domingo, 20 de novembro de 2016

Edição gênica CRISPR é testada em uma pessoa pela primeira vez

O feito pelos cientistas chineses poderá desencadear um duelo biomédico entre EUA e China

Euclésio josias Rodrigues


Edição gênica poderá melhorar a habilidade das células imunológicas de atacarem câncer
Um grupo chinês se tornou o primeiro a introduzir células que contém genes editados em uma pessoa usando a técnica revolucionária CRISPR–Cas9.
Em 28 de outubro, uma equipe liderada pelo oncologista Lu You na Universidade Sichuan, em Chengdu, injetou células modificadas em um paciente com câncer de pulmão maligno como parte de um ensaio clínico no Hospital West China, também em Chengdu.
Ensaios clínicos anteriores de células editadas usando técnica diferente excitaram os médicos. A introdução de CRISPR, o qual é mais simples e mais eficiente que outras técnicas, provavelmente irá acelerar a corrida para usar células com genes editados nas clínicas por todo mundo, diz Carl June, que é especializado em imunoterapia na Universidade da Pensilvânia, a Filadélfia, e já liderou um dos estudos anteriores.
“Eu acho que isso vai desencadear um ‘Sputnik 2.0’, um duelo biomédico pelo progresso entre China e Estados Unidos, o que é importante, uma vez que a concorrência geralmente melhora o produto final”, diz ele.
June é o conselheiro científico de um experimento americano que planeja usar o CRISPR para direcionar três genes nas células dos participantes, com o objetivo de tratar vários tipos de câncer. Ele espera que o julgamento comece no início de 2017. E em março de 2017, um grupo na Universidade de Pequim, espera iniciar três ensaios clínicos usando CRISPR contra os cânceres da bexiga, da próstata e das células renais. Esses experimentos ainda não têm aprovação ou financiamento.
Proteína alvo
O experimento de Lu recebeu aprovação ética de um comitê de revisão do hospital em julho. As injeções nos participantes deveriam começar em agosto, mas a data foi adiada, diz Lu, porque cultivar e amplificar as células levou mais tempo do que o esperado e, em seguida, a equipe correu para as férias de outubro da China.
Os pesquisadores removeram as células imunológicas do sangue do receptor e, em seguida, desativaram um gene nelas usando CRISPR-Cas9, que combina uma enzima de corte de DNA com um guia molecular que pode ser programado para dizer à enzima precisamente onde cortar. O gene desativado codifica a proteína PD-1, que normalmente põe os freios na resposta imune de uma célula: os cânceres se aproveitam dessa função para proliferar.
A equipe de Lu cultivou as células editadas aumentando seu número, e então as injetou de volta no paciente, que tem câncer de pulmão metastático de células não pequenas. A esperança é que, sem PD-1, as células editadas irão atacar e derrotar o câncer.
Segurança em primeiro
Lu diz que o tratamento correu bem e que o participante terá uma segunda injeção, mas se recusou a dar detalhes por causa da confidencialidade do paciente. A equipe planeja tratar um total de dez pessoas, o qual cada um receberá duas, três ou quatro injeções. É principalmente um teste de segurança, os participantes serão monitorados por seis meses para determinar se as injeções estão causando efeitos adversos graves. A equipe de Lu também vai observá-los além desse tempo para ver se eles aparentam estar se beneficiando do tratamento.
Outros oncologistas estão entusiasmados com a entrada do CRISPR no combate ao câncer. “A tecnologia ser capaz de fazer isso é incrível”, diz Naiyer Rizvi do Centro Médico da Universidade de Columbia, em Nova York. Antonio Russo, da Universidade de Palermo, na Itália, observa que os anticorpos que neutralizam o PD-1 conseguiram com sucesso colocar o câncer de pulmão em cheque, mostrando-se bem para um ataque ativado na proteína pelo CRISPR. “É uma estratégia excitante”, diz ele. “A base lógica é forte.”
Mas Rizvi questiona se este experimento em particular terá sucesso. O processo de extração, modificação genética e multiplicação de células é “um enorme empreendimento e não muito escalável”, diz ele. “A menos que demonstre um grande ganho em eficácia, será difícil justificar a continuidade”. Ele duvida que seja superior ao uso de anticorpos, que podem ser expandidos para quantidades ilimitadas na clínica. Lu diz que esta questão está sendo avaliada no experimento, mas que é muito cedo para dizer qual abordagem é melhor.
Traduzido da Nature.

via universo racionalista

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