quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Comovente história de amor

Saramago e Pilar, os últimos anos da vida do casal estão no filme
JUMPCUT/DIVULGAÇÃO

"Deus me deu um amor no tempo de madureza/ quando os frutos ou não são colhidos ou sabem a verme./Deus - ou foi talvez o Diabo - deu-me este amor maduro, e a um e outro agradeço, pois que tenho um amor".
Os primeiros versos do poema "Campo de Flores", de Carlos Drummond de Andrade, bem que poderiam servir de epígrafe para o documentário "José e Pilar", que estreia sexta-feira no circuito comercial. Dirigido por Miguel Mendes, o filme narra, de maneira poética e objetiva, o cotidiano dos últimos anos da vida do casal José Saramago e Pilar Del Río. Ele, escritor famoso, consagrado mundialmente. Ela, jornalista e feminista radical, 28 anos mais nova.
"É necessário esclarecer um ponto: esse filme é sobre o amor que se estabeleceu entre José Saramago e Pilar Del Rio. Não é só sobre José Saramago", explica Miguel Mendes. "Quero, sobretudo, que as pessoas os vejam como eu os vejo, e partilhar com todos, de uma forma condensada, o saber que eles possuem. Qual a sua visão do mundo e em que acreditam. No fundo, quero que quem assista a esse filme sinta que conheceu de uma forma muito íntima essas duas pessoas, que são brilhantes", acrescenta o diretor.
Miguel Mendes conta que trabalhou durante três anos no filme. Durante esse período, acompanhou o escritor pelo mundo: nas suas viagens de trabalho e no seu dia a dia em Lanzarote. "O que, basicamente, culminou em 200 horas de material e um quebra-cabeças para resolver", analisa o diretor.
Emoção. Quem se interessa pela obra do prêmio Nobel de Literatura em 1998 vai gostar do filme de Miguel Mendes.
Cenas como Saramago visivelmente emocionado assistindo, pela primeira vez, à versão para o cinema de " Ensaio sobre a Cegueira", ao lado do diretor brasileiro Fernando Meirelles, realmente emocionam. E destroem a imagem de que o escritor fosse um homem radical, xiita, seco e pouco sentimental.
"Algumas pessoas dizem que José era um incendiário. Mas Saramago não era incendiário", argumenta o diretor. "Era simplesmente lúcido. Tentava, dentro do possível, melhorar o mundo por meio do impacto que as suas opiniões poderiam ter naqueles que as ouvem. E, ao contrário da arrogância que algumas pessoas afirmam ele sofrer, o José era de uma doçura e simpatia incríveis. Para não falar no seu sentido de humor, que era brilhante. Mas, como dizia, ele não tinha culpa da cara que tinha. E, muitas vezes, as pessoas têm a tendência de confundir timidez com arrogância", analisa Mendes.
Mas talvez seja mesmo a emoção a grande marca do documentário de Miguel Mendes: os ensaios entre o José e o ator mexicano Gael García Bernal para a estreia da leitura a duas vozes das "Intermitências da Morte" e o casamento do José e da Pilar em Castril, Espanha, certamente vão tocar muita gente.
Gênese. Do ponto de vista literário, o grande mérito do filme que entra em cartaz no próximo fim de semana é o de reconstituir os meses em que Saramago escreveu "A Viagem do Elefante".
"É obvio que um dos momentos que nos afetou a todos foi quando o José adoeceu", explica o cineasta. "Mas o mais bonito foi sem dúvida a total recuperação e a força de vida que ele possuiu. Um dos momentos mágicos do filme foi estarmos em Lanzarote quando o José estava a acabar e a decidir o fim do seu livro ‘A Viagem do Elefante’", completa o documentarista português.
Os últimos anos do escritor
"A ironia sempre esteve presente nos meus livros,
mas creio que é em ‘A Viagem
do Elefante’ a primeira vez
que aparece desta maneira e
que apresento o humor pelo humor, sem nenhum intuito
de propor segundas ou
terceiras leituras. É o humor
em estado puro. E, em matéria
de circunstâncias, não foi
apenas um período em
que estive no hospital:
estava doente há pelo
menos três anos, com
perda de apetite, dificuldade
de locomoção, insônias".

José Saramago, durante entrevista
JOÃO POMBO BARILE

2 comentários:

Minhas visões de Belo Horizotne disse...

Que bom ter você como amigo! Que bom que neste mundo, existem ainda, histórias de amor! Esta vida humana apesar de tão curta costuma ser muito bela!
O viver é algo muito sagrado e temos sempre que agradecer por estes milagres em nossas vidas! Irei assistir este filme com um olhar mais carinhoso para com estas vidas que me cercam...
Obrigada por sua existência!

Heberle z disse...

Nossas historias são comoventes e vive-las é a maior aventura...
A brevidade da vida torna tudo urgente, mas se deixar o milagre acontecer e o sagrado viver, agente pode até ser feliz, juntos!!!!!!
Por um existência mais saborosa!!!!!!