segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

"Não quero pensar em nada

             por Isabel Rosete  a Álvaro de Campos






Não quero pensar em nada.
Mas..., há tudo para pensar!
Mas, não quero pensar em nada!
Pensar dói, porque pensar também é sentir
Pelas janelas dos sentidos.
E sentir também dói.

Mas como posso deixar de pensar
Se sinto o mundo, se sinto tudo o que sou
E o que não sou por este sensacionalismo
Que me adentra pelo Ver,
E tudo o que me envolve
Dentro e fora de mim?

Deixaria de pensar se não visse;
Deixaria de pensar se não ouvisse;
Deixaria de pensar se não sentisse...
Deixaria de pensar se os sentidos e o Sentir
Não fossem a porta de entrada do mundo em mim,
O olho exterior imediato do pensamento
Que o torna presente dentro de mim.

E a Vida...?
A Vida está dentro do meu pensamento
A Vida penetra o meu pensamento
Como um dardo certeiro
E lança uma flecha em cada ferida
Que ainda não cicatrizou
E sangra, e sangra...
Como se estivesse a ser sentida pela primeira vez,
Como se o pensamento a tivesse pensado
No momento em que ela nasceu.

Pensar dói.
Sentir dói.
Não quero pensar em nada!
Não quero sentir nada!»

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