terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Nova terapia genética faz células de câncer cometerem ‘suicídio’

Taxa de sobrevivência após cinco anos de tratamento foi de até 97% dos pacientes

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Inovação. Técnica envolve a modificação genética de células cancerosas, que emitem sinal para serem atacadas

Londres, Reino Unido. Uma nova terapia genética permite modificar células de câncer de próstata para que o corpo do paciente possa atacá-las e matá-las. A técnica descoberta por cientistas americanos induz o tumor a se autodestruir – daí o nome “terapia do gene suicida”. A pesquisa identificou um aumento de 20% no índice de sobrevivência de pacientes com câncer de próstata após cinco anos de tratamento.
Entretanto, um especialista em câncer consultado pela “BBC Brasil” disse que estudos adicionais são necessários para comprovar a eficácia do tratamento.
O estudo, conduzido por pesquisadores do Hospital Metodista de Houston, no Texas, parece mostrar que essa “terapia do gene suicida”, combinada com radioterapia, pode ser um tratamento promissor para o câncer de próstata no futuro.
A técnica envolve a modificação genética de células cancerosas, que passam a emitir um “sinal” ao sistema imunológico para atacá-las.
Em geral, o corpo não reconhece células cancerosas como inimigas, porque elas se desenvolvem a partir de células saudáveis comuns. Diferentemente de uma infecção, que ativa a defesa do corpo, o sistema imunológico não reage para matar células cancerosas.
Usando um vírus para transportar a terapia genética até o tumor, o resultado é que as células se autodestroem, alertando o sistema imunológico do paciente para lançar um ataque em massa.
Sobrevivência. Em dois grupos de 62 pacientes, um recebeu a terapia genética duas vezes, e o outro – todos com uma forma agressiva de câncer de próstata –, foi tratado três vezes. Os dois grupos também receberam radioterapia.
As taxas de sobrevivência após cinco anos foram de 97% e 94%, respectivamente. Embora o estudo não tenha empregado grupo de controle, os pesquisadores dizem que os resultados mostram um avanço de 5% a 20% em relação a estudos anteriores sobre tratamentos de câncer de próstata. Biópsias realizadas dois anos após o estudo deram negativo em 83% e 79% dos pacientes dos dois grupos.
No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais frequente entre homens, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. É também o sexto tipo mais comum no mundo e o mais prevalente em homens – representa cerca de 10% do total de cânceres.
Reprodução viral amplia resultados
Kevin Harrington, professor de imunoterapia oncológica no Instituto para Pesquisa do Câncer, em Londres, diz que os resultados da técnica envolvendo a modificação genética de células cancerosas são “muito interessantes”, mas ele citou a necessidade de mais estudos sobre o tema.
Mais testes. “Podemos precisar de um teste aleatório para mostrar se esse tratamento é melhor do que apenas a radioterapia. Os vírus usados nesse estudo não se reproduzem. A nova geração de terapias virais pode se replicar seletivamente em células cancerosas – algo que pode matar o câncer de forma direta – e também ajudar a espalhar o vírus para células cancerosas vizinhas”, explica.
Harrington disse ainda que seria “interessante” testar o tratamento com vírus que podem se reproduzir, para verificar se os resultados podem ser ainda mais efetivos. Agora, é aguardar a nova fase de testes.

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