segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

As Sete Teorias Sobre a Natureza Humana

 Mariluze Ferreira


O existencialismo trata, sobretudo, dos problemas do Homem, sem esquecer da pergunta costumeira          
Que é o homem? 
Tudo o que dissermos sobre o homem dependerá da nossa visão sobre a sua natureza.          
O sentido e o propósito da vida humana, o que devemos fazer e o que podemos esperar dos seus atos, tudo isso é afetado por um “pré-juízo” conceitual; por aquilo que pensamos ser a natureza “real” ou “verdadeira” do Homem. Segmentamos a natureza humana e, a partir daí, criamos padrões de comportamentos para cada segmento e passamos a exigir que o Homem dê respostas de acordo com esses segmentos. Esquecemos que o Homem é matéria e forma, ao mesmo tempo. Assim sendo, não devemos separar o seu corpo das características formais que constituem a natureza do Homem como uma totalidade.                 Se definimos o Homem como um ser espiritual, cobramos dele comportamentos voltados exclusivamente para a sua espiritualidade e esquecemos dos outros segmentos. É possível que ele se realize espiritualmente, mas se os outros segmentos são negligenciados – o Homem como ser social, político, econômico, etc — ficam vazios e é possível que esses vazios fiquem desestruturados e entrem em conflito com a sua espiritualidade Só podemos definir o Homem de modo universal a partir do que entendemos sobre a sua natureza, e só podemos entender a pessoa a partir do conhecimento da sua história. Uma coisa é entender a natura do Homem, enquanto espécie; outra coisa é, partindo da natureza da sua espécie, entender a pessoa singular.


Apresentaremos as sete principais teorias sobre a natureza. [3]
Platão. 
Relaciona a natureza humana a O governo dos sábios. Para dar solução aos nossos problemas deveríamos ser governados por aqueles que sabem o que é melhor para nós. Platão tem uma visão dualista do homem. Um dualismo de substância, diferente do dualismo de propriedades. Para ele, a mente, ou alma, é uma substância distinta da substância do corpo. Elas se relacionam, mas não se associam. Com a morte, a alma vai para o Hades e o corpo para o local que é próprio da matéria. A mente ou a alma é uma entidade não-material que pode existir separadamente do corpo. Quando a alma retorna ao mundo em outro corpo, traz consigo os conhecimentos sensoriais que ficaram armazenados na memória, em outra vida. Na vida atual, a pessoa apenas recorda o que está no seu inconsciente. Na vida atual, não há conhecimento adquirido, apesar de, para Platão, o Homem ser intrinsecamente social. Platão fala das idéias inatas – as que traz consigo de outras vidas. Fala, no livro III de As Leis, que há uma psique na matéria, insinuando que a natureza é inteligente. Esse modo de pensar de Platão leva-nos a crer na possibilidade da existência de uma inteligência artificial. É pela observação que o Homem conhece a natureza e, assim, ele não cria, apenas descobre o que está-aí, no mundo. Essa teoria da natureza humana de Platão abre muitos caminhos para a reflexão.
Para Platão, há três tipos de homem cujos desejos principais vêm a ser, respectivamente, o conhecimento, o sucesso ou o ganho.
Cristianismo: 
A natureza do Homem tem origem divina. A doutrina cristã a respeito do Homem o vê na sua relação com Deus que o criou para que ele ocupasse uma posição especial no universo. O Homem pecou e perdeu a graça que lhe foi dada no Jardim do Éden; usou mal a liberdade de escolha dada por Deus, escolheu o mal em vez do bem, rompeu assim a sua relação com Deus. A solução cristã para o Homem se baseia em Deus. Somente Deus pode perdoar o Homem e restaurar a sua relação com Ele. Daí a idéia bíblica da salvação e da regeneração do Homem só serem possíveis através da misericórdia, do perdão e do amor de Deus. – se o Homem assim o quiser.
Marx. 
Marx defendia “a revolução comunista” e entendia que a natureza humana é essencialmente social. Tudo que uma pessoa faz é essencialmente um ato social que pressupõe a existência de outras pessoas, em certas relações com essa pessoa. Entendia que o errado no Homem e na sociedade, envolve o conceito de alienação.
Freud. 
Tentou definir a natureza do Homem pela psicanálise. Os conceitos básicos de Freud sobre a natureza humana podem ser aqui apresentados de maneira breve. O primeiro ponto seria uma aplicação rígida, ao reino animal, do princípio do determinismo. Vale dizer: todo evento tem suas causas suficientes. Nada que uma pessoa diz ou faz é casual ou acidental. Em princípio, tudo pode ser ligado a causas que se encontram de alguma maneira na mente da pessoa. O segundo ponto principal seria a postulação dos estados mentais inconscientes. O terceiro diz respeito à teoria dos instintos ou das “pulsões”. Os instintos são as forças motivadoras do aparelho mental. Toda a energia da nossa mente provém deles. O quarto ponto seria a teoria histórica, ou do desenvolvimento do caráter humano individual. Freud afirma que o bem-estar individual ou a saúde mental depende de uma relação harmoniosa entre as diversas partes da mente e entre a pessoa e o mundo real em que vive. Objetivo de Freud era o de restaurar um equilíbrio harmonioso entre as partes da mente e entre o indivíduo e o seu mundo.
Sartre. 
Sartre advoga o existencialismo ateu. Nega que haja uma natureza humana, o que constitui uma típica rejeição existencialista de afirmações de cunho geral sobre o Homem. Sartre expressou esta idéia dizendo que a existência do Homem precede a sua essência. Não fomos criados com nenhum objetivo, nem por Deus nem pela evolução nem por qualquer outra coisa. Simplesmente descobrimos que existimos e temos então de decidir o que fazemos de nós mesmos. (STEVENSON, Leslie op. cit. p. 105).
Como filósofo existencialista, Sartre faz algumas afirmações gerais sobre a condição humana. A sua asserção central é a da liberdade. No seu entender, estamos condenados à liberdade, não há limite para a nossa liberdade, exceto o de que não somos livres para deixar de sermos livres.
Sartre parte de uma distinção radical entre a consciência e os objetos não conscientes. A consciência tem necessariamente um objeto que é sempre consciência de alguma coisa que não é ela própria.       A consciência é, portanto, alguma coisa diferente de dela mesma. Sartre diz que a consciência está também sempre consciente de si mesma.. Isso se liga a nossa capacidade de emitir juízos a respeito desses objetos.
Sartre usa o termo “angústia” para descrever essa consciência da própria liberdade. A angústia não é o medo de um objeto exterior, mas a consciência da imprevisibilidade última do próprio comportamento.
Skinner: 
Skinner trata de O condicionamento do comportamento. Acredita que somente a ciência pode fornecer a verdade sobre a natureza, inclusive a natureza humana, pois a ciência é a única atividade humana que mostra um progresso cumulativo. Skinner propõe estudar o comportamento, em vez da consciência. Para ele o comportamento é causado quase que inteiramente por influências do meio, mediatizadas por mecanismos de condicionamento. Skinner diz que o estudo empírico do comportamento humano é a única via para chegar a uma verdadeira teoria sobre a natureza humana.
Lorenz. 
Para Lorenz, A agressão é inata. Lorenz é um biólogo, um dos fundadores do ramo das ciências da vida chamado etologia. “Etologia” significa, etimologicamente, o estudo da personalidade, mas o termo agora vem sendo usado para indicar o estudo científico do comportamento animal. A ênfase distintiva da etologia origina-se do pressuposto anti-behaviorista de que alguns dos aspectos mais importantes do comportamento animal são inatos. Como etologista, Lorenz nega que todo comportamento seja condicionado pelo meio-ambiente e se dedica ao estudo de padrões de comportamento instintivo.
Lorenz vê o homem como um animal que veio de outros animais. Assim como o corpo humano e a sua fisiologia apresentam uma continuidade patente com o corpo e a fisiologia de outros animais, Lorenz supõe que os nossos padrões de comportamento sejam fundamentalmente semelhantes aos comportamentos dos outros animais.
Ponto crucial da visão de Lorenz da natureza humana é a teoria de que os seres humanos, assim como vários outros animais, têm o impulso inato de comportamento agressivo em relação à própria espécie. Esta seria a explicação para as guerras e comportamentos irracionais do homem. A razão por si só não tem suficiente poder. Apenas consegue controlar o nosso comportamento se sustentada por alguma motivação instintiva.
Não é difícil chegar a uma conclusão que a dificuldade para responder a pergunta “quem é o Homem” está no fato de ele ser definido de forma fragmentada e os seus problemas serem resolvidos a partir dos seus fragmentos. Juntar os fragmentos, isto é, olha-lo como uma matéria que possui formas diversas, mas não fragmentadas, entende-lo como um ser social que é também cultural, religioso, político, econômico e espiritual é entende-lo em seu conjunto como indivíduo e pessoa com uma história de vida singular cujo sentido é único e não transferível a outras pessoas.
INSPIRAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
[1] Referência teórica: ETCHEVERRY, Auguste. O conflito actual dos humanismos. Porto : Tavares Martins, 1975.
[2] ETCHEVERRY, Auguste. O conflito actual dos humanismos. Porto : Tavares Martins, 1975.
[3] Referência teórica: STEVENSON, Leslie. 7 Teorias sobre a Natureza Humana. Rio de Janeiro, Labor do Brasil, 1967.


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