terça-feira, 19 de julho de 2011

Exercícios mentais ajudam na solução de problemas diários

Exercícios mentais ajudam na solução de problemas diários
O "conhecimento perceptual" permite ao cérebro entender questões abstratas

BENEDICT CAREY
The New York Times

NOVA YORK, EUA. Durante anos, os currículos escolares enfatizaram a instrução de cima para baixo, principalmente em matérias como matemática e ciência. Aprenda as regras primeiro - teoremas, ordem das operações, leis de Newton - e depois resolva a lista de problemas no fim do capítulo.

Entretanto, pesquisas recentes constataram que os verdadeiros especialistas têm algo tão valioso quanto dominar as regras: o instinto, uma percepção instantânea do tipo de problema que devem resolver. Como o goleiro de futebol que consegue "ler" os chutes com antecedência ou o mestre de xadrez que "vê" a melhor jogada, eles desenvolveram o olhar.

Agora, um pequeno grupo de cientistas cognitivos argumenta que escolas e alunos poderiam tirar muito mais proveito dessa habilidade "de baixo para cima", chamada aprendizado perceptual. Afinal, o cérebro é uma máquina identificadora de padrões que, quando está concentrada adequadamente, pode aprofundar a compreensão que a pessoa tem de um princípio, segundo apontam novos estudos. A melhor parte é que o conhecimento perceptual é formado automaticamente.

Não existe motivo para alguém com olho bom para moda ou jogos com palavras não poder desenvolver uma intuição para classificar rochas, mamíferos ou equação de álgebra, se houver um mínimo de interesse ou motivação. "Quando enfrentamos problemas na vida real, a primeira pergunta sempre é: ‘O que estou vendo? Que tipo de problema é esse?’", disse Philip J. Kellman, psicólogo da Universidade da Califórnia. "Qualquer teoria sobre como aprendemos pressupõe conhecimento perceptual, ou seja, que sabemos quais fatos são relevantes e o que procurar", diz.

Kellman completa que o desafio para a educação é descobrir "o que precisamos fazer para que isso ocorra de forma eficiente".

Padrão. Há muito tempo, os cientistas sabem que o cérebro registra padrões sutis de forma subconsciente, bem antes de a pessoa perceber que está aprendendo.

Num experimento famoso de 1997, pesquisadores da Universidade de Iowa descobriram que pessoas participando de um jogo de apostas simples com baralhos de cartas relataram "gostar" de alguns baralhos mais do que outros muito antes de perceberem que alguns deles causavam grandes perdas. Alguns participantes perceberam as diferenças entre os baralhos após apenas dez cartas.

Os carteadores especialistas desenvolvem esse tipo de "radar perceptual sensível" da forma antiga, é claro, através de anos de estudo e prática. Ao mesmo tempo, existem evidências crescentes de que certo tipo de treinamento - visual, acelerado, focado em classificar problemas em vez de resolvê-los - pode rapidamente formar uma intuição.

Numa experiência recente, por exemplo, os pesquisadores descobriram que as pessoas eram melhores para distinguir os estilos de pintura de 12 artistas desconhecidos depois de verem coleções misturadas de obras de todos eles do que quando viam uma dezena de obras do mesmo artista e só depois passarem para o pintor seguinte. O cérebro dos participantes começou a captar as diferenças antes de eles conseguirem expressá-las.

"Assim que o cérebro tem um objetivo em mente, ele liga o sistema perceptual para pesquisar o ambiente" atrás de pistas relevantes, disse Steven Sloman, cientista cognitivo da Universidade Brown. Com o tempo, olhos, ouvidos e nariz aprendem a isolar tais sinais e descartar a informação irrelevante, em contrapartida, aguçando o raciocínio.
APLICAÇÃO
Intuição pode ser estimulada
Nova York. Os atalhos sutis são o centro da intuição perceptual. Com prática, os neurônios no córtex visual se especializam em identificar padrões típicos. Encontrá-los libera recursos mentais para o raciocínio dedutivo, para conferir respostas ou passar a novos problemas.

Essa intuição perceptual não é trapaça – é o que os grandes especialistas fazem. No caso de gráficos e equações, ela inclui a realização de julgamentos rápidos sobre onde as linhas deveriam interceptar os eixos e sobre sua inclinação, mesmo quando isso não é tão óbvio.

Técnica. Superficialmente, pelo menos, pode lembrar as abordagens adotadas pelos cursos pré-vestibulares, que empregam estratégias para se ganhar tempo e palpites fundamentados. Contudo, segundo os pesquisadores, existe uma diferença. Os cursinhos ensinam a fazer a prova, mas as ferramentas do treinamento perceptual visam a habilidades subjacentes – manipular frações, equações gráficas. Ou seja, não é o quanto você se sai bem, mas o quanto você aprende bem.

Idealmente, o treinamento perceptual faz mais do que injetar vida em princípios abstratos, da mesma forma que consertar motores cria uma experiência vívida da mecânica da combustão interna. Ele também prepara os alunos para aplicarem os princípios em outros contextos. Essa capacidade de transferir, como é conhecida, é fundamental para o raciocínio científico e é um dos maiores objetivos de professores de todos os níveis. (BC/NYT)
Como melhorar a percepção das coisas
Estimule a memória: Faça atividades diárias como jogar xadrez e outra tarefas simples como recordar fatos do dia a dia (o que comeu no almoço, por exemplo).

Cultive a atenção: Separe os fatos mais importantes dos que ocorreram durante o dia e procure guardá-los.

Pratique exercícios mnemônicos: Associe fatos a imagens e procure guardá-los na memória. Pense, por exemplo, em um alimento e imagine todas as suas características a ponto de sentir prazer.

Hidrate-se: A falta de água no corpo tem um efeito direto e profundo sobre a memória; a desidratação pode levar à confusão do pensamento.

Relaxe: A tensão e a ansiedade prejudicam a memória e a capacidade de se concentrar em algo.

Faça atividade física: Uma simples caminhada diária é o suficiente para deixar a mente mais atenta.

Durma bem:O repouso cerebral é muito importante para se ter uma boa memória. Quem sofre de insônia tem o raciocínio prejudicado.
TREINAMENTO
Conhecimento. Cientistas argumentam que os alunos podem aprender melhor ao usarem habilidades perceptuais
Percepção correta reforça a persistência
NOVA YORK. Bons professores de todos os níveis de ensino já têm técnicas próprias para acelerar o processo de aprendizado através de situações perceptuais – cartões de multiplicação, dicas para resolver problemas com palavras, rimas heurísticas.

Mesmo assim, cientistas trabalham para sintonizar os olhos dos alunos de forma mais sistemática e construir a compreensão de conceitos muito abstratos. Esse é o caso das frações. A maioria dos alunos norte-americanos a partir da 6ª série, apesar de entender o que as frações representam, não se sai tão bem quando é testada sua habilidade de transformar uma fração em outra através de adição ou subtração.

Exemplo. Em um estudo de 2010, pesquisadores das universidades da Califórnia e Pensilvânia fizeram alunos da 6ª série usarem um programa de treinamento da percepção em um computador. No experimento, uma fração aparecia como um bloco. Os estudantes tinham que fatiar os blocos em frações específicas – por exemplo, dividir o bloco em quatro pedaços e separar três pra demonstrar 3/4. Depois, eles tinham que reconstruir um novo bloco correspondente a uma fração diferente – dividir um bloco igual e agregar mais peças para formar 7/4. De um semestre para o outro, muitos alunos conseguiram melhorar seu desempenho.

"Em vez de desistirem quando uma conta não dá certo, os alunos são forçados a tentar o que faz sentido para eles e continuar tentando", disse Joe Wise, professora de física. "O cérebro é muito bom para classificar padrões se você der a ele a chance e o retorno adequados", concluiu.(BC/NYT)

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