segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Pesquisa brasileira descobre proteína inibidora da sepse

Síndrome que afeta 25% das UTIs é a principal causa de mortes nas unidades


Cientistas da Universidade de São Paulo (USP) fizeram uma importante descoberta no combate à sepse, síndrome da resposta inflamatória, principal causa de mortes nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) no país, segundo o Ministério da Saúde. Os pesquisadores identificaram uma proteína capaz de impedir o início do processo inflamatório, “enganando” o organismo ao “desligar a chave” que ativa o sistema imunológico quando é detectada a presença de bactérias nocivas.
O nosso organismo responde com um processo inflamatório quando precisa se livrar de certos inimigos. Isso ocorre diretamente no tecido afetado por uma lesão ou uma infecção. Mas, quando se espalha por diversos órgãos ao mesmo tempo, pode levar o paciente à morte.


Essa resposta descontrolada do sistema imunológico acontece devido à sepse, antigamente conhecida como “infecção generalizada”. Estima-se que cerca de 25% dos leitos de UT no Brasil sejam ocupados por pacientes com esse quadro, e mais da metade dessas pessoas (56%) morre, segundo o Instituto Latino-Americano de Sepse.
A pesquisa, liderada pelo professor Dario Zamboni, da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto, teve como foco a bactéria Coxiella burnetii. Os cientistas identificaram nesse micro-organismo um gene que foi denominado icaA, que, por sua vez, expressa a proteína IcaA (do inglês “inhibition of caspase activation”, ou “inibição da ativação da caspase”, numa tradução livre). Essa molécula, conforme revelou o estudo, é capaz de impedir a ativação da caspase-11, enzima que permite o início do processo inflamatório.
Segundo Zamboni, a pesquisa, detalhada na publicação científica “Nature Communications”, abre a perspectiva de tratar doenças como a sepse usando drogas que contenham o princípio da IcaA. Ele acha também que, possivelmente, proteínas “irmãs” desta tenham a mesma capacidade, conforme publicação do jornal “O Globo”.
“Nosso estudo vai continuar, e espero que, nos próximos dois anos, identifiquemos outras proteínas como a IcaA. A Coxiella burnetii secreta mais de 80 proteínas, a grande maioria desconhecida. Então, acredito que muitas delas tenham as mesmas características e também inibam inflamações”, afirmou Zamboni, que é professor do Departamento de Biologia Celular e Molecular e Bioagentes Patogênicos.


EXPECTATIVA. A dificuldade de se reverter um quadro de sepse se deve à falta de entendimento sobre os mecanismos da doença, o que pode ser mudado com a ajuda de pesquisas como a desenvolvida pela USP, afirmou ao jornal “O Globo” o vice-presidente do Instituto Latino-americano de Sepse, Luciano Azevedo.
Mas ainda será longo o processo para a produção de um medicamento que tire proveito da IcaA e chegue aos hospitais e ao mercado. “O processo é demorado porque é preciso cumprir muitas fases de testes, ter aprovação da vigilância sanitária, conseguir investimento de alguma empresa”, afirma Zamboni.
Conhecida
BactériaA Coxiella burnetii é encontrada em secreções de animais de criação, como porcos e vacas. O ser humano que tem contato com urina, leite ou fezes desses bichos pode se infectar.
Diagnóstico deve ser feito quanto antes

O único modo de se tratar a sepse, atualmente, é com antibióticos, que precisam ser administrados o mais cedo possível. Por isso, é importante que o diagnóstico seja feito rapidamente.

“Qualquer pessoa pode ter sepse, que pode ocorrer por causa de infecções adquiridas no dia a dia ou durante internações, as chamadas ‘infecções hospitalares’. Mas, em geral, crianças e idosos têm maior risco, assim como pacientes com doenças crônicas que afetam a imunidade, como diabetes, câncer, Aids etc.”, afirma Luciano Azevedo.
Cobre é aliado contra a contaminação

Superfícies de contato, como mesas, cadeiras e corrimãos, estão repletas de agentes patológicos nocivos à saúde. Uma alternativa para evitar o contágio é a utilização de cobre no revestimento dessas estruturas. Segundo a Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos, as propriedades do metal fazem com que 99,9% das bactérias sejam eliminadas.

Em um ensaio clínico, o Hospital Dr. Salvador Allende Gossens, no Chile, instalou cobre em itens, como grades das camas, cadeiras e mesas de alimentação de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). O objetivo era determinar a ação do cobre de suas ligas na carga bacteriana total que contamina superfícies de contato críticas.

Mais de 80% da população bacteriana foi eliminada, um benefício aos pacientes que estão em estado crítico. Graças ao cobre antibacteriano, os pacientes têm atenuados os riscos de contrair conjuntivite, infecções intestinais, resfriados, influenza A (H1N1), hepatites A, B e C, entre outras.

Outros hospitais chilenos, além de diversos outros ao redor do mundo, também estão aderindo ao metal. 


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