseiro. Nada que algumas horas de um sábado de manhã não funcionem para fazer uma cópia funcional.
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A Receita

No invólucro do brinquedo vem uma receita básica da bolha de sabão, mas indica o site para ver receitas novas. Fui até o site oficial do Bubble Thing e peguei a receita nova.
Quer fazer também? Então anote aí:
12 copos de água
1 copo de detergente
1 copo de xarope de milho
2 colheres de fermento químico
ingredientes - bolha de sabão gigante
Segundo a Wikipedia, um copo tem 8 onças. E uma onça tem 30ml. Então um copo equivale a 240ml. Utilizei um copo de medidas para colocar todos os ingredientes, na ordem indicada: primeiro a água, depois o detergente, o xarope de milho (só encontrei Karo) e depois o fermento.
Coloque tudo isso em um balde pois a receita rende bastante. Há, e também pegue uma colher bem grande para mexer de vez em quando, pois o xarope tende a se acumular no fundo.
A Brincadeira
Depois disso tudo é só começar a brincar. Comece a abrir lentamente a alça de tecido até a lâmina de sabão ficar exposta. Daí gire-a no ar ou dê alguns passos para o lado. Isso já será o suficiente para fazer a lâmina começar a se transformar em uma bolha.


Em seguida comece a fechar a alça até liberar a bolha. Pronto, você acaba de fazer a sua primeira bolha de sabão gigante!
Achei que a receita que fiz tem que ser melhorada, pois as bolhas estouravam muito rápido. Se você libera-a logo, ela permanece por mais tempo voando ao vento, mas se tenta fazer uma bolha realmente grande, ela tende a estourar antes do tempo. Nas próximas brincadeiras vou experimentar trocar o o detergente por outro tipo, pois os outros ingredientes acho que não mudam muito de um fabricante para outro.
O segredo está em acertar o tempo de liberação da bolha antes que ela estoure. Mas não se preocupe, com meia hora de brincadeira você já pega o jeito.
Lembre-se de brincar em um dia com vento fraco ou nulo. O vento forte faz as bolhas estourarem logo no início, antes mesmo de você acabar de abrir a haste do brinquedo.
David Stein também recomenda que dias húmidos são os melhores para brincar. Antes ele usava óleo de canola, e em tempo seco as bolhas estouravam muito rápido. Depois que trocou para o xarope de milho a receita funcionou melhor, mesmo em tempos mais secos.
Mas o mais importante de tudo é se divertir e voltar a ser criança, nem que seja por alguns momentos. 
E brincar com seu filho, se divertindo juntos, não tem preço.
E para quem acha que isso pode ser difícil, as fotos do Natan e do Caio mostram que duas crianças, de 5 e 7 anos, dão conta do recado.
 E olha que foi a primeira vez que brincaram!

domingo, 23 de outubro de 2011

13º FESTIVAL INTERNACIONAL DE CURTAS de Belo Horizonte


13º FESTIVAL INTERNACIONAL DE CURTAS REÚNE DESTAQUES DO CINEMA MUNDIAL EM BH
Iniciativa da Fundação Clóvis Salgado, Festival conquista recorde de abrangência
com inscrições de 106 países.


13º Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte
Fundação Clóvis Salgado
14 a 23 de outubro de 2011
No Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1537 – Centro)
ENTRADA GRATUITA (os ingressos serão distribuídos 15 minutos antes das sessões)
INFORMAÇÕES PARA O PÚBLICO: (31) 3236-7400 ouwww.festcurtasbh.com.br

Entre os dias 14 e 23 de outubro o Palácio das Artes receberá o Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte. Realizado pela Fundação Clóvis Salgado desde 1994, o Festival tornou-se referência nacional na promoção e popularização do gênero e sua 13ª edição confirma esse sucesso perante o público e os artistas, conquistando um recorde de abrangência entre as produções internacionais, com inscrições de 106 países. A programação conta também com debates, workshops e oficinas. Esta edição tem o patrocínio da Coca-Cola e do BDMG (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais).

A 13ª edição do FestCurtasBH recebeu, ao todo, 2.635 inscrições, sendo 2.100 internacionais, vindas de 105 países, como República Tcheca, Estônia, Eslovênia, Quirgistão, Coréia do Sul e Hungria, além de 535 brasileiras, totalizando 106 países participantes. Desse total foram selecionados 125 filmes, divididos entre as Mostras Competitivas Internacional, Brasil e Minas e outras seis mostras especiais, que se somarão a 30 curtas curados por um convidado, o cineasta francês Yann Beauvais, e quatro curtas convidados para a sessão de abertura.

Os números conquistados este ano são um recorde na história do Festival e representam o amadurecimento do projeto em quase duas décadas. ”Ao longo de sua história, o Festival Internacional de Curtas difunde uma considerável parcela do que existe de mais importante na produção mundial de curta-metragem e solidifica a política do Cine Humberto Mauro, focada na formação e reflexão sobre o cinema no Estado e no Brasil”, destaca Rafael Ciccarini, Gerente do Cine Humberto Mauro. Após 12 edições, o Festival conquistou um reconhecimento internacional e o carinho do público mineiro, tornando-se um evento que dialoga diretamente com alguns dos principais festivais do gênero em todo o mundo e recebe inscrições de realizadores dos cinco continentes.  

A seleção dos filmes da 13ª edição foi realizada por uma comissão formada por importantes nomes da área da criação, crítica e pesquisa em cinema. Os curtas internacionais foram selecionados por João Toledo, Leonardo Amaral, Luiz Pretti, Marcelo Miranda, Ricardo Mehedff e Tiago Mata Machado. Os curtas brasileiros e mineiros passaram pelo crivo de Affonso Uchoa, Bruno Vasconcelos, Gracie Santos e Ricardo Alves Jr. A seleção dos curtas das mostras infantil e juventude contaram também com a participação de Lúcia Ferreira. 

As exibições do Festival têm entrada gratuita. Os ingressos serão distribuídos 15 minutos antes das sessões nas bilheterias das salas.  

DESTAQUES DA PROGRAMAÇÃO

A programação do 13º FestCurtasBH está dividida em 11 mostras, nove delas organizadas a partir dos filmes inscritos, todos realizados entre 2010 e 2011. Durante os dez dias da programação, o público poderá conferir três mostras competitivas (Internacional, Brasil e Minas), duas mostras com curtas internacionais (Movimentos de Mundo e Animações), duas mostras com curtas brasileiros (Doc Brasil e Maldita) e duas mostras que mesclam produções brasileiras e de outros países (Infantil e Juventude).

Os destaques da programação reafirmam o caráter cada vez mais internacional do evento e seu diálogo com outros importantes festivais pelo mundo. Paralela às mostras competitivas, em 2011 o FestCurtasBH estabelece uma conexão com um dos ícones do cinema experimental mundial, o cineasta francês  Yann Beauvais. Após uma primeira passagem pelo 12º FestCurtasBH, quando ministrou uma oficina de introdução ao cinema experimental, o artista foi convidado em 2011 para a curadoria de uma mostra sobre cinema experimental, intitulada “Cinema Para Pensar”. Serão 25 curtas de diferentes partes do mundo, que apresentam um panorama de diferentes épocas do cinema experimental. Somados a esses filmes, serão apresentados nove trabalhos de autoria do cineasta francês, em uma mostra que homenageia o artista, intitulada “Sessão Yann Beauvais”. O curador participará de um bate-papo com o público logo após todas as sessões das duas mostras, bem como os realizadores dos filmes da Mostra Competitiva Brasil, que participarão de debates sobre seus trabalhos logo após as primeiras sessões de cada curta.      

 
                                                          Lá do leste_Rafael Nobre

Em uma ação inovadora, o FestCurtasBH convidou Herbert Schwarze, consultor de roteiros e curador do Festival de Oberhausen, principal festival de curtas-metragens do mundo, para uma atividade denominada work in progress. A atividade consistirá em uma tarde de encontros entre o consultor alemão e realizadores interessados em conversar sobre seus filmes, em fase de roteiro ou de montagem. A ideia partiu do coordenador geral do Festival, Daniel Queiroz, que percebeu na presença do cineasta alemão no júri do Festival uma oportunidade de compartilhar com os realizadores mineiros sua vasta experiência. “Trata-se de uma figura com larga experiência no campo da pesquisa, construção de roteiros e curadoria para cinema. Ainda que breve, certamente a tarde de encontros será uma excelente oportunidade de trocas e aprendizado para os artistas locais”, afirma Queiroz. Os encontros acontecerão no dia 18, terça-feira, das 14h às 17h. As inscrições serão feitas por ordem de chegada no local.

NOVIDADES DO FESTIVAL
Entre as principais novidades do Festival estão duas mudanças em seu formato. A Mostra Minas, realizada nas outras edições como uma mostra não-competitiva, ganha em 2011 um caráter de concorrência. Serão 13 filmes de realizadores mineiros disputando a escolha do júri especializado e do público.


A segunda grande novidade desta edição é a criação de uma mostra voltada exclusivamente para os jovens, a Mostra Juventude. Segundo a coordenação do Festival, a novidade surgiu ao longo do processo de seleção dos filmes. “Durante a seleção a comissão percebeu uma grande quantidade de filmes de qualidade, porém, com o perfil inadequado para a Mostra Infantil. Como essa é uma demanda crescente a cada ano, percebemos a necessidade de potencializar essa criação com uma categoria exclusiva para esse nicho de público”, afirma Daniel Queiroz.
 














Fest Curtas - A conquista do espaço2_Credito - Alberto La Salvia

FORMAÇÃO E COMPARTILHAMENTO
Além da exibição dos curtas-metragens, a 13ª edição do Festival reforça seu caráter de difusão e formação promovendo oportunidades para o encontro e a reflexão, uma preocupação crescente a cada edição. Além da consultoria oferecida pelo consultor de roteiros Herbert Schwarze, o Festival promoverá duas oficinas gratuitas: “Som e Trilha Sonora: Limites e Interseções”, ministrada pelo coletivo O Grivo, e “Introdução à Crítica Cinematográfica”, ministrada por Sérgio Alpendre. As atividades acontecerão entre 14 e 17 de outubro e as inscrições já estão encerradas.

PROGRAMAÇÃO FESTIVA

Seguindo a tradição das outras edições do Festival, após as últimas sessões de cada noite os artistas e o público se reunirão em um ponto de encontro, que esse ano estará sediado no Restaurante e Cabaré Cultural Nelson Bordello. Ao longo de toda a semana do evento, o espaço oferecerá uma programação especial (exceto no dia 17/10), com shows, DJs e performances de artistas convidados.

JÚRI E PREMIAÇÃO
O júri especializado do 13º Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte é formado por importantes cineastas, curadores e pesquisadores do Brasil e do mundo. Carla Maia, Mabe Bethônico e Nuno Sena são os responsáveis pelas escolhas da Mostra Competitiva Internacional. Eder Santos, Herbert Schwarze e Sérgio Fant respondem pela Mostra Competitiva Brasil, e Moema Müller, Sérgio Alpendre e Sidnei Pereira escolhem os premiados na Mostra Competitiva Minas.
Entre os nove membros do júri, três são curadores de importantes festivais internacionais: Oberhausen, festival de curtas alemão (Herbert); IndieLisboa, festival de cinema independente de Portugal (Nuno) e do tradicional festival de Veneza, na Itália (Sérgio Fant).
Os três premiados nas categorias competitivas Internacional e Brasil receberão o troféu BDMG e uma bonificação de R$2.000,00 (cada), enquanto a Mostra Competitiva Minas premiará um curta, também com uma bonificação do mesmo valor. Além do júri especializado, todos os filmes (exceto os da Mostra Infantil e os das mostras curadas) concorrem ao voto popular em uma mesma categoria. O curta escolhido pelo público receberá uma bonificação no valor de R$2.000,00, além de prêmios oferecidos por parceiros do evento. O melhor curta mineiro, na escolha do público, também receberá prêmios em serviços oferecidos por empresas parceiras.

SERVIÇO

13º Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte
Fundação Clóvis Salgado
14 a 23 de outubro de 2011
No Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1537 - Centro)
ENTRADA GRATUITA (os ingressos serão distribuídos 15 minutos antes das sessões)
INFORMAÇÕES PARA O PÚBLICO: 
(31) 3236-7400 ouwww.festcurtasbh.com.br

Informações para a imprensa:
Tiago Penna
Assessoria de Comunicação da Fundação Clóvis Salgado
Telefones: (31) 3236-7378 / 3236-7381 / 9798-1077
Ana Barbosa,  Gabriel Assunção e Paula Senna
João Mello e Andressa Resende (estagiários)

sábado, 13 de agosto de 2011

'Foi um motim de consumidores excluídos', diz sociólogo Zygmunt Bauman

Controntos na periferia de Londres,: Hackney foi um dos bairros atingidos/AFP


LONDRES - Um dos mais influentes acadêmicos europeus, já descrito por alguns comentaristas mais entusiasmados como o mais importante sociólogo vivo da atualidade, o polonês Zygmunt Bauman viu nos distúrbios de Londres uma aplicação prática de suas teorias sobre o papel do consumismo na sociedade pós-moderna. Um assunto que o acadêmico, radicado em Londres desde 1968, quando deixou a Polônia após virar persona non grata para o regime comunista e por conta de uma onda de anti-semitismo no país, explorou bastante em conjunção com as discussões sobre desigualdade social e ansiedade de quem vive nas grandes cidades.
Aos 85 anos, autor de dezenas de livros, como "Amor líquido" e "O mal-estar da pós-modernidade", Bauman não dá sinais de diminuir o ritmo. Há cinco anos, no lançamento de "Vida para Consumo", uma de suas obras mais populares, fez uma turnê por vários países. Em entrevista ao GLOBO, por e-mail, ele afirma que as imagens de caos na capital britânica nada mais representaram que uma revolta motivada pelo desejo de consumir, não por qualquer preocupação maior com mudanças na ordem social.
- Londres viu os distúrbios do consumidor excluído e insatisfeito.
O GLOBO: O quão irônico foi para o senhor ver os distúrbios se concentrando na pilhagem de roupas e artigos eletrônicos?
ZYGMUNT BAUMAN: Esses distúrbios eram uma explosão pronta para acontecer a qualquer momento. É como um campo minado: sabemos que alguns dos explosivos cumprirão sua natureza, só não se sabe como e quando. Num campo minado social, porém, a explosão se propaga, ainda mais com os avanços nas tecnologias de comunicação. Tais explosões são uma combinação de desigualdade social e consumismo. Não estamos falando de uma revolta de gente miserável ou faminta ou de minorias étnicas e religiosas reprimidas. Foi um motim de consumidores excluídos e frustrados.
O GLOBO:Mas qual a mensagem que poderia ser comunicada?
BAUMAN: Estamos falando de pessoas humilhadas por aquilo que, na opinião delas, é um desfile de riquezas às quais não têm acesso. Todos nós fomos coagidos e seduzidos para ver o consumo como uma receita para uma boa vida e a principal solução para os problemas. O problema é que a receita está além do alcance de boa parte da população.
O GLOBO:Trata-se de um desafio a mais para as autoridades na tarefa de acalmar os ânimos, não?
BAUMAN: O governo britânico está mais uma vez equivocado. Assim como foi errado injetar dinheiro nos bancos na época do abalo global para que tudo voltasse ao normal - isso é, as mesmas atividades financeiras que causaram a crise inicial - as autoridades agora querem conter o motim dos humilhados sem realmente atacar suas causas. A resposta robusta em termos de segurança vai controlar o incêndio agora, mas o campo minado persistirá, pronto para novos incêndios. Problemas sociais jamais serão controlados pelo toque de recolher. A única solução é uma mudança cultural e uma série de reformas sociais. Senão, a mistura fica volátil quando a polícia se desmobilizar do estado de emergência atual.
O GLOBO:Jovens de classe baixa reclamam demais da falta de oportunidades de trabalho e educação. O senhor estranhou não ter visto escolas pegando fogo, por exemplo?
BAUMAN: Qualquer que seja a explicação dada por esses meninos e meninas para a mídia, o fato é que queimar e saquear lojas não é uma tentativa de mudar a realidade social. Eles não se rebelaram contra o consumismo, e sim fizeram uma tentativa atabalhoada de se juntar ao processo. Esses distúrbios não foram planejados ou integrados, como se especulou no início. Tratou-se de uma explosão de frustração acumulada. Muito mais um porquê que um para quê.
O GLOBO:Mesmo o argumento de protesto contra os cortes de gastos do governo não deve ser levado em conta?
BAUMAN: Até agora, não percebi qualquer desejo mais forte. O que me parece é que as classes mais baixas querem é imitar a elite. Em vez de alterar seu modo de vida para algo com mais temperança e moderação, sonham com a pujança dos mais favorecidos.
O GLOBO:Mais problemas são inevitáveis, então?
BAUMAN: Enquanto não repensarmos a maneira como medimos o bem-estar, sim. A busca da felicidade não deve ser atrelada a indicadores de riqueza, pois isso apenas resulta numa erosão do espírito comunitário em prol de competição e egoísmo. A prosperidade hoje em dia está sendo medida em termos de produção material e isso só tende a criar mais problemas em sociedades em que a desigualdade está em crescimento, como no Reino Unido.


Controntos na periferia de Londres,: Hackney foi um dos bairros atingidos/AFP


terça-feira, 2 de agosto de 2011

Cérebro de canhoto apresenta funções melhor distribuídas

Cérebro de canhoto apresenta funções melhor distribuídas
Existem nove destros para cada canhoto, uma média bastante estável  PERRI KLASS
THE NEW YORK TIMES

Representatividade. Quatro dos últimos sete presidentes dos EUA são canhotos, como Barack Obama
NOVA YORK, EUA. Os seres humanos são animais assimétricos. Logo no início do nosso desenvolvimento embrionário, o coração vai para a esquerda. O fígado se desenvolve na direita. Os pulmões esquerdo e direito têm estruturas distintas.


Existem certas síndromes raras nas quais a assimetria comum dos órgãos é revertida - lembro-me do quanto foi constrangedor a primeira vez que examinei uma criança com dextrocardia, um coração do lado direito, e eu ouvia os sons cardíacos em lugares inesperados. Mas, quando se tratam das mãos - outra assimetria humana básica, que reflete a estrutura e a função do cérebro -, o padrão revertido é relativamente comum, e, por isso, não é facilmente compreendido.

Durante vários séculos, os canhotos foram acusados de criminalidade e ligações com o diabo. Muitas crianças tiveram que passar por uma "reeducação" das mãos. Nos últimos anos, o estigma sumiu. Curiosamente, quatro dos últimos sete presidentes norte-americanos são canhotos - Gerald Ford, George Bush (pai), Bill Clinton e Barack Obama, além de Ronald Reagan, que é citado como ambidestro.

Entretanto, permanece o mistério sobre o que determina a predominância de uma das mãos. Há uma proporção que quase não mudou com o tempo: em geral, 90% das pessoas são destras e 10%, canhotas. "Isso ainda é algo bem misterioso", disse Clyde Francks, geneticista e autor principal de um estudo de 2007 no qual pesquisadores da Universidade Oxford identificaram uma variação genética ligada ao canhotismo.

A predominância da mão (seja esquerda ou direita) está relacionada à assimetria cerebral. "Isso ainda não é totalmente entendido. Estamos realmente bem no início da compreensão sobre o que torna o cérebro assimétrico", admitiu Francks.

Distribuição cerebral. Embora as assimetrias existam, inclusive nos nossos parentes primatas mais próximos, é consenso que o cérebro humano é mais profundamente assimétrico. Entender como funciona essa assimetria vai nos mostrar muito sobre quem somos e como nossos cérebros funcionam.

A laterização cerebral - distribuição da função para os hemisférios direito e esquerdo - é crucial para o entendimento da linguagem, da memória pensada e, talvez, até da criatividade. Por vários anos, a prevalência de uma das mãos foi vista como uma possível materialização da laterização, uma manifestação externa do equilíbrio entre direita e esquerda na região cerebral.

Para os destros, a atividade relacionada à linguagem acontece, predominantemente, do lado esquerdo. Muitos canhotos também têm um domínio da linguagem do lado esquerdo, mas um número significativo tem a linguagem distribuída equilibradamente entre os dois hemisférios ou de forma mais predominante do lado direito do cérebro.

Segundo Daniel Geschwind, professor de genética humana, neurologia e psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, em geral, os canhotos têm cérebros menos assimétricos, com uma distribuição mais equilibrada entre os dois hemisférios. "Talvez, uma forma conceitual mais precisa para se pensar nos canhotos é como não destros. Muitos deles são muito mais prováveis de se tornarem ambidestros e terem habilidades motoras excelentes com a mão direita", acredita Geschwind.

Traduzido por André Luiz Araújo



Em animais
Quer saber se seu cachorro é destro, canhoto ou ambidestro?

Dica. O especialista em comportamento animal Gustavo Campelo usa uma estratégia com seus cachorros. "O exercício que utilizo para descobrir se os cães são canhotos, destros ou ambidestros é fazê-los girar em torno de si mesmos em 360 graus. Utilizo um petisco para ajudar. A grande maioria gira com facilidade para o lado direito; alguns, para o lado esquerdo; e raros cães giram com facilidade para os dois lados", explica.

Curiosidade. Segundo o especialista, outro dado interessante, perceptível no comportamento dos animais, é que os ambidestros respondem ao treinamento de obediência com uma velocidade muito maior do que os outros.


GENÉTICA
Cientistas identificaram gene em disléxicos relacionado ao canhotismo
NOVA YORK. A prevalência de uma das mãos é presente nas famílias. Em 2007, enquanto faziam um estudo com crianças com dislexia, cientistas da Universidade Oxford identificaram o gene LRRTM1, que se mostrou associado ao desenvolvimento do canhotismo.


Clyde Francks, geneticista que trabalha no Instituto Max Planck para Psicolinguística, na Holanda, lembra que a descoberta do gene ganhou as manchetes. Esse gene foi encontrado de forma desproporcional nas pessoas com esquizofrenia, embora nenhuma dessas condições seja simples ou bem compreendida. "Não estamos buscando um gene para a tendência de uso das mãos ou um gene para a esquizofrenia. Estamos procurando relações sutis. O gene afeta as maneiras com que os neurônios se comunicam uns com os outros, mas seus mecanismos ainda precisam ser estudados", disse Francks.
Daniel Geschwind, professor de genética humana, neurologia e psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia, está interessado nas conexões entre a linguagem e a preferência pelo canhotismo ou destreza, além das formas com que essa preferência pode nos ajudar a entender a evolução do cérebro. "A predominância do uso das mãos tem uma base genética, mas, assim como outras características – altura, peso –, é muito complexa. Não é um único gene que leva a isso. Existe um forte componente ambiental também. É um problema muito complicado". (PK/NYT)

A nova onda dos flash mobs

A nova onda dos flash mobs
ALYSIA SANTO
The New York Times

NOVA YORK, EUA. "Aleluia"! Ecoou a voz de uma mulher em uma praça de alimentação lotada em Ontário. Ela estava conversando em seu telefone poucos segundos antes, e ainda segurando o aparelho em seu ouvido, sua voz soprano vibrou as primeiras linhas do refrão de "Aleluia", de Handel, enquanto os clientes, surpresos, olhavam atentamente. Quando ela terminou o verso, um homem subiu em uma cadeira e começou a cantar o próximo. Ele foi acompanhado por outros, que levantaram de seus assentos ou largaram suas vassouras até que, já no fim, o coro de centenas de vozes encerrou a surpresa musical com a última "Aleluia". Vieram os aplausos dos compradores desavisados. E isso foi capturado em vídeo, em uma cena que foi vista mais de 32 milhões de vezes no YouTube.
Chamado de Christmas Food Court Flash Mob, ele foi organizado pela Alphabet Photography, que contratou cantores para criarem um momento aparentemente improvisado. Tal "espontaneidade" planejada está no coração do flash mob, um termo que inicialmente se referia à montagem repentina de um grupo que então faz uma apresentação aparentemente sem propósito, mas divertida, antes dos participantes se dispersarem. Essas montagens são geralmente organizadas por e-mail ou rede social.
O boom do flash mob é ilustrado mais claramente pelo "Mobbed", um novo programa de televisão do canal Fox que estreou em março. Inicialmente planejado como um programa especial que passaria só uma vez, ele foi incluído na programação da emissora depois de ter atraído quase 11 milhões de visitantes.
Várias pessoas afirmam ter inventado o conceito de flash mob, mas o jornalista Bill Wasik organizou o primeiro e mais conhecido deles em 2003 como uma experiência social. Ao descrevê-lo em um artigo de 2006 da "Harpers Bazzar", "My Crowd, ou Fase 5: uma reportagem do inventor do Flash Mob", ele se revelou como o anônimo "Bill" atrás de uma série de flash mobs. O primeiro envolveu 200 pessoas que invadiram uma seção de tapeçaria de uma loja de Nova York dizendo aos vendedores que eles viviam em uma comunidade e que estavam na loja em busca de um "amor tapete".
Profissionais. O projeto, escreveu Wasik, tinha a intenção de ser "pura cena" - o que significava que a ‘cena’ seria o ponto central da ação e, por si só, constituiria o trabalho. Mas, como previu Wasik, os flash mobs agora fazem parte das campanhas de marketing corporativos, já que as empresas listadas na "Fortune 500" contratam artistas profissionais para criarem um evento para que elas sejam vistas no YouTube. A T-Mobile, por exemplo, criou um número de dança bem elaborado na estação de metrô de Londres em 2009. Embora o número tenha atraído a atenção dos transeuntes, o verdadeiro motivo do comercial são os quase 8 milhões de visitas do vídeo no YouTube . Esse tipo de comercial atrativo que se auto-perpetua é o nirvana de um publicitário.
No entanto, alguns flash mobs ainda se mantêm presos às raízes originais. Como, por exemplo, o Improv Everywhere, um grupo de Nova York que organiza brincadeiras públicas bem-humoradas grandes e pequenas. O grupo evita deliberadamente o termo, como explica o seu site, "Com o passar dos anos, o termo `flash mob´ foi espancado até a morte pela mídia e cooptado pelos marqueteiros".
Na montagem mais vista de Improv Everywhere, em uma manhã de sábado de 2008, 200 pessoas pararam, simultaneamente, no meio do movimento, no terminal da Grand Central. Um homem ajoelha imóvel enquanto amarra seu sapato; uma mulher com o telefone no ouvido e a boca aberta no meio de uma fala; um grupo de pessoas parado enquanto debruça sobre um mapa. Espectadores curiosos vagueiam em torno das pessoas imóveis, tentando entender a cena. "Eles não estão se movendo. Eu não posso andar com o meu carrinho", reclama um funcionário da MTA em seu rádio, preso atrás de um monte de pessoas imóveis. Após ficarem estáticos por cinco minutos, os participantes se mexem e continuam como se nada tivesse acontecido. Fortes aplausos surgem dos observadores. Esse vídeo do YouTube tem mais de 25 milhões de visitas.



O flash mob da Arby’s na Times Square: puro marketing


COMPORTAMENTO
Empresa já se especializou em criar flash mobs
NOVA YORK, EUA. Mas e se um flash mob é formado e ninguém posta no YouTube, conta? Dificilmente. Principalmente para os publicitários que adotaram o modelo flash mob. Charlie Todd, ator e fundador do Improv Everwhere, disse: "Marcas sempre virão a mim achando que eu possa fornecer a eles centenas de atores para alguma ideia capenga de flash mob que eles tiveram, mas eu nunca usarei o meu mailing, meu site, Twitter, etc., para contratar participantes para o comercial de alguém". Mas Todd irá dar consultoria para as empresas em suas campanhas do tipo flash mob, e, recentemente, ele lançou o livro "Causando uma Cena".
Todd diz que muitas empresas plagiaram o modus operandi de seu grupo para propósitos comerciais. "Existem dúzias de exemplos de marcas usando nossas ideias ou, pelo menos, usando nossas táticas e do nosso estilo de marketing", afirmou.
Isso ficou evidente em uma terça-feira chuvosa de abril, quando mais de cem pessoas, carregando sombrinhas vermelhas se agruparam por volta do meio-dia na Times Square, começaram a cantar e dançar em uníssono. Enquanto eles dançavam, cantavam uma música, cuja letra pedia, ao final, que comessem na Arby’s (rede de fast food norte-americana).
As pessoas que passavam por lá pararam e ficaram olhando, enquanto pegavam seus telefones para registrar o evento. Um telão mostrava fotos de sanduíches de carne assada junto com a letra da música.
Eles foram contratados pela Flash Mob America, uma firma que os co-fundadores Staci Lawrence e Conroe Brookes descrevem como "uma empresa de serviços de flash mob completa". O negócio começou em 2009 e garante ter encontrado um nicho crescente. "Nós estamos, literalmente, fazendo intervalos para comer e dormir", diz Lawrence.
A empresa contrata cantores profissionais e amadores, dançarinos e atores para participarem do que ela chama de "alegria através da surpresa". Eles também fornecem aos clientes coreógrafos, produtores, filmagem e edição. O comercial "The call for the Arby" pedia artistas nova-iorquinos ou turistas que estariam no meio do grupo de cantores. Eles entrariam e surpreenderiam o público como se tivessem acabado de ‘decidir’ se juntar a eles e cantar. O pagamento: US$ 75.
Depois do comercial, os cantores começaram a se dispersar, mas, na verdade, foram redirecionados para um estúdio para regravar a canção. Essa é a espontaneidade.
Veja
Alguns flash mobshttp://www.youtube.com/watch?v=SXh7JR9oKVE
http://www.youtube.com/watch?v=SXh7JR9oKVE
http://www.youtube.com/watch?v=1aSbKvm_mKA

Hormônio explicaria por que as pessoas traem por impulso

Hormônio explicaria por que as pessoas traem por impulso
Busca por destaque no grupo é parte de uma estratégia de sobrevivência inata STEPHANIE ROSENBLOOM

EUA. O deputado Anthony Weiner renunciou após ter mandado fotos insinuantes na internet e disse que "não sabia o que estava fazendo"
NOVA YORK, EUA. Há muito tempo, pesquisadores estudam a química e a arquitetura cerebral e sugerem que a fisiologia tem um papel importante nas puladas de cerca, como no caso do ex-deputado norte-americano Anthony Weiner, que, casado, renunciou ao cargo na semana passada após virem a público mensagens comprometedoras dele para várias mulheres.
"Não sei no que eu estava pensando", disse Weiner em uma entrevista coletiva momentos após finalmente admitir que havia enviado fotos picantes dele próprio para jovens que ele havia conhecido na internet.

Cientistas afirmam que é possível que pessoas como ele tenham um impulso incontrolável e acabem traindo. "A maioria das pessoas que vão tão longe quanto ele é gente com níveis altos de testosterona", disse Helen Fisher, antropóloga, bióloga e membro do Centro de Estudos Evolucionários Humanos da Universidade Rutgers. "Junto com essa ambição, vem um grande apetite sexual. A testosterona está ligada aos dois".

Segundo alguns pesquisadores, a busca por proeminência é parte de uma estratégia de sobrevivência inata. "Os homens, particularmente os homens bem-sucedidos, têm um histórico evolucionário de poligamia", explicou David C. Geary, professor do Departamento de Ciências da Psicologia da Universidade do Missouri. "Os homens que buscam carreira política também estão buscando poder", disse Geary, e, "de uma perspectiva evolucionária, todo o objetivo dos homens à procura de poder é aumentar seu acesso às oportunidades sexuais".

Aventura. Entretanto, em uma era de rastros digitais facilmente descobertos, as chances de galantear e ser pego com a mão na massa são maiores do que nunca. Então, por que trair e tuitar?

Uma resposta possível é que existe uma correlação entre a testosterona e querer correr riscos. "Se você perguntasse a um desses caras ‘Quais as chances de você ser pego?’, veria que eles subestimam os riscos", disse Geary. "E a gravidade das consequências é subestimada. As mulheres, por outro lado, tendem a se concentrar no dano em potencial das consequências".

Estudos sobre outros temas além do sexo - como dinheiro - também demonstraram uma ligação entre a testosterona e o excesso de confiança. Segundo Helen, as mulheres têm, em média, mais conexões neurais de longo alcance do que a maioria dos homens. Consequentemente, disse ela, os homens tendem a se concentrar estritamente no aqui e agora, em vez das possíveis consequências a longo prazo.

Uma desculpa conveniente para sair às conquistas? "Não vou criar uma desculpa para esse cara ou qualquer outro", disse Fisher, referindo-se a Weiner. "Mas, quando ele diz ‘não sei no que eu estava pensando’, é provável que ele literalmente não conseguisse ver, avaliar ou pesar corretamente todas as consequências disso. Ele estava concentrado no curto prazo".

AUTOCONTROLE
Mostrar poder atrapalha o equilíbrio cognitivo
NOVA YORK. Popularmente, costuma-se dizer que os homens traem mais do que as mulheres e que, aparentemente, eles têm maior tendência a esse tipo de comportamento. Entretanto, homens e mulheres são mais semelhantes do que diferentes, e suas variações neurológicas são usadas historicamente para justificar o sexismo. Entre os mais notáveis: as mulheres costumavam ser consideradas menos inteligentes do que os homens quando estudos demonstravam que seus cérebros não eram tão grandes quanto os deles.


Os críticos dessa ciência sexista também defendem que muitos estudos neurológicos sobre gênero têm grupos de voluntários muito pequenos ou outras falhas de metodologia. E nem sempre fica claro como ou se algumas diferenças neurológicas se traduzem em comportamento específico. Nossas ações também são moldadas por outros fatores, como experiência pessoal, cultura e genética.


Controle. Bianca Acevedo, pesquisadora da Fundação Científica Nacional da Universidade da Califórnia, explica que a necessidade de se manter ou demonstrar uma situação de poder atrapalha o equilíbrio cognitivo na hora de se controlar o próprio comportamento. "Por exemplo, indivíduos que precisam exercer muito controle em suas vidas diárias (como os políticos) podem ter menos recursos cognitivos para ajustar seus comportamentos em outros domínios da vida".


A maioria das pessoas é capaz de amar alguém e, ao mesmo tempo, traí-la com outra. Estudiosos argumentam que a decisão sobre agir geralmente depende de associações positivas que a pessoa tem entre um estímulo específico e um comportamento. (SR/NYT)



ESTÍMULO
Reação orgânica é imediata
NOVA YORK. Áreas do cérebro envolvidas no desejo são ativadas em um piscar de olhos – menos de 120 milissegundos, segundo Francesco Bianchi-Demicheli e Stephanie Ortigue, professores do departamento de psicologia da Universidade de Genebra.


Mesmo antes de você perceber que algum detalhe sobre uma pessoa chamou sua atenção, seja em uma fotografia online ou ao passar em uma calçada, seu cérebro inconscientemente sabe que essa pessoa ativará seu sistema de recompensas antecipa essa sensação de bem-estar.
"As pessoas têm esse ímpeto e acontece uma perda de controle", disse Stephanie, que estudou desejo e cérebro usando eletrodos colocados nas cabeças de universitários e os monitorando enquanto eles observavam fotografias de homens e mulheres em trajes de banho.


Zona S. O ímpeto afeta as pessoas profundamente em um momento entre a inconsciência e a consciência, que Stephanie chama de "zona sexual". "Nesse momento do tempo, a atenção deles fica subitamente concentrada nessa recompensa", disse ela. "De repente, todo o resto em torno deles passa a não existir mais". Na zona S, pacientes relatam que perdem a noção do tempo. O futuro (ou seja, ter que renunciar ao casamento ou emprego) nem passa pela cabeça. Incidentalmente, quando perguntada se essa euforia míope acontece em situações não sexuais – como uma vontade de comer croissant –, Stephanie diz que sim. (SR)
O golfista Tiger Woods traiu a mulher e se declarou viciado em sexo



Criado solvente universal

UFMG
Criado solvente universal

Pesquisadores da UFMG criaram um composto capaz de dissolver praticamente qualquer material orgânico ou inorgânico em até 30 minutos - exceção para vidros e plásticos. Batizado de Universol, o novo produto resolve um antigo problema que envolve muitos solventes: ele é capaz de dissolver sem alterar a composição química das amostras analisadas.
Arqueologia
Mais 370 tumbas incas

Arqueólogos peruanos começaram a catalogar 370 tumbas incas encontradas nos Andes a cerca de 3.700 m de altitude. Os pesquisadores dizem que há tumbas quadradas, circulares, muradas e que algumas estão em buracos ou sob pisos de pedra. O conjunto tem entre 500 e 600 anos e alguns dos nichos ainda contêm os restos mortais dos falecidos, dentro de cestas de vime.
 



Sol
Astro terá fase mais calma do século

Cientistas afirmam que o Sol está indo em direção a um período de calmaria fora do comum. Eles acreditam que serão os níveis mais baixos de atividades solares do século e que, perto de 2020, as manchas solares podem desaparecer por décadas. A notícia é boa, pois haverá menos interrupções em satélites e sistemas de energia no período.

Dinamarca é a Meca da inseminação artificial

Dinamarca é a Meca da inseminação artificial


Londres, Reino Unido. Hoje em dia, selecionar um potencial pai para o seu filho é tão simples quanto fazer compras pela internet, dada a quantidade de clínicas especializadas ao redor do mundo. Mas a preferência de muitas clientes por doadores de pelo menos 1,80 m e com olhos azuis fez com que a Dinamarca se tornasse uma espécie de Meca para mulheres estrangeiras que querem engravidar por meio de inseminação artificial.

E, diferentemente de outros países, na Dinamarca o doador tem seu anonimato garantido se quiser, o que fez com que não haja escassez de sêmen oficialmente examinado e testado.

Segundo dados do Departamento de Saúde da Dinamarca, em 2008, 2.694 mulheres estrangeiras foram às cidades dinamarquesas de Aarhus e Copenhague em busca de inseminação. Em 2010, esse número subiu para 4.665. As inglesas são as mais frequentes.

Como parte de uma curiosa estratégia de marketing e promoção, as amostras são levadas do banco de sêmen até uma clínica de fertilização - chamada de Clínica da Cegonha -, em uma jornada através da capital dinamarquesa, em uma bicicleta no formato de espermatozoide.

Clínicas dinamarquesas que oferecem inseminação contam com três tipos principais de clientes: casais de lésbicas, casais heterossexuais e mulheres solteiras. É essa última categoria a que mais cresce.



PET, o luxo da sustentabilidade

PET, o luxo da sustentabilidade
A artista plástica Laila Assef cria obras de arte, com material reciclável, que são conhecidas internacionalmente
RENATA MATTA MACHADO


Laila encontra a inspiração nas praias e mangues de Trancoso

A artista plástica mineira Laila Assef é a rainha da sustentabilidade, principalmente no que se refere aos materiais feitos de PET. Com seu talento, ela consegue transformar o que, para alguns, é descartável e sem utilidade em verdadeiras obras de arte. São luminárias, cortinas, abajours, móbiles e tudo que sua vasta criatividade dá conta, feitos a partir de garrafas jogadas nas praias, mangues, trilhas e matas de Trancoso, na Bahia, onde mora desde 2004.
"O trabalho é surpreendente. Em um momento, você acredita que esgotou todas as possibilidades. Mas o material abre seu universo", conta a artista plástica, que teve o primeiro contato com o PET há 15 anos, quando morava em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte, e trabalhava com alunos de escolas públicas da região.
Atualmente, Assef sente necessidade de criar objetos grandes, como um lustre de dois metros de comprimento e batizado de Alegria. "É uma necessidade de grandeza. Agora quero fazer grandes coletores de lixo, em formato de bichos, de PET. A intenção é tocar o coração dessa garotada sobre a necessidade de preservação e também falar sobre sustentabilidade", diz.
A artista plástica comenta que muitas pessoas acreditam que se levam apenas dois minutos para fazer um objeto a partir do PET. "É um engano pensar assim. Existem várias maneiras de aquecer. Além disso, a peça passa por várias lavagens. Ela é manipulada, experimentada. "A minha loja no Quadrado de Trancoso é um exemplo do que se pode fazer com o material, pois ela é feita a partir de garrafas plásticas, desde a placa, passando pelo balcão e chegando até o teto".
Assef reconhece que é fascinada pelo PET, material que considera delicado e surpreendente. "Você também pode agregar materiais diferentes, como fios de cobre e miçangas", observa Laila, que não abre mão de escolher todo o material e usar a tinta da melhor qualidade.
Sempre fui ligada a ícones e a algo que me remete a coisas agradáveis. Não tenho necessidade de me apropriar das peças que produzo. Quero trabalhar com produtos que tenham belas mensagens", finaliza.

Nas mãos de Laila, o lixo se transforma
Nascida em Belo Horizonte, a artista plástica Laila Assef começou sua carreira na moda criando estilos e estampas para sua confecção. Com o amadurecimento de sua arte, vieram a criação de quadros e o primeiro contato com o desenvolvimento de materiais feitos a partir de garrafas PET.
Assef participou de várias exposições no Brasil e também expôs sua arte em lugares como Ibiza, Miami e Nova York, só para citar alguns. Desde 2004, a artista vive em Trancoso (BA), onde inaugurou sua loja, a Cheia de Graça, localizada no famoso Quadrado.
Em 2005, decidida a conscientizar e transformar o lixo de Trancoso em arte, ela criou o Projeto Flores, em que coleta as garrafas das praias, mangues e matas. Depois de tratado, o material transforma-se em pura arte, em peças como luminárias, cortinas e qualquer tipo de revestimento que o PET e a sua imaginação permitirem. (RMM)
Nas areias de Trancoso, Laila recolhe as garrafas, que viram arte
Comentários

Juliana Monteiro de Andrade
Belo Horizonte
O trabalho de Laila está ligado a um objetivo maior - ensinar. A maioria das pessoas não disseminam conhecimento, guardam pra si qualquer descoberta. Essa alegria estampada no sorriso de Laila mostra o que se deve fazer com um dom - doar, como ela faz. Parabéns e obrigado pela beleza de suas ideias.

Negatividade: Caminho para a Essência


Negatividade: Caminho para a Essência


Odila Weigand

 
Existe um princípio criativo e unificador para o qual se dirigem todas as criaturas vivas. Muitos o veneram como Deus. Eu o venero como o Deus que toda criatura humana é em sua Essência.”(John Pierrakos, Core Energetics, Cap. 19, p. 216)

Acredito que a terapia corporal não deveria mais ser considerada como uma terapia alternativa, mas sim ocupar um nicho próprio, posição esta que já conquistou pelo seu potencial de ajudar as pessoas e pela capacidade de lidar com acontecimentos do passado e necessidades de crescimento pessoal utilizando experiências corporais, de forma muito mais eficaz do que quando se utilizam apenas os processos simbólicos.
Core Energetics é uma abordagem que evoluiu a partir das idéias de Wilhem Reich. Seu criador, John Pierrakos, foi aluno e cliente de Reich. Juntamente com Alexander Lowen criou a Bioenergética. Mais tarde, seguindo seu próprio caminho e influenciado por sua esposa Eva Pierrakos, desenvolveu uma forma de integrar espiritualidade, energia, consciência e trabalho corporal numa teoria consistente de evolução humana.
Sendo um processo para a vida e para a cura, Core Energetics utiliza abordagens corporais e vai além das metas pretendidas por outros métodos terapêuticos. É uma abordagem terapêutica que busca a integração de todos os aspectos de nossa condição humana: o emocional, o físico, o intelectual e o espiritual. Constitui um instrumento muito útil para o crescimento pessoal e para a compreensão dos relacionamentos interpessoais, pois revela os processos emocionais e energéticos que estão na origem de nossos sentimentos, pensamentos e comportamentos.


Por dezenove anos tenho sido uma terapeuta reichiana. Comecei a estudar Reich com um grupo que deu origem à Associação Wilhelm Reich de São Paulo. Posteriormente completei meu treinamento em bioenergética, e em 1986 comecei a atuar como uma treinadora local de grupos de bioenergética. Durante os primeiros 10 anos em que me dediquei ao estudo das estruturas de caráter e das resistências de caráter, com os ensinamentos de Reich e Lowen, observei que, ao aplicar esta teoria nas sessões com meus clientes, eu me sentia bloqueada. Eu não acreditava que podia ajudá-los a mudar apenas por estar trazendo à tona os problemas deles. Quero dizer, eu conhecia a teoria, mas sentia que estava faltando alguma coisa em termos de trabalho corporal, para conseguir ajudar com eficácia numa mudança de comportamento do cliente, por meio de uma abordagem que combinasse compreensão, dissolução de uma atitude de caráter e introdução de novos padrões de comportamento. Eu podia até estar ensinando a respeito de caráteres. Mas quando tentava empregar a teoria em sessões terapêuticas, acabava por trabalhar no aumento do fluxo de energia e na dissolução dos bloqueios através da respiração, do movimento, da expressão de sentimentos. Até certo ponto, isto trazia bons resultados.
Em 1989, participei de um workshop dirigido por Bennett Shapiro, um treinador de Análise Bioenergética, residente em Vancouver. Shapiro havia desenvolvido uma profunda compreensão da negatividade, tema que ele publicou sob o título de “Dando ao Diabo o que é do Diabo”. Finalmente senti que havia encontrado um instrumento para lidar com traços de caráter por meio do trabalho corporal. Shapiro também introduziu o conceito de máscara, e que por trás dela pode-se encontrar o que ele chama de diabo, na realidade o oposto da máscara. Pela primeira vez em muitos anos de prática terapêutica, fui levada a encarar as partes negativas de minha personalidade com uma atitude de aceitação, ao invés de uma atitude crítica. A proposta do trabalho analítico e corporal era reconhecerrespeitar energizar os traços negativos, criando assim uma aliança com o cliente. Propomos energizar a atitude da máscara e eliciar o sentimento subjacente. Se fizermos uma analogia com a proposta de Reich para lidar com defesas de caráter, o que estamos fazendo na verdade é por em evidência, tornar consciente e intensificar o traço de caráter. A diferença está emconotar positivamente a atitude e o traço, valorizando o esforço investido na sobrevivência na época da formação do caráter. A atitude e o traço foram incorporados como parte da identidade da pessoa. Se o terapeuta aborda essas partes com aceitação, valorizando-as, assegurando que o objetivo não é eliminá-las, o cliente não sente necessidade de ativar uma resposta defensiva de auto preservação.
Em 1994 John Pierrakos iniciou o primeiro grupo de treinamento de Core Energetics no Brasil, do qual participei. Foi uma experiência rica rever as teorias das estruturas de caráter. Percebi que estava podendo trabalhar em profundidade no auto-conhecimento, aprofundando áreas ainda novas para mim no universo da psicoterapia corporal, e que eu sentia estarem ressoando internamente como verdades profundas
Energia e Consciência como a base para a vida e para os sentimentos. Não mais a noção que é preciso deixar de fora a mente para encontrar os sentimentos.
vontade de amar como a base para a paz interior e contentamento, bem como para os relacionamentos afetivos duradouros. Em oposição à idéia de dar prioridade à busca do prazer, como fonte de satisfação, um prazer concebido como concentração de elevado nível de excitação seguida de intensa descarga dessa excitação.
A explicação transmitida por Eva Pierrakos sobre a escolha feita pela alma, antes do nascimento, para decidir em que família e em que condições vai nascer. A escolha da família e das condições do nascimento predispõe, segundo Eva, à formação do caráter. Esta escolha é feita em função das tarefas evolutivas que o Ser precisa realizar nesta vida. A evolução da alma surge como a motivação básica para enfrentar os conflitos emocionais. (Palestra Pathwork no. 34). Vistas sob esta ótica, as limitações impostas pelas nossas estruturas de caráter podem ser consideradas como oportunidades para o crescimento, e não mais como uma piada cruel imposta por um destino aleatório.
O modelo de “máscara”, “eu inferior” e “eu superior”. Para meu próprio processo e para o meu trabalho foi uma revelação quando aprendi a diferenciar entre os sentimentos de máscara e os sentimentos do eu inferior. Aprendi que os sentimentos e as atitudes de máscara são uma parte “roubada” do eu superior. Por exemplo, uma qualidade do eu superior como a intelectualidade, passa a ser utilizada para evitar o contato e encobrir sentimentos negativos. (Palestra Pathwork no. 43) Quando estamos na máscara há uma qualidade de “morte” no contato, uma falta de vitalidade, a despeito do caráter gentil ou razoável das palavras ou das idéias. Esta percepção da qualidade desvitalizada da energia possibilita reconhecer quando nós mesmos ou o outro está na máscara, diferenciando esse contato de um contato autêntico.
Como dar vida à máscara e despertar sentimentos e atitudes do eu inferior, eliciar os comportamentos negativos disfarçados, conseguindo isto através de uma compreensão analítica e uma energização corporal.
Estabelecer contato a partir do eu superior do terapeuta com o eu superior do cliente é, antes de tudo, criar um grounding para uma exploração segura das partes negativas. O eu superior é o ponto de partida e também é a meta a ser atingida. Nós partimos de um lugar de amor, o eu superior, viajamos através da raiva, do ódio, do sofrimento, do medo, do horror, da vergonha, sabendo que sempre podemos voltar àquele lugar seguro onde a conexão pode ser restabelecida por meio do anseio do coração de amar e ser amado.
Aprender que cada um tem uma missão de vida dá um sentido à inquietação interna. A missão de vida se apresenta como uma sucessão de tarefas a serem realizadas e ultrapassadas. A inquietação interior é que nos leva a sair da confortável acomodação que se cria vivendo dentro de padrões familiares, para procurar sempre novos caminhos inovadores de crescimento.John Pierrakos tinha sido parceiro de Alexander Lowen na criação da Bioenergética. Quando se separaram, John desenvolveu o seu trabalho na direção de integrar espiritualidade na terapia, pesquisando as relações entre energia e consciência, campos energéticos, energias negativas e positivas e o significado do mal.Em sua busca da espiritualidade, John Pierrakos passou a considerar S.Jorge e o Dragão como os símbolos das energias positivas e negativas. Ambos são inseparáveis, o Santo no seu cavalo branco, e o Dragão. Para alcançar a espiritualidade, nós temos que integrar nosso Dragão, ao invés de tentar matá-lo.Considero de suma importância este conceito. Eu sentia que era inútil ficar apenas apontando os traços de caráter, que também podemos ver como negatividades. A resistência se tornava impenetrável, eu perdia o contato com o cliente, o qual ficava então tentando entender intelectualmente o processo, para poder cooperar, o que resultava em nova resistência. Ou então ele fazia esforços sem fim para tentar modificar o seu modo de ser.
Hoje temos acesso a uma técnica para trabalhar com o corpo na análise do caráter. A questão é como fazer que a máscara (a camada mais exterior desenergizada) se torne consciente e como expressar a verdade da segunda camada (o eu inferior) onde a energia se encontra depositada. Esta energia fica vinculada aos sentimentos negativos, e nós precisamos acessá-los sem aumentar as defesas. Temos que nos aliar ao cliente. Ao liberar a energia contida na máscara, acontece uma expansão, que é uma experiência prazerosa. É preciso nos colocarmos como aliados destes aspectos negados do self, que a máscara se esforça por esconder, para incluí-los, e não para excluí-los. “O mal, na verdade, provém não dos sentimentos negativos, mas da negação dos sentimentos, quer sejam sentimentos negativos ou positivos. Todo bloqueio, certas doenças, todo sentimento que não é autêntico é uma negação.” (J.Pierrakos, Energética da Essência, cap. 19).
Do ponto de vista da psicoterapia, o mal e o caráter têm sua origem no relacionamento com os pais, seja na vida uterina ou na vida pós-parto. No entanto, do ponto de vista espiritual, o nosso caráter ou a nossa negatividade são uma herança com a qual nascemos, para que possamos trabalhar e transformar essas estruturas durante a nossa vida. Lembremos que Psicologia significa “o estudo da alma”.
A estrutura do caráter é uma formação paradoxal em sua natureza. Por quê? A estrutura de caráter tem por função preservar a vida, mas justamente ao fazer isso, ela cria bloqueios ao fluxo da energia vital no organismo. Esta entidade paradoxal, resultado final de nossas experiências de infância, dolorosas ou amedrontadoras, foi inicialmente criada para nos salvar, mas posteriormente ela se torna inimiga de nossa energia vital. Ela acaba se tornando um enorme NÃO, que se expressa nas contrações musculares e que é sustentada por crenças.
É através dos meandros desta dinâmica aparentemente contraditória que conduzimos nossa busca da verdade interior. “Energia orgone morta (DOR) gera crenças negativas. Energia ativa, motilidade, vibração no corpo geram crenças promotoras de vida. Reich nos ensinou esta relação. Core Energetics nos ensina que o inverso também é verdadeiro: crenças negativas sustentam a estagnação da energia e mantêm os bloqueios. Isto significa que para obter uma mudança não é suficiente apenas mover energia de sua incrustação nos bloqueios corporais. A terapia precisa esclarecer e explorar as crenças negativas subjacentes aos bloqueios corporais.” (J. Pierrakos).
Há anos, quando comecei a trabalhar com terapia reichiana, a idéia que prevalecia entre muitos psicoterapeutas corporais era que a energia estagnada era algo, como Reich descobriu, que criava e mantinha rigidez, bloqueios e traços de caráter. O terapeuta tinha que envidar todos os esforços para desmantelar a armadura e, ao fazê-lo, descarregar a energia negativa. Das ruínas da couraça e do caráter deveria surgir um ser puro e amoroso - o caráter genital - tal como idealizado por Reich.
Muitos anos de experiência profissional clínica demonstraram uma realidade diferente. Sob a rigidez do caráter existem inesperadas fraquezas. Em vez do ser puro, capaz de dar e de receber amor - o caráter genital - o que frequentemente surge das ruínas são as cicatrizes, as partes incompletas e não desenvolvidas do self , os fracassos, um vácuo, onde o desenvolvimento ficou interrompido.
Tive uma cliente, uma mulher bonita, cujo pai era frio e distante, e nunca olhara para ela com amor. Ela nunca soube o que alguém sente quando aos 3 ou 4 anos, é vista como uma pessoa muito especial, como uma filha muito amada. O pai nunca tinha dado importância a ela . Quando se tornou uma adolescente atraente, o pai aparentemente nunca a notava, sentia como se não existisse para ele. Quanto à mãe, era capaz de ficar sem falar com a filha durante até 5 meses, depois de terem discutido. A moça congelou-se. Na terapia, quando fazia movimentos de “reach out” dizendo “Eu quero”, “Eu preciso”, a energia fluía, mas ela precisava do calor e contenção do relacionamento terapêutico, para derreter o gelo. Ser tocada, ser vista, receber apoio, eram experiências que nunca tinha tido na sua infância. Eram experiências novas. Para ela, ficar “fria” é que significava vida, e procurar afeto assumia o significado de “morte”. Se ela se mantivesse aberta, procurando o afeto do pai, para ela isso poderia ser a morte. Naquela família, congelar-se, morrer emocionalmente, tinha sido a melhor estratégia para sobreviver. Sua irmã, menos afortunada, tornou-se psicótica.
É um importante passo no progresso da terapia quando conseguimos compreender que a energia que sustenta e alimenta o caráter é algo positivo. O objetivo da terapia é colocar esta energia em movimento e transformá-la, e não meramente descarregá-la de forma catártica ou de outra maneira. Antes desta compreensão, o problema maior começava justamente quando a terapia conseguia desmantelar a estrutura de caráter. Acreditava-se em desmantelar a estrutura de caráter, em processos catárticos, em descarregar a energia que fornecia apoio para o traço de caráter. No processo da terapia, isto significa muito sofrimento, depressão, longos períodos de confusão, incapacidade para trabalhar, diluição dos limites do ego e da identidade, sensações de morte, e até mesmo doenças físicas em alguns casos. O pânico, tão comum hoje em dia, é o resultado, penso eu, de um colapso repentino da energia que sustenta as estruturas rígidas de defesa, revelando partes não desenvolvidas do Self.Portanto resgatar a energia investida em atitudes negativas é uma abordagem ecológica quando consideramos o ser humano como um sistema.
O que é essa coisa chamada Negatividade?
Imagine uma criança com pais muito autoritários, uma criança para a qual qualquer sinal de rebeldia provoca ataques de ódio por parte dos pais. Esta criança aprende que o melhor meio para sobreviver é submeter-se à vontade dos pais. Ao mesmo tempo, ela cria uma barreira no seu mundo interior contra a invasão parental. Esta barreira construída com medo reprimido e raiva vai se transformar num grande NÃO contra o fluir da vida, porque sua estrutura é uma contração crônica. Ela vai prejudicar a comunicação. Futuramente essa pessoa não irá queixar-se na terapia de seu NÃO interior, mas irá se queixar de timidez, de medo de ser rejeitada, de não ser compreendida, de ser considerada agressiva mesmo quando não tinha intenção de ser agressiva. Isto acontece porque a pessoa está em contato com o lado interno da máscara. As outras pessoas podem ver o lado externo, onde a raiva vai transparecendo através do tom de voz, gestos rudes, um olhar frio. Se alguém pedir um favor a esta pessoa, ela vai escutar com atenção, e provavelmente até vai se dispor a fazer o que lhe pedem, sem sequer se perguntar primeiro se quer ou se não quer fazer o favor. O contato íntimo com o próprio ser e com suas próprias necessidades está distorcido. O medo de ser rejeitado o impede de dizer NÃO e por isso o seu SIM brota sem um envolvimento completo. A pessoa vai fazer um enorme esforço mas vai acabar achando um jeito de não fazer o favor prometido, ou de fazê-lo de modo incompleto. Ou pode também acontecer numa relação sexual, pouco antes do orgasmo, que a mulher pergunte ao parceiro: “Você tem certeza de que as luzes da cozinha estão apagadas?”
O que desejo desenvolver neste trabalho é como a Vida - fluxo, expansão, contato - assumiu o significado de Morte, e como a Morte - bloqueio, frieza, isolamento - assumiu o significado de Vida.Wilhelm Reich percebeu que o Mal em nossa cultura tende a ser segregado e associado com impulsos sexuais e destrutivos.
A esta altura de nossa evolução como uma espécie, será uma tarefa importante redimir esta energia segregada e reintegrá-la em nossas vidas. Reich compreendeu este processo do Mal e da Praga Emocional, mas entrou em colisão com a Praga em sua própria vida. Hoje sabemos que é mais eficiente dissolver as resistências do que combatê-las. A meu ver, este processo contém as etapas seguintes:
Perceber o paradoxo: o mesmo padrão que na infância significava sobrevivência, hoje está sufocando a Vida.Reconhecer o esforço desenvolvido para conseguir preservar a vida.Valorizar as forças negativas que até agora estiveram sustentando o esforço.Re-energizar o sistema paradoxal em vez de tentar eliminá-lo. Isto se faz: a) energizando a atitude negativa inconsciente; b) desvendando a crença infantil que mantém a negatividade; c) integrando na consciência esses elementos; d) pondo o cliente como agente e não como vítima.Alinhar esta energia na mente, no corpo e nos sentimentos e direcioná-la para um objetivo construtivo. Criar novas crenças construtivas associadas com os novos objetivos.O Mal é o resultado da distorção da energia vital que se volta contra si mesma. O mal veio a ser associado com o diabo, com as partes inferiores do ser, com a escuridão. Excluído da consciência, ele cria um território para si próprio. Onde? Será possível que ao excluir algo da nossa consciência também estamos expulsando isso de nós? Infelizmente não é verdade, nós não nos livramos do Mal. Apenas conseguimos afastá-lo para longe da percepção consciente. Onde? Em nosso corpo. Este território do Mal veio se instalar na região bloqueada e segregada abaixo do diafragma - no abdômen, na pélvis e também nas costas. Lowen diz que nós estamos vivendo nossa verdade quando estamos em contato com nossa energia sexual que está sediada na pélvis. Os Orientais ensinam que o centro HARA, localizado no baixo abdômen, é a sede da vitalidade do corpo e comanda a saúde sexual.
Portanto, se na pélvis está a sede do mal, ali também está a fonte da vida e do prazer. Este “mal” precisa ser libertado, devemos resgatar esta energia e reinvesti-la com seu significado original - anseio pela vida.
Isso parece lindo na teoria, mas a última coisa que desejamos fazer é explorar este território, porque tememos a escuridão, onde as sombras projetadas tomam a forma de monstros na imaginação infantil. Estes monstros nos amedrontam, mas eles são os guardiães das partes mais vulneráveis e menos desenvolvidas de nosso ser.
O Dragão em nosso Inconsciente
Joseph Campbell em “Poder do Mito” diz que costumamos pensar que o Ego é o Centro, que nós somos aquilo que temos consciência. Isto é um erro. A imagem do mal, a serpente que tentou Adão e Eva, o Dragão, estão associados à escuridão e à sexualidade na civilização judaico-cristã.
São Jorge matando o Dragão é uma ação constante em nossa vida. Ela nunca acaba. Representa o conflito entre o consciente e os impulsos inaceitáveis do inconsciente. Joseph Campbell diz: “Psicologicamente o Dragão representa o apego de alguém ao seu próprio pequeno ego. Nós somos prisioneiros em nossa própria caverna de dragão. O objetivo da terapia é liberar as forças de nosso centro.”
O Dragão Chinês é diferente: ele representa a vitalidade dos pântanos e emerge batendo no seu ventre e rosnando ameaçador, diz Campbell. O Dragão Chinês tem uma qualidade adorável, ele liberta a generosidade das águas.
Mas o Dragão, para nós, ao contrário da cultura oriental, reside num pântano estagnado, uma região associada com energias e material do abdômen (o pântano masoquista, sinônimo de estagnação). Por vezes o Dragão se esconde numa caverna de onde ruge ameaçando aqueles que se aproximam. Você já viu alguém com essas atitudes? Quando o sentimento de vulnerabilidade está prestes a emergir, a pessoa se transforma e começa a intimidar? Começa a mostrar o Dragão para não ter que revelar a suavidade escondida do seu coração, embora o coração, como a princesa aprisionada na caverna, esteja ansiando pela liberdade.
“Terapia é uma questão de Amor. É o Amor que Cura”, diz John Pierrakos. O Príncipe combate o Dragão para libertar a princesa. Nas velhas histórias o Dragão precisava ser morto. Nas versões modernas, o Dragão se retira, e não precisa mais morrer. Ele poderia ser transformado em guardião da liberdade, um auxiliar da princesa, que representa o coração.
O Negativo quando energizando se torna Positivo
Isto é simples mas muda muito a maneira de entender e de praticar psicoterapia.Quando nascemos, somos cheios de amor. É por isso que os bebês, e mesmo os animais recém-nascidos, despertam sentimentos de amor, eles abrem nosso coração. Guardamos na lembrança o tempo anterior à época em que fechamos os nossos corações. Com o decorrer do tempo, começamos a criar uma camada protetora; nós precisávamos desta camada quando crianças, mas atualmente esta camada protetora passou a ser a nossa identidade. Ela foi criada pelas nossas frustrações que se transformaram em raiva, medos transformados em inibições e timidez, abandono transformado em tristeza. Ali nós armazenamos ciúme, arrogância, desdém, ironia, cobiça, competição destrutiva, exibicionismo e ódio, que não passa de raiva congelada.
Mas se nos revelássemos abertamente com estes traços, ninguém iria nos querer e, mais importante ainda, iriam nos achar muito feios. Erguemos então uma fachada socialmente aceitável - amigável, prestativa, a imagem da doçura. Ou ainda a máscara do indivíduo durão, que não chora, ou da pessoa séria que está sempre trabalhando.
A essência de todo ser humano é sempre bela. Ela tem força vibrante, e pulsa num ritmo muito rápido. Sua qualidade é o amor. John Pierrakos, em estudos com fotos Kirlian que mostram os campos energéticos humanos, descobriu que a segunda emoção que afeta mais fortemente o campo energético humano é o ódio. Como você pode imaginar, a primeira é o amor.
Quando queremos lidar com nossa parte negativa, devemos primeiro reconhecer e afirmar a beleza que todos possuímos. A Beleza da Alma.
Carregamos em nosso inconsciente um medo primitivo de que o ódio possa sobrepujar o amor e destruir tudo, como disse Melanie Klein. Precisamos acreditar na bondade básica, perceber o ser amoroso dentro de nós, antes de ativar as forças da negatividade.
Aqui surgem duas questões interessantes relacionadas com a terapia:
Como estas duas camadas protetoras operam (a camada social ou a máscara, e a segunda camada, a camada da negatividade)? E qual é a função delas?
Primeiro - Como? Criando contrações crônicas que impedem manifestações indesejáveis. Dando uma direção diferente, mais aceitável aos nossos sentimentos. Por exemplo, uma pessoa diz em voz queixosa “Vai tudo mal, ninguém reconhece meu valor”, etc. Sob este socialmente aceitável papel de vítima estão bem escondidos, a raiva, a amargura, a destrutividade, e também um medo profundo dos sentimentos de ternura. Esta pessoa é cruel consigo mesma e com os outros porque ela não permite prazer a si mesma, e rouba dos outros a energia prazerosa.
A segunda pergunta vem depois - Qual é a função da camada protetora? As contrações impedem o fluxo da energia, diminuem a intensidade do impulso. Esta mesma pessoa, quando excitada, poderia manifestar seu ódio de forma virulenta. Ela pode ser explosiva ou destrutiva, por exemplo, sendo mordaz. Assim que descarrega o ódio, volta a representar o seu papel de vítima. Desta posição, ela espera ganhar simpatia, sentir-se amada, enquanto atrai os outros para tentar resolver os seus problemas. Claro que não vão conseguir resolver estes problemas, e no fim a vítima estará triunfante, e os outros exaustos. Como terapeutas, sentimo-nos tentados a atacar este comportamento, até ficamos irritados com a pessoa, e tentamos fazer com que ela mude. Com medo de ser abandonada, a pessoa faz esforços para mudar, e inibe suas queixas. Mas, ficando calada, ela se torna deprimida, porque sua via de escape agora ficou bloqueada, agora não tem saída. Sua garganta fica apertada para que não possa falar, a respiração fica curta para rebaixar o nível de energia e tentar restaurar o equilíbrio energético, uma vez que agora o caminho da descarga pela queixa ficou bloqueado.
A pessoa pode até explodir, agir de modo inadequado e sentir-se culpada, como conseqüência. Ou ainda explodir num sintoma, num modo mais primitivo de descarga do que a queixa. Tudo isso acontecia com freqüência quando, utilizando a Análise de Caráter, nós só tínhamos o recurso de interpretar ou de mostrar à pessoa o que ela estava fazendo.
Agora, o que podemos fazer? Podemos energizar estas duas partes - a exterior, a parte social, em geral submissa e “boa”, e também a parte interior, que é secreta, poderosa, triunfante, aquela parte que saboreia o seu triunfo em segredo, que secretamente goza e pensa : “ninguém vai me dominar”, “você não vai ganhar a partida”, “você não vai conseguir me ajudar”.
Reich nos ensinou a compreensão inicial do paradoxo que forma a estrutura de caráter, mas foi só quando encontrei Ben Shapiro na Bioenergética, e John Pierrakos, criador da Core Energetics, que finalmente achei uma resposta satisfatória, uma técnica para lidar com esta questão. O trabalho pode ser feito sem aumentar a ferida e sem humilhação para o cliente, sem acirrar a resistência - a qual muitas vezes emergia sob forma de sintomas somáticos, porque a saída caracterológica havia sido bloqueada pela interpretação.
Este é um trabalho de conscientização, e a participação consciente do cliente é essencial. A energia da negatividade é o próprio impulso de vida. Quando bloqueada, congelada, e distorcida, ela se volta contra si própria assumindo alguma forma diabólica.
“Não importa quão feias sejam na realidade algumas destas manifestações - por exemplo a crueldade, o desprezo, a arrogância, o egoísmo, a indiferença, a cobiça, a trapaça, e muitas outras , - você pode conseguir compreender que cada um destes traços é uma corrente de energia que na sua origem é boa, bela e geradora de vida. Pesquisando nesta direção, você acabará entendendo e experimentando como isto é verdadeiro especificamente; como este ou aquele impulso hostil é originalmente uma força boa... Você precisa reconhecer plenamente que a maneira pela qual a energia se manifesta é indesejável, mas a corrente de energia que produz esta manifestação é desejável em si mesma. Porque ela é formada pelo princípio da vida. Ela contém consciência e energia criadora. Ela contém todas as possibilidades de manifestar e expressar vida, de criar novas manifestações de vida. Ela contém o melhor da vida”. (Palestra Pathwork no. 184).
Vamos ilustrar com a história de Laura. Ela tem cerca de 35 anos de idade, e está participando de uma sessão de grupo. Já havia feito um considerável trabalho terapêutico antes, cresceu como pessoa, tem uma boa situação profissional, um namorado afetuoso que quer se casar com ela. Mas Laura não acredita no seu próprio valor, diante do que já conquistou, e leva a vida com ansiedade, preferindo fugir de tudo o que está acontecendo de bom em sua vida atual.
Numa sessão de grupo, Laura pede para trabalhar com a sua dificuldade em aceitar as mudanças na sua vida, inclusive a perspectiva de casar-se com o namorado, que desfruta de confortável situação econômica.
Terapeuta: Qual frase expressa este problema, para você?
Laura (primeira frase): “Se eu sentir prazer na vida, eu morro” (crença errônea da infância). A terapeuta pede a Laura para fazer grounding, a fim de energizar as pernas e a pélvis, e repetir a frase com uma expressão de força, usando a raquete de tênis para mobilizar a energia agressiva bloqueada em suas costas.
Então a terapeuta sugere a segunda frase: “Não vou sentir prazer” (para apossar-se da própria negatividade inconsciente). Onde o terapeuta encontrou esta frase? Na primeira frase. A terapeuta transforma a frase inicial, de modo que agora a paciente deve se colocar como agente. Ela se apossa e percebe sua responsabilidade na criação da negatividade.
O paciente deve se manter em grounding e repetir a frase “Eu não vou sentir prazer” mobilizando a energia agressiva nas costas com a raquete. (Para esta moça, que precisava fortalecer as costas, a raquete de tênis foi usada, mas para outros clientes podemos sugerir outros exercícios terapêuticos como torcer uma toalha ou o exercício de cair ou chutar).
Agora o terapeuta sugere que a cliente se incline na posição de grounding invertido enquanto vai integrando o significado das frases negativas na parte inferior do corpo e na consciência.
Quando a pessoa se inclina no grounding invertido, a energia desce e flui por todo o corpo. A energia negativa foi mobilizada de sua incrustação inconsciente. Já podemos passar para a fase em que energizamos o caminho desejado, redirecionando a energia de modo construtivo.
O terapeuta sugere (3a. frase): “Eu me abro para o prazer”.Em vez da frase sugerida, Laura fala o que lhe vem à cabeça: “Eu me jogo no abismo do prazer”. A frase de Laura expressa a sensação de que deve morrer se desafiar aquela parte que dizia: “Se eu sentir prazer, eu morro”.Reich mostrou como a ansiedade da morte aparece juntamente com a ansiedade do prazer. A terapeuta pede a Laura que repita a frase, repetindo com voz forte e ao mesmo tempo utilizando a raquete. Ela deve manter-se em grounding e ficar repetindo: “Eu me jogo no abismo do prazer”, enquanto bate com a raquete, energizando também essa atitude negativa.A terapeuta sugere a quarta frase: “Eu digo sim ao prazer”. Depois de tomar posse da negatividade e de expressar medo, esta nova frase pode ser energizada com a raquete de tênis. A energia foi canalizada através do ego consciente e não sobrepujando o ego. O movimento é agora fluido, belo e gracioso, o corpo se abre e brilha. A terapeutanegocia com o ego da cliente, buscando uma afirmação que seja aceitável para o ego. A frase “Eu digo sim ao prazer” foi aceita pelo ego, enquanto a frase “Eu me abro para o prazer” representava um passo grande demais.Para finalizar o exercício, fazer grounding, inclinando-se para frente para integrar esta energia, agora associada a um novo significado.
O movimento de expansão prazeroso visto no corpo de Laura está agora conectado com a vitalidade do organismo. Quando criança, com um pai violento, ela tinha aprendido que o movimento expansivo significava morte, por isso ela se sentia ameaçada caso expressasse prazer. Assim, na mente da criança operou-se uma mudança: o que era vida, expansão, associou-se com a idéia de morte. A criança aprendeu que só podia sobreviver se evitasse o prazer.
1. VIDA assume significado de MORTE (trazendo a frase que expressa o conflito) “Se eu sentir prazer, eu morro”.
2. MORTE assume o significado de VIDA (crença errônea) “Se eu matar meu prazer, eu poderei viver”
3. MORTE (tornando-se o agente) “Não vou sentir prazer” A energia desce e flui pelo corpo. Estava bloqueada na cabeça, amarrada ao medo e mantida lá pela crença errônea
4. VIDA (instalando uma nova crença) A Terapeuta sugere: “Eu me abro para o prazer” A cliente ainda tomada pelo medo” “Eu me jogo no abismo do prazer” A Terapeuta sugere “Eu digo sim ao prazer
Como o impulso para a vida se transforma em medo e destrutividade?A criança, quando frustrada, num primeiro movimento se rebela e tenta expressar raiva. O sentimento provoca medo, ela precisa inibir este movimento dirigido para fora. Para tal, ela contrai os músculos, retém a respiração e retem dentro de si o movimento agressivo de buscar o que necessita.Ocorre a mudança: a energia despendida num movimento de preservação de vida (busca no exterior e protesto) fica congelado, transformado em contenção, a fim de preservar a vida. Inicialmente era um desejo de vida, um movimento agressivo para o exterior, que é o movimento básico quando precisamos conquistar algo. Agressão é também progressão, é energia se movendo para cima em nossas costas, movimento para fora através dos olhos, da boca, dos braços e das pernas. Isso é que nos move para frente na vida.Nesta criança, o que era vida assumiu o significado de morte (expressar-me, ser quem eu sou.) O que era morte tomou o significado de vida, de sobrevivência (reter, guardar os sentimentos dentro, submeter-se). Ao mesmo tempo, ocorre a mudança de significado que acompanha a troca do movimento expressivo por uma contração crônica. O movimento é des-energizado, a energia é gasta em manter o bloqueio. O pensamento “se eu me expressar eu vou me sentir abandonada e vou morrer” sustenta esta dinâmica e o medo primitivo, infantil, cria condições para que esta dinâmica se repita pela vida afora. Era isto que Freud chamava de compulsão à repetição, e que nós denominamos resistência de caráter. É a compulsão para recriar a dor da infância.Na terapia precisamos compreender e revelar esta dinâmica inconsciente. Precisamos energizar estes pensamentos e sentimentos silenciosos e negativos, verbalizá-los, energizar a sua expressão, pondo a energia em movimento. Não adianta pedir a Deus que não nos deixe cair em tentação: isso seria o mesmo que tentar exorcizar, excluir. A saída é energizar e incluir.Se energizamos estas partes negativas, a energia se descongela e é novamente transformada em fluxo de vida. Então nós podemos direcionar este fluxo para dar vida a novas imagens, pensamentos e sentimentos que sejam mais adequados, favoráveis à saúde e bem estar.
Pensamentos e sentimentos são condicionados por fatores energéticos - carga, descarga, pulsação, intensidade, grounding, centramento. Se a energia é retida e estagnada, ela se transforma e gera pensamentos, sentimentos e atos literalmente distorcidos. De alguma forma, esta distorção fica também visível no corpo. Por exemplo os músculos peitorais que participam da respiração, também têm uma função de buscar fora algo que eu quero e de manter longe de mim aquilo que eu não quero (colocar limites). Estes músculos participam também na torção do braço. Quando contido cronicamente, os ombros e braços ficam presos, bem como a respiração. Um peito cronicamente contraído conta uma história de abandono e isolamento mas também cria condições para novos abandonos e perdas na vida atual.
Resumo
Neste artigo, tenho como objetivo propor uma maneira de trabalhar com Análise de Caráter, usando o trabalho corporal associado ao trabalho verbal, para confrontar ao mesmo tempo bloqueios musculares e bloqueios de caráter. Como despertar o significado inconsciente contido nos bloqueios energéticos, colocá-los em frases, energizar frases de negação de vida, e substitui-las por frases de afirmação de vida, e colocar energia nestas novas frases de afirmação de vida. Os bloqueios são considerados um NÃO à vida, e consequentemente uma forma de negatividade.Uma criança nasce como um feixe de energia amorosa, porém desprotegida. Frente a um ambiente hostil, toda esta energia amorosa, positiva, ou mesmo a energia agressiva (uma exigência infantil por calor e contato, luta pela vida, choro para obter alimento, e gritos quando não atendida) toda esta energia fica congelada, paralisada, distorcida.
A energia negativa é apenas a energia positiva de amor (contato) e agressão (progressão, trabalho, conhecimento) voltada contra si própria. Isto ocorre durante o desenvolvimento da criança e mesmo do adolescente, mas os adultos também criam distorções.
Vamos rever as etapas para trabalhar esta dinâmica delicada:
Estabelecer contato a partir da essência amorosa do terapeuta com a essência amorosa do cliente. O cliente precisa sentir-se apreciado e sentir que ele é bom, capaz e valioso.Reconhecer e energizar a forma e a fala da máscara.Reconhecer o valor da máscara para a manutenção da vida num momento em que aquela escolha era a melhor para a criança. Valorizar o esforço necessário para manter a máscara.Verbalizar a negatividade inconsciente que em geral diz o oposto do discurso da máscara. Energizar esta parte. Responsabilizar-se por ela. Tornar-se agente.Uma vez mobilizada a negatividade, assumida conscientemente, podemos acessar os sentimentos vulneráveis da criança ferida, ou os sentimentos de ternura e amor do coração. Ou então a força interior que provém da energia agressiva dirigida para a vida. Podemos instalar uma nova crença que fique no lugar de uma antiga, e podemos reforçar esta nova crença. Quando a criança nasce, ela precisa de colo, aceitação, espelhamento. Passar a acreditar que suporte, aceitação e espelhamento podem ser encontrados em nossa vida atual, mesmo que não tenham sido proporcionados na infância. Há várias possibilidades de atuar para a cura. Como o cliente está muito aberto, será necessário um ambiente terapêutico que ofereça apoio e proteção .
O caminho para a espiritualidade passa por amorosamente reconhecermos e aceitarmos nossas partes inaceitáveis: o personagem cruel, mau, invasivo, a vítima. Incluir, e não excluir estas partes.
Como diz Susan Thesenga em O Eu Sem Defesas: “Tal como na história da Bela e a Fera, só com amor e aceitação podemos redimir a fera que existe dentro de nós. A boa notícia é que não existe nada de tão escuro na psique humana que não possa ser transformado, se levado à luz da consciência.”


BIBLIOGRAFIA
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Thesenga, Susan O Eu sem Defesa. SP, Cultrix, 1994.


Esta monografia foi apresentada depois da conclusão dos 4 anos de treinamento regular em Core Energetics e de um 5o ano - Educação Continuada - terminado em outubro de 1998, no Brasil. Este treinamento foi ministrado por John Pierrakos, MD e pelos membros do Instituto de Core Energetics. A todos os professores, minha gratidão pelo seu afeto e pelo crescimento que me ajudaram a adquirir. Quero agradecer também aos assistentes que acompanharam nossos grupos de treinamento, pelos seus conhecimentos, disponibilidade e apoio.