domingo, 20 de dezembro de 2015

MDMA - Brasil vai testar ‘ecstasy’ para tratar estresse pós-traumático

Uso medicinal da substância já está sendo implementado nos EUA, no Canadá, na Suíça e em Israel


O MDMA, mais conhecido como “ecstasy” ou “droga do amor”, já vem sendo testado em alguns países em pacientes com Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) que não se curam com a terapia tradicional. Em 2016, será a vez de o Brasil virar campo de estudo da substância que já foi usada em terapia de casais e que desde os anos 90 invadiu as festas rave.
O TEPT, como é conhecido, ocorre em pessoas que foram vítimas de forte violência, como assalto, sequestro ou estupro. O trauma é tão grande que elas ficam anos tendo pesadelos e convivendo com o medo. Muitos abandonam a vida social e passam a sofrer de ansiedade e depressão – ou cometem suicídio.
A pesquisa que já ocorre há pelo menos dez anos em vários países tem apoio da ONG norte-americana Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies (Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos), coordenada por psiquiatras. Eles vêm estudando os efeitos do MDMA em pacientes com TEPT, principalmente em veteranos de guerra.

No Brasil, a pesquisa será liderada pelo neurocientista Eduardo Schenberg, diretor do Instituto Plantando Consciência, uma ONG que estuda efeitos de drogas psicoativas como a ibogaína, LSD e ayahuasca no cérebro.
Efeitos duradouros. Mais de 20 pacientes foram analisados em pesquisas realizadas nos Estados Unidos, Canadá, Suíça e Israel – países onde o uso medicinal do MDMA é liberado.
Segundo resultados da pesquisa publicados na revista científica “Nature”, o tratamento com MDMA atingiu a marca de 83% de sucesso no grupo que tomou a substância, contra 25% no grupo que recebeu placebo. Avaliados quatro anos depois, os pacientes do grupo do MDMA não mostraram retorno do TEPT, segundo o estudo.
Financiamento. No Brasil, a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) aprovou a realização do estudo. Para ele ser feito por aqui, será necessária uma verba de R$ 100 mil para tratar ao menos quatro pacientes. Schenberg, que é pós-doutor pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), tenta arrecadar pelo menos R$ 50 mil via financiamento coletivo no site Catarse até a próxima segunda-feira. Se conseguir, o MAPS disse que vai liberar US$ 15 mil (R$ 58.645) para a pesquisa brasileira.
“O MDMA não vicia, você não vê pessoas em clínicas de dependentes com vício em MDMA. O uso de droga no sistema ilegal é mais perigoso do que no âmbito controlado das pesquisas”, reforça Schenberg.
O neurocientista Sidarta Ribeiro, do Instituto do Cérebro, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, especialista em drogas pela Unifesp, os psicoterapeutas Álvaro e Dora Jardim, especialistas em terapia com MDMA, e um clínico-geral, que vai supervisionar a quantidade da substância usada, completam a equipe.
FOTO: EDITORIA DE ARTE
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Psiquiatra faz ressalvas

São Paulo
.Para o psiquiatra Marcelo Feijó de Mello, coordenador do Programa de Atendimento de Vítimas da Violência (Prove), da Unifesp, o uso da substância deve ser encarado com ressalvas.

“É uma ideia, mas eu acho que tem que tomar um certo cuidado porque há uma ressalva em relação aos efeitos farmacológicos. De qualquer maneira, o objetivo é tentar fazer com que as pessoas se sintam melhor”, diz. Para ele, o MDMA pode favorecer a pessoa a ficar menos ansiosa, com menos medo em um primeiro momento, mas também pode causar o efeito oposto, que é fortalecer a memória traumática. “O funcionamento do cérebro é muito complexo”, afirma.

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