terça-feira, 2 de agosto de 2011

A nova onda dos flash mobs

A nova onda dos flash mobs
ALYSIA SANTO
The New York Times

NOVA YORK, EUA. "Aleluia"! Ecoou a voz de uma mulher em uma praça de alimentação lotada em Ontário. Ela estava conversando em seu telefone poucos segundos antes, e ainda segurando o aparelho em seu ouvido, sua voz soprano vibrou as primeiras linhas do refrão de "Aleluia", de Handel, enquanto os clientes, surpresos, olhavam atentamente. Quando ela terminou o verso, um homem subiu em uma cadeira e começou a cantar o próximo. Ele foi acompanhado por outros, que levantaram de seus assentos ou largaram suas vassouras até que, já no fim, o coro de centenas de vozes encerrou a surpresa musical com a última "Aleluia". Vieram os aplausos dos compradores desavisados. E isso foi capturado em vídeo, em uma cena que foi vista mais de 32 milhões de vezes no YouTube.
Chamado de Christmas Food Court Flash Mob, ele foi organizado pela Alphabet Photography, que contratou cantores para criarem um momento aparentemente improvisado. Tal "espontaneidade" planejada está no coração do flash mob, um termo que inicialmente se referia à montagem repentina de um grupo que então faz uma apresentação aparentemente sem propósito, mas divertida, antes dos participantes se dispersarem. Essas montagens são geralmente organizadas por e-mail ou rede social.
O boom do flash mob é ilustrado mais claramente pelo "Mobbed", um novo programa de televisão do canal Fox que estreou em março. Inicialmente planejado como um programa especial que passaria só uma vez, ele foi incluído na programação da emissora depois de ter atraído quase 11 milhões de visitantes.
Várias pessoas afirmam ter inventado o conceito de flash mob, mas o jornalista Bill Wasik organizou o primeiro e mais conhecido deles em 2003 como uma experiência social. Ao descrevê-lo em um artigo de 2006 da "Harpers Bazzar", "My Crowd, ou Fase 5: uma reportagem do inventor do Flash Mob", ele se revelou como o anônimo "Bill" atrás de uma série de flash mobs. O primeiro envolveu 200 pessoas que invadiram uma seção de tapeçaria de uma loja de Nova York dizendo aos vendedores que eles viviam em uma comunidade e que estavam na loja em busca de um "amor tapete".
Profissionais. O projeto, escreveu Wasik, tinha a intenção de ser "pura cena" - o que significava que a ‘cena’ seria o ponto central da ação e, por si só, constituiria o trabalho. Mas, como previu Wasik, os flash mobs agora fazem parte das campanhas de marketing corporativos, já que as empresas listadas na "Fortune 500" contratam artistas profissionais para criarem um evento para que elas sejam vistas no YouTube. A T-Mobile, por exemplo, criou um número de dança bem elaborado na estação de metrô de Londres em 2009. Embora o número tenha atraído a atenção dos transeuntes, o verdadeiro motivo do comercial são os quase 8 milhões de visitas do vídeo no YouTube . Esse tipo de comercial atrativo que se auto-perpetua é o nirvana de um publicitário.
No entanto, alguns flash mobs ainda se mantêm presos às raízes originais. Como, por exemplo, o Improv Everywhere, um grupo de Nova York que organiza brincadeiras públicas bem-humoradas grandes e pequenas. O grupo evita deliberadamente o termo, como explica o seu site, "Com o passar dos anos, o termo `flash mob´ foi espancado até a morte pela mídia e cooptado pelos marqueteiros".
Na montagem mais vista de Improv Everywhere, em uma manhã de sábado de 2008, 200 pessoas pararam, simultaneamente, no meio do movimento, no terminal da Grand Central. Um homem ajoelha imóvel enquanto amarra seu sapato; uma mulher com o telefone no ouvido e a boca aberta no meio de uma fala; um grupo de pessoas parado enquanto debruça sobre um mapa. Espectadores curiosos vagueiam em torno das pessoas imóveis, tentando entender a cena. "Eles não estão se movendo. Eu não posso andar com o meu carrinho", reclama um funcionário da MTA em seu rádio, preso atrás de um monte de pessoas imóveis. Após ficarem estáticos por cinco minutos, os participantes se mexem e continuam como se nada tivesse acontecido. Fortes aplausos surgem dos observadores. Esse vídeo do YouTube tem mais de 25 milhões de visitas.



O flash mob da Arby’s na Times Square: puro marketing


COMPORTAMENTO
Empresa já se especializou em criar flash mobs
NOVA YORK, EUA. Mas e se um flash mob é formado e ninguém posta no YouTube, conta? Dificilmente. Principalmente para os publicitários que adotaram o modelo flash mob. Charlie Todd, ator e fundador do Improv Everwhere, disse: "Marcas sempre virão a mim achando que eu possa fornecer a eles centenas de atores para alguma ideia capenga de flash mob que eles tiveram, mas eu nunca usarei o meu mailing, meu site, Twitter, etc., para contratar participantes para o comercial de alguém". Mas Todd irá dar consultoria para as empresas em suas campanhas do tipo flash mob, e, recentemente, ele lançou o livro "Causando uma Cena".
Todd diz que muitas empresas plagiaram o modus operandi de seu grupo para propósitos comerciais. "Existem dúzias de exemplos de marcas usando nossas ideias ou, pelo menos, usando nossas táticas e do nosso estilo de marketing", afirmou.
Isso ficou evidente em uma terça-feira chuvosa de abril, quando mais de cem pessoas, carregando sombrinhas vermelhas se agruparam por volta do meio-dia na Times Square, começaram a cantar e dançar em uníssono. Enquanto eles dançavam, cantavam uma música, cuja letra pedia, ao final, que comessem na Arby’s (rede de fast food norte-americana).
As pessoas que passavam por lá pararam e ficaram olhando, enquanto pegavam seus telefones para registrar o evento. Um telão mostrava fotos de sanduíches de carne assada junto com a letra da música.
Eles foram contratados pela Flash Mob America, uma firma que os co-fundadores Staci Lawrence e Conroe Brookes descrevem como "uma empresa de serviços de flash mob completa". O negócio começou em 2009 e garante ter encontrado um nicho crescente. "Nós estamos, literalmente, fazendo intervalos para comer e dormir", diz Lawrence.
A empresa contrata cantores profissionais e amadores, dançarinos e atores para participarem do que ela chama de "alegria através da surpresa". Eles também fornecem aos clientes coreógrafos, produtores, filmagem e edição. O comercial "The call for the Arby" pedia artistas nova-iorquinos ou turistas que estariam no meio do grupo de cantores. Eles entrariam e surpreenderiam o público como se tivessem acabado de ‘decidir’ se juntar a eles e cantar. O pagamento: US$ 75.
Depois do comercial, os cantores começaram a se dispersar, mas, na verdade, foram redirecionados para um estúdio para regravar a canção. Essa é a espontaneidade.
Veja
Alguns flash mobshttp://www.youtube.com/watch?v=SXh7JR9oKVE
http://www.youtube.com/watch?v=SXh7JR9oKVE
http://www.youtube.com/watch?v=1aSbKvm_mKA

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