segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

A possivelmente complicada fase da Adolescência

Wockton Santos
Há alguns anos atrás, acreditávamos que o filho ou a filha desejava os pais, sempre de forma oposta ao próprio sexo. Denominam esse processo de complexo de Édipo – Uma alusão à alegoria grega. Sobre a alegoria de Édipo, nos conta a mitologia, que após a mãe ter vivido vários anos longe do filho, o reencontrou em uma união conjugal entre os dois.
Essa tragédia grega era usada como metáfora da busca “inconsciente” de relação dos filhos com o pai ou com a mãe.
Outra teoria surgiu. Esta, fazendo apologia à separação dos pais com os filhos, haja vista ser essa ação que possibilitaria ao individuo a formação de uma identidade própria. A convivência mais íntima de filhos com pais, por exemplo, dormindo no mesmo quarto, seria uma “heresia”, pois os tornariam medrosos, inseguros.
A tese é que há a internalização da autoridade paterna/materna, e assim o sujeito se abstém de um referencial externo.
Mas, e os adolescentes , o que acham disso? Ou o que verificamos na estrutura de pensamento que de fato ocorre?


Pois bem!
As dificuldades vivenciadas por alguns adolescente de fato são reais. Contudo há muitas pessoas que passam por essa faixa etária, atravessam, sem vivenciar essas dificuldades esperadas por profissionais da área psicológica. Então por que criar padrões, esteriotipar essa fase da vida?
Nos disse um colega filósofo antigo, um pré-socratico, que “o Homem é a medida de todas as coisas”. O que Herácrito está nos dizendo é que cada um vivenciará as coisas, conforme a sua representação de mundo. Ele está validando a subjetividade. Pois as dificuldades naquela fase estão instrinsecamente ligadas ao modo como cada um vê o mundo.
Acontece que essa visão de seu mundo, às vezes, é formada por alguns agendamentos, por repetição do que viu no mundo do outro, e tantas outras possibilidades. Mas o fato é que são incorporados a esse mundinho que está se “formando”, em alguns casos, modos de ser de pais, ou de amigos etc. Entram como implantes, e mesmo estranho, são incorporados na malha intelectiva do adolescente. Além dessas possibilidades ainda tem que conviver com as mudanças do corpo.
Alguns passam sem dificuldades por essa fase que denominam de puberdade. No aspecto físico, mecânico, é passageira esta fase, mas há quem não tenha saído dela, e mesmo já estando na idade, cronologicamente falando, adulta. Por exemplo: no aspecto emocional. Afinal, para muitas pessoas a idade do corpo é muito diferente da idade emocional.
Quando atendo jovens no consultório, são muito comuns, as dúvidas relativas ao corpo e dessas, às vezes derivam outras duvidas envolvendo a sexualidade. Os temas como a masturbação, carícias, orgasmo e homosexualidade, são dúvidas freqüentes da maioria dos adolescentes, mas são questões que se resolverão, para muitos, ao longo da vida.
Mas muitos se queixam do distanciamento dos pais destas questões prementes a eles.
Da mesma forma, no consultório, recebo queixas de pais que não conseguem encontrar seus filhos. Mas ao dizerem isso, também afirmam que almoçam juntos, tem um convívio familiar muito bom, os levam ao colégio e ao médico quando necessário, no entanto, não os encontram existencialmente, para o desejado diálogo.
Na filosofia clinica, essa situação denominamos de espacialidade. Significa como localizar existencialmente uma pessoa. Historicamente localizamos pelo corpo, vemos o corpo e dizemos que a pessoa esta naquele lugar, nesse lugar. As vezes, algumas pessoas, quando querem localizar uma pessoa, procura pelo corpo. Segundo o Filósofo Clinico Lúcio Packter, “isso usualmente se revela muito pobre, bastante distante da realidade de algumas pessoas. Encontrar uma pessoa vai muito alem disso!”
Talvez, compreender isso, diminui certos problemas existentes hoje nas relações com os filhos adolescentes.
Encontramos amparo nessas afirmações nas obras de Maurice Merleau Ponty, filósofo Frances, de origem judaica, que trabalhou muito esses deslocamentos existenciais, como eles se passam, e mostrou que às vezes há pessoas que consegue transitar em várias acepções, em vários momentos. Tem gente que tanto conseguem ficar no próprio mundo como também ir ao mundo de outras pessoas.
As vezes há adolescentes que são muitos inversivos, pessoas que vivem em si, num mundo bem próprio, vivem existencialmente num mundo que é uma ilha, e as vezes pra encontrar essas pessoas, é necessário que os pais saiam do próprio mundo para adentrar essa ilha, ir ao mundo dessa pessoa inversiva, ir nessa ilha pra conversar com ela.
Mas há outras pessoas que tem facilidade de sair do próprio mundo e ir ao mundo de outras pessoas, e as vezes sua epistemologia, axiologia, emoção e ou buscas estão ligadas a esse tópico, que podem levar a um desfecho curioso. Isso é demonstrado, muito provavelmente, em situações como o episódio de Columbine, onde dois garotos foram acusados de matarem 13 estudantes, conforme nos mostra o filme “Elefante” de Gus Van Sant. No caso real, as autoridades debitaram a barbárie à musica de Marlin Manson. Na trama cinematográfica, a reação dos adolescentes foi em função de provocações ocorridas na escola.
Se a música foi determinante, como podemos afirmar? Mas as autoridades vêem a mesma perversidade nos jogos temáticos violentos em computadores. Acreditam que há possibilidades de adolescentes fazerem a mesma barbárie, não mais motivado por uma musica e sim por estímulo de uma prática virtual.
Mas não imaginam que também muitos deixam de puxar o gatilho das metralhadoras reais, exatamente por assim já fazer de forma virtual.
Isso me leva a pensar que aceitar essa proibição é aceitar que Machado de Assis não seja lido pelos adolescentes. Afinal quantos ele mata em suas obras, ainda que seja sem puxar o gatilho!
A contra indicação de jogos violentos não pode ser generalizada. Não por esse argumento, pois pode ser antídoto também em alguns casos. Certos sintomas semelhantes, as vezes advém de causas diferentes. O que precisa são os pais conhecerem quem são seus filhos, os professores saberem quem são seus alunos e como eles aprendem. Como vão em direção ao desfecho diante de suas buscas, quando houver, enfim, conhecer o mínimo de sua estrutura de pensamento.
Veja que não é nada complicado como por exemplo na demonstração[2][2] que exponho a seguir: um pai ou uma mãe, que sabem que seu filho é muito inversivo, muito recolhido, prefere o silêncio o tempo todo que está junto aos pais. Entre eles o elenco de palavras não vão além dos cumprimentos obrigatórios, pelos bons costumes. Claro que isso ocorre exatamente porque esse filho está sempre em seu mundo existencial. De outro lado está o pai ou mãe que quer encontrá-lo! O que é diferente de encontrar com o filho! Afirma o Criador da Filosofia Clinica, Lucio Packter. Eles podem. Esses pais podem ir ao mundo existencial do filho. Como fazer isso? Como ir a esse mundo do filho?
Na Filosofia Clínica, o prof. Lúcio nos ensina que, basta verificar os caracteres que habitam esse mundo do filho. O pai, a mãe, o professor, as vezes você vai encontrar seu filho, seu aluno, jogando vídeo game com ele, jogando futebol, indo à praia, na biblioteca que ele freqüenta, teclando no MSN com ele, indo ao mundo que ele usualmente esteja, num importa onde é esse mundo. Mas será lá que vocês se encontrarão.
Existem outras situações que podem ser problemáticas para alguns adolescentes, na relação com a família, com o mundo ou consigo mesmo. Entre elas, a dependência para pagamento de suas despesas diárias, a aprendizagem escolar, a falta de busca ou dúvidas do que planejar para seu futuro, a escolha de companhias, o contato com drogas e a liberdade.
Na relação com a família, não há um modelo certo, que os pais consultam para encontrar qual o melhor caminho, ou como agir diante de determinadas circunstâncias. Porém, serão apenas movidos pela intuição ou uma relação pedagógica de erros e acertos, se, não buscar conhecer quem é o seu filho, quem é sua filha. Porque levar uma relação baseada em um padrão, como por exemplo: vigiar e punir, é incentivando que o filho aprende, ou não basta ser pai, tem que participar, é pelo amor que ele vai ser o filho esperado, ou ainda, perdoando sempre que ele entenderá o melhor caminho. Tudo isso pode ser exatamente o que vai levar o filho, o aluno, para fora dos “trilhos”, conforme for a estrutura de pensamento do filho que for educado por modelos prontos, sem levar em conta a composição da sua estrutura de pensamento. Aliás, o Filósofo Sócrates já havia mostrado o caminho: “conheça a te mesmo”.

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