quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O livro negro da psicanálise pensar e viver sem Freud...


Foi por ser ao mesmo tempo psicanalista e tradutora que certo dia recebi a proposta de traduzir O livro negro da psicanálise, publicado em 2005 na França, e selecionar um determinado número de artigos desse livro para serem publicados no Brasil em uma edição resumida.
Ciente da proposta do livro de empreender uma ampla crítica à psicanálise, de modo a derrubar todas as suas bases, e tendo também travado conhecimento das severas críticas de inconsistência e desonestidade intelectual que lhe foram dirigidas por inúmeros psicanalistas, hesitei em  aceitar a proposta. Mas inteirada, por outro lado, da ampla repercussão que a sua publicação teve na França, a qual levou a uma rica proliferação de discussões entre os defensores e os detratores da psicanálise no cenário midiático e na cena pública, decidi aceitar o empreendimento.

De fato, mesmo não compartilhando da maioria das posições defendidas no livro, julgo ser de extrema relevância a sua publicação no Brasil. Ele provocou uma discussão bastante importante na França, sobretudo no que se refere à questão da eficácia dos tratamentos da subjetividade, convocando os psicanalistas a esclarecerem para o grande público leigo as bases de sua teoria, de sua prática e de sua ética, centradas na incongruência entre, por um lado, o desejo inconsciente e, por outro, o bem-estar do sujeito e sua adaptação à norma social. Levou-os ainda a buscar explicitar para os não psicanalistas — doutos e leigos — o sentido, pleno de riscos — os quais são inevitáveis em toda grande aventura —, de se tomar o desejo inconsciente como o eixo fundamental do tratamento.
Entretanto, em tempos em que os sujeitos são cada vez mais convocados a gerir seus corpos e suas almas como empresas capazes de otimizar a relação custo/benefício e a capitalizar até mesmo seus mais excêntricos e singulares grãos de rebeldias sociais — tempos bem diferentes, vale observar, dos
tempos povoados de revoltas românticas marginais em que viveu Freud —, a prática psicanalítica corre o risco de gradativamente se transformar em uma estranha seita. Seus membros, cada vez menos numerosos, comunicar-se iam apenas entre si, constituindo um mundo à parte, desinteressado pelos que se encontram fora dele e suscitando nestes um interesse ainda menor.

A  publicação do Livro negro da psicanálise levou os psicanalistas franceses a saírem dos lugares que costumam ocupar — lugar de discussão quase exclusivamente com os pares — e a se dirigirem aos “outros”, aos leigos, à mídia.
Mesmo correndo o risco de cair em suas armadilhas, de ser mal compreendida, deturpada, distorcida, a psicanalise talvez não tenha como sobreviver hoje senão engajando-se numa tentativa de diálogo com aqueles que, cada vez mais numerosos, permanecem inteiramente alheios ao desejo de sentido
e ao sentido do desejo sustentados pela psicanálise. Ao participar da presente publicação, espero estar contribuindo de alguma forma para que psicanalistas e não psicanalistas brasileiros tenham acesso ao material que gerou as discussões francesas, para que se produza também por aqui um debate a esse
respeito, acessível, na maior medida possível, ao grande público, para que a própria psicanálise possa disso sair fortalecida. Se não me faço, portanto, de  modo algum, porta-voz das obstinadas críticas empreendidas no livro à psicanálise, compartilhando, antes, das severas críticas que a ele são dirigidas, advogo a favor da importância de sua publicação e da ampliação do espectro
da discussão a que ele deu lugar Feito esse primeiro esclarecimento, cabe agora indicar o contexto da
publicação do Livro negro na França, assim como apresentar algumas de
suas repercussões.

Publicado em setembro de 2005, o livro é apresentado por seus autores como o balanço crítico mais exaustivo da psicanálise, mais especificamente da psicanálise freudo-lacamana. Pretende-se aqui, segundo os termos de seus autores, passar em revista e divulgar, para o grande público leigo e carente
de informações, as principais facetas da teoria e da prática freudianas.
O resultado desse balanço crítico, ainda segundo os autores do livro, é a revelação, em primeiro lugar, de uma série de inverdades sustentadas por Freud; em segundo lugar, de um grande hiato entre a hegemonia da psicanálise na França e o seu declínio no resto do mundo, e, enfim, da inferioridade
da eficácia curativa da psicanálise em relação a outros métodos de tratamento, entre os quais se destacam no livro as chamadas TCC — terapias cognitivo-comportamentais.
Cabe observar que a querela na França entre psicanalistas e terapeutas cognitivo-comportamentais em torno da questão referente à necessidade e à possibilidade de avaliação da eficácia curativa da psicanálise não se inicia com o livro. Um primeiro momento da controvérsia se deu no final de 2003
em torno da votação e aprovação pelo Parlamento francês da emenda ao projeto de lei sobre a política de saúde pública, proposta pelo deputado Bemard Accoyer, visando a regulamentar o exercício da profissão de psicoterapeuta.

A chamada “emenda Acccoyer” propunha que fosse restrito a médicos e psicólogos o título de psicoterapeutas e exigia dos outros profissionais, entre os quais se encontravam inúmeros psicanalistas, a submissão a uma avaliação de sua prática. A emenda deu lugar a inúmeros e vigorosos protestos: foi denunciada, sobretudo pelos psicanalistas, como uma tentativa de medicalizar o sofrimento psíquico e como uma vontade implícita de reduzir a prática das psicoterapias às terapias comportamentais.

Em seguida a esse fato ocorreu, no início de 2004, a publicação pelo Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale (Inserm) de uma avaliação coletiva, intitulada “Psicoterapia, três abordagens avaliadas”, na qual se concluía pela superioridade absoluta da eficácia das TCC em relação às terapias de inspiração analítica. A controvérsia entre psicanalistas e terapeutas
cognitivo-comportamentais se acirrou: os primeiros denunciaram o caráter imparcial da avaliação e levaram o então ministro da Saúde a condenar publicamente a avaliação e a afirmar que “não existe uma única resposta para o sofrimento psíquico”, o qual não é “nem mensurável, nem
avaliávèl”; os segundos viram no ocorrido um símbolo da atitude dos psicanalistas
de abafar o debate tão logo a psicanálise é atacada.
F.m setembro de 2005 foi publicado O livro negro da psicanálise, o qual já trazia na escolha de seu título um prenúncio da virulência de seu ataque à psicanálise. Como observaram o jornalista Jean Birnbaum, em um artigo publicado em 8 de setembro de 2005 no Monde des Livres, e a psicanalista e historiadora Elisabeth Roudinesco, em entrevista concedida à Revista Critique Communiste de dezembro de 2005, a escolha desse título deve ser contextualizada historicamente, pois é carregada de simbolismos.

Com efeito, o título carrega consigo o simbolismo do terror, que é descrito pelos testemunhos de judeus sobreviventes do nazismo no livro publicado na França em 1995 e intitulado simplesmente O livro negro. “Desde então, sublinha Birnbaum, a expressão ‘livro negro’ viu-se enodada a um significante bem preciso: o crime de massa.” É, portanto, a equação “psicanálise = terror” que, como sublinha o jornalista, os organizadores do livro pretendem, mesmo sem fundamentar, sugerir. Podemos presumir ainda dessa escolha a insinuação da equação “livro negro = relato dos sobreviventes”.

O livro negro da psicanálise deve ainda ser inserido no contexto de uma série de livros negros publicados na França: O livro negro do comunismo (1997), O livro negro do colonialismo (2003), O livro negro da Revolução Francesa (2008). A denúncia do terror, do crime, do totalitarismo é claramente o que reúne os vários títulos da série. A esse respeito, cabe citarmos o comentário de Roudinesco, que, à luz de uma crítica ao Livro negro do comunismo, critica O livro negro da psicanálise. Segundo a historiadora e psicanalista, enquanto o primeiro livro, antes de empreender uma história crítica do comunismo, torna a própria ideia do comunismo responsável pelo goulag a que ele deu lugar, o segundo simplesmente inventa e acusa a psicanálise de um goulag imaginário.
A virulência dos ataques feitos pelo livro à psicanálise e das críticas ao Üvro empreendidas por inúmeros psicanalistas será proporcional ao lugar que o debate sobre a publicação obterá na mídia. Com efeito, em setembro de 2005, toda a imprensa francesa e, em alguma medida, a imprensa internacional pareciam se voltar para o lançamento do Üvro e para a divulgação do caloroso debate por ele suscitado.

Apenas durante o mês de seu lançamento, inúmeras matérias na imprensa internacional e mais de dez matérias nos principais jornais e revistas franceses foram publicadas sobre o livro, assunto em uma entrevista na rádio e em um debate na televisão francesa. Foram dedicadas ao livro matérias em revistas mais populares, como a Elle — que anunciou o lançamento publicando um artigo de um de seus principais autores, Jacques van Rillaer —, e também em revistas mais especializadas, como a Psycbologie Magazine — que convocou três psicanalistas (J. P. Winter, G. Pommier e G. Bonnet) a reagir aos principais ataques formulados no livro, aqui apresentado como “um novo episódio na guerra aberta entre psicanalistas e comportamentalistas”. O jornal Le Monde, por sua vez, trouxe
unicamente nesse mês (dias 8, 15 e 25) três matérias sobre o livro: o já referido artigo de Birnbaum; um debate entre um de seus autores, P. Pignarre, e uma de suas principais críticas, E. Roudinesco; e, por fim, um artigo do psicanalista P. H. Castel, que se refere ao livro como um “furor de injúrias e acusações grotescas”, cujo único ponto comum é “o ódio por uma psicanálise imaginária fabricada por seus autores”.

O mesmo se deu com o jornal Libération, que nos dias 13, 17 e 28 publicou, respectivamente, um artigo do psicanalista D. Sibony — para quem o furor dos autores do livro, os quais têm, a seu ver, um problema narcísico com Freud, resvala o irracional —, uma entrevista com um dos autores do livro, Jean Cottraux — que, respondendo a questões tais como “Por que chegar a
ponto de injúrias?” ou “Por que insultar Freud?”, critica a arrogância e o abuso de poder dos psicanalistas —, e um artigo do psicanalista J.A. Miller, no qual o livro é descrito como “uma sirene estridente ganindo a mesma nota ao longo de 800 páginas”. - Dois amplos dossiês foram consagrados ao livro pela imprensa francesa ainda no mês de seu lançamento. O primeiro aparece na capa da edição da primeira semana de setembro da revista de maior influência e vendagem no país: Le Nouvel Observateur. O dossiê é intitulado “Deve-se acabar com apsicanálise?” e é dedicado ao que chama de um “livro-acontecimento”. Issosuscitou tamanha controvérsia que a revista publicou três páginas em sua edição seguinte apenas com os extratos das cartas recebidas como reação ao
dossiê. O segundo foi publicado pela revista UExpress. Diferentemente do primeiro, que assumiu uma posição francamente favorável ao livro, colocando em causa a atualidade da psicanálise, nesse dossiê foi publicada uma entrevista com Elisabeth Roudinesco, que questiona, ao contrário, o valor do livro.

O sucesso de público do Livro negro da psicanálise também foi proporcional ao lugar que ocupou na mídia. Na segunda semana do mês de seu lançamento, já ocupava o oitavo lugar na lista de coletâneas e documentos mais vendidos na França. No início da terceira semana, as inúmeras demandas das livrarias já tinham levado a três reimpressões do livro, chegando a um total de 23 mil exemplares impressos.

As reações dos psicanalistas, sob a forma de publicações, não tardaram, e a virulência de suas colocações não foi menor do que aquela presente nas formulações dos autores do Livro negro. Ainda em 2005, Elisabeth Roudinesco lançou um primeiro livro respondendo diretamente às acusações feitas à psicanálise, afirmando que estas se fundamentam em “números falsos, afirmações inexatas e interpretações por vezes delirantes” e questionando o ódio que seus autores demonstram por uma teoria e por uma prática colocada no livro como responsável por um suposto massacre de massa. O livro,publicado pela editora Navarin, foi intitulado Pourquoi tant de haine? Anatomie du Livre noir de la psychanalyse (Por que tanto ódio? Anatomia do livro negro da psicanálise). No ano seguinte, foi a vez de Jaques-Alain Miller publicar, pela editora Seuil, o seu Uanti-livre noir de la psychanalyse (O
antilivro negro da psicanálise). Nele, Miller buscou mostrar, como se pode ler na contracapa do livro, “em que medida as TCCs estão consoantes com a progressão das práticas de controle social e de adestramento humano no início do século XXI”.Cabe agora destacar os principais elementos desse debate, que opõe, de modo cada vez mais violento, os adeptos da psicanálise e os defensores das
terapias cognitivo-comportamentais.

Entre as diversas críticas feitas à psicanálise pelos autores do livro e presentes nas inúmeras matérias dele decorrentes encontram-se, em primeiro lugar, aquelas referentes a sua fraca eficácia se comparada a outros métodos.

Além disso, podem ser destacadas inúmeras críticas que vão desde as mais grosseiras, feitas de acordo com os interesses financeiros de seus praticantes, até as mais conceituais, que indicam como a hipótese do inconsciente fundamenta a construção de uma teoria irrefutável, na qual as críticas feitas a ela transformam-se em provas de resistência à verdade por ela revelada.

Apresenta-se também uma crítica política feita à estrutura feudal, ao dogmatismo e à ortodoxia erigidos sobretudo por Freud e Lacan e mantidos pelas instituições psicanalíticas desde então. Nessa seara, sublinha-se ainda o repúdio freudiano aos espíritos independentes e a força excessiva que os
nomes de Freud e Lacan alcançaram como argumentos de autoridade. Também nesse campo, em vários artigos do Üvro se propõe uma revisão crítica da história oficial da psicanálise, marcada pela veneração a seus grandes mestres. Os autores se fazem ainda porta-vozes do público leigo, isto é, das
críticas que ex-pacientes, familiares ou amigos de ex-pacientes fazem à psicanálise e, mais particularmente, à psicanálise lacaniana: ao glorificar o desejo e o gozo, ela conduz ao egoísmo, ao egocentrismo, ao individualismo.

Além das críticas presentes no livro, alguns artigos publicado na mídia fizeram uma nova crítica, relativa às posições conservadoras que inúmeros psicanalistas, apoiados na noção de “ordem simbólica”, assumem hoje no contexto dos debates referentes ao PACS (Pacto Civil de Solidariedade) e à homoparentalidade.

Ao replicar essas críticas, os psicanalistas, por sua vez, questionaram o valor do Üvro, contrapondo à amplidão do ódio à psicanálise presente nos artigos a carência de fundamentação argumentativa e até mesmo empírica dos ataques feitos a ela. Em entrevista concedida à revista Critique Communiste,
Roudinesco definiu o livro como “uma montagem de textos de pessoas que não têm nada em comum umas com as outras, senão o ódio que dirigem à psicanálise”, e em entrevista concedida à revista Uexpress, referiuse a ele como “um requisitório fanático que se situa na tradição da escola
dita ‘revisionista’”. Além disso, os psicanalistas criticaram as bases das teorias e práticas cognitivo-comportamentais, das quais lança mão a maior parte dos autores do Üvro, sublinhando a concepção tão reducionista quanto normativa que elas fornecem do homem e que norteia a sua direção de cura.

As TCCs, sustentou Jacques-Alain Miller em entrevista concedida à revista Le point, são técnicas de aprendizagem, condicionamento e adestramento dos homens consoantes com a razão de rentabilidade que hoje governa todos os campos.
Com efeito, as críticas à insuficiência de uma argumentação racional à altura da gravidade de seus ataques à psicanálise, assim como ao caráter adaptativo da principal proposta terapêutica que é contraposta, no livro,
à proposta psicanalítica, estarão presentes em praticamente todas as respostas que os psicanalistas darão à obra organizada por Catherine Meyer.

O mesmo não se dará, entretanto, no que se refere às críticas às posições dogmáticas e conservadoras que os praticantes da psicanálise tenderam muitas vezes a adotar. Essa talvez tenha sido a crítica empreendida pelos autores do livro que maior permeabilidade encontrou entre os psicanalistas,
suscitando em alguns uma autocrítica. Roudinesco não deixou de assumir  que o perigo dogmático é permanente em todas as escolas de psicanálise e que os psicanalistas franceses perderam em grande medida seu poder de subversão social, mas marcou, entretanto, que a crítica muitas vezes legítima a determinadas posições defendidas por alguns psicanalistas não pode ser generalizada, sem risco de perda de rigor, à psicanálise como um todo. Alain de Mijolla, também sensível a essa crítica, afirmou,
em um debate com Jacques Van Rillaer publicado no “Dossiê” da revista Le Nouvel Observateur, acreditar que a psicanálise de fato sofreu por ter ocupado um domínio excessivo no seio da intelligentsia, sobretudo na França nos anos 1970-1980. A esse respeito, ele disse se regozijar com o
fato de ela encontrar pouco a pouco a sua verdadeira dimensão, que não pode concernir diretamente a maioria, e que, muito longe do culto a um ídolo ou de uma disciplina construída como um monumento sobre seu pedestal, a psicanálise não pode ser senão um conjunto de hipóteses incessantemente colocadas em questão.



Afirma ainda que aqueles que acreditam na psicanálise como se acredita num dogma acabam algum dia se revoltando contra ela e se mostrando tão dogmáticos em seus ataques quanto o foram em sua adoração. Com essas palavras, Mijolla acaba por criticar ao mesmo tempo os psicanalistas dogmáticos e os autores do livro, que poderiam ter se voltado tão ferozmente contra a psicanálise justamente por a terem abraçado anteriormente como um dogma.

Tendo apontado as razões que me levam a acreditar na importância da publicação desse livro no Brasil, contextualizado a sua publicação na França e indicado a passionalidade que envolveu ambas as partes no debate suscitado pelo livro, cabe agora esclarecer os critérios utilizados na seleção dos artigos para a presente publicação. Busquei, em primeiro lugar, manter o espírito do livro, não o destituindo de seu caráter bélico, o  que justificou a seleção de alguns artigos mais inflamados, a despeito da consideração de seu rigor teórico; em segundo lugar, busquei permitir que o livro também suscite uma discussão teórica mais aprofundada. Utilizando esse segundo critério, selecionei, entre os artigos que propunham efetivamente uma discussão de ordem mais conceituai, aqueles que me pareciam mais bem fundamentados.
Espero que, assim como na França, surjam brevemente respostas a este livro e que psicanalistas e não psicanalistas, além de pacientes de um ou de outro lado, possam se beneficiar desta publicação. E que a discussão seja bem-vinda.

Simone Perelson

tradutora para a Editora Record, Ação e reação.Vtda e aventuras de um casal,
de Jean Starobinski, e O cartão-postal. De Sócrates a Freud e além, de Jacques Derrida.

Nenhum comentário: