quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

CASANOVA (Bibliotecario)

CASANOVA

O mais conhecido dos libertinos, e o único que escreveu um registro completo das suas experiências amorosas, foi o aventureiro veneziano, cavaleiro de Seingalt, Giacomo Girolamo Casanova (1725-1798). Ele era filho de atores do grupo Calle della Commedia. A sua paternidade era por ele mesmo contestada,
dizia-se, e é provável que seu verdadeiro pai fosse o nobre Michele Grimani, dono do teatro aonde trabalhavam seus pais. 
Nessa época, era comum as atrizes se prostituírem e os atores se tornarem cafetões. Seus pais o abandonaram quando ele tinha apenas 1 ano de idade. A avó materna, de má vontade, foi incumbida de criá-lo.



Giacomo graduou-se pela Universidade de Pádua, com o título de doutor em leis. Tornou-se um arrivista utilizando os mais variados expedientes para a ascensão social. Um deles foi a conquista de damas bem-nascidas. Casanova nunca se casou. Foi associado a uma “vida de perversão”, de perpétua ilusão, e à ausência de laço familiar ou responsabilidade com a sua prole.

Atividades profissionais. Elegante e eloquente, logo que aparecia em algum lugar obtinha sucesso social, abrindo caminho para uma excelente posição ou para um posto de confiança.
Entretanto, depois de algum tempo descobria-se que havia tomado parte de alguma operação fraudulenta, e fugia para começar novamente em qualquer outro lugar. Juntou e perdeu fortunas.
Intelectual, de saber enciclopédico, foi secretário de um embaixador, oficial militar, fundador da loteria estatal, espião, sacerdote, violinista, dançarino, fabricante de sedas, cozinheiro, dramaturgo, cafetão, mago-adivinho e jogador, para citar apenas algumas profissões. 

Escreveu 42 livros, entre eles um romance de ficção científica em cinco volumes, além de peças, tratados filosóficos e matemáticos, libretos de ópera, obras sobre calendários, leis canônicas e geometria cúbica. 

Traduziu a Ilíada, de Homero, para o italiano moderno, foi refinado gourmet e praticante da cabala. Amigo de imperadores, papas e mendigos, travou duelos, foi ladrão que entrava pelas janelas, passou anos na prisão e muitas horas embriagando-se com a nobreza. Desfrutou também da companhia de Rousseau, Voltaire e outros pensadores.

A primeira experiência sexual. Assim como seus negócios, seus casos de amor também eram marcados pela canalhice, pela ostentação e pela necessidade de mudança rápida e constante. 
sua primeira experiência sexual completa foi realizada com duas irmãs, ao mesmo tempo. Os três gostaram do episódio, e Casanova mostrava-se sempre disposto a repeti-lo. Quando chegou a uma idade avançada, meditou sobre isso:“Consegui os meus melhores resultados, entretanto, atacando noviças em companhia de outra mulher, porque princípios e preconceitos dificultavam a realização das minhas intenções. Eu já havia aprendido, na juventude, que é
difícil a gente seduzir mocinhas, porque lhes falta coragem para ceder.

Entretanto, na companhia de uma amiga, elas se entregam com facilidade.” 
As aventuras amorosas Casanova tinha mais prazer na sedução do que no próprio ato amoroso que resultava dela. Suas mulheres iam desde as mais aristocráticas até as mais modestas camareiras. 
E ele teve relações sexuais com elas de pé, sentado e deitado; em camas, becos, escadarias, carruagens e botes. Sua técnica típica era a de se sentir apaixonado poucos momentos depois de se encontrar com uma nova mulher. A partir daí, punha em prática seus roteiros. Fazia uso da adulação, de palavras de veneração, de presentes e de dinheiro, se necessário. Lançava mão de emboscadas, se isso fosse possível e possibilitasse o que queria, e acabava sempre oferecendo casamento, quando tudo o mais fracassava.

Apaixonado por uma linda freira, que possuía um amante semi-impotente, armou uma das mais prodigiosas apresentações da sua versatilidade e da sua resistência, depois que ela lhe disse que o homem impotente desejava assistir às relações dela com ele, através de um orifício. Casanova era devasso e ousado; não era à toa que chamava seu pênis de “corcel valente”. Nenhum muro era
elevado demais, nenhuma janela estreita demais, nenhum marido estava próximo demais para impedi-lo de fazer sexo com a mulher que desejasse, “porque ela era bela, porque eu a amava e porque seu encanto nada significaria a menos que tivesse o poder de sufocar toda razão”.



Sempre apaixonado pela mulher que perseguia, seu ardor tornava-o
irresistível. “Quando a luz se extingue, todas as mulheres são iguais”, disse a respeito de suas escapadas ocasionais na escuridão com mulheres feias. Muitas vezes se apaixonou e perdeu seus bens materiais. Casanova queria que todas as mulheres se apaixonassem por ele, mas, quando isso ocorria, ele as abandonava.

Em busca de respeito, ele iludia, insinuava-se e abria caminho para a alta sociedade através da cama. Belo contador de piadas, criava enredos engenhosos, conseguia infiltrar-se por sob as saias de incontáveis mulheres, com frequência durante acontecimentos movimentados. Como as mulheres não usavam roupa de
baixo, o sexo em público tornou-se um prazer especial.58

O envelhecimento Ao entrar na fase dos 40, Casanova deu para colecionar figuras pornográficas. Ficou excitado ao acariciar uma menina de 9 anos de idade; e no decorrer de uma chantagem, teve relações sexuais com uma marquesa de 70 anos, coisa que fez parte de um presumido ritual mágico. Com 49 anos, grande parte de sua energia já havia desaparecido.

Ele descreveu como foi que certa noite, tempos depois, em más condições de saúde e de dinheiro, se deteve numa estalagem de onde, 13 anos antes, fora forçado a partir, com lágrimas e dores, abandonando a sua jovem amante francesa, Henriette, que amava com intensidade. Por ocasião desta segunda visita à estalagem, ele já havia esquecido completamente o episódio. Mas, de repente, viu numa janela as palavras proféticas que ela havia riscado ali com o
anel: “Você se esquecerá também de Henriette.” 

As reflexões de Casanova, neste ponto, são bem interessantes:
Assombrado, caí numa cadeira... Comparando o que agora era com o que fora naquele tempo, tinha de reconhecer que eu já não tinha mais a delicadeza que tivera naqueles dias, nem os sentimentos que realmente justificam os transportes dos sentidos, nem as mesmas maneiras enternecidas... mas o que me apavorava era o fato de ter de reconhecer que eu já não possuía o mesmo vigor.

Quando sofria de gota e se aborrecia com sua plácida existência de
bibliotecário do conde Waldstein, no castelo de Dux, na Boêmia, decidiu viver de novo todos os bons anos passados e escreveu suas memórias.

As memórias. O grande legado de Giacomo Casanova é uma única obra, A história da minha vida. Como nenhum editor quis publicar o texto, ele permaneceu por muito tempo desconhecido, só se tornando disponível em sua totalidade a partir da década de 1960. No original, são 3.800 páginas, que abrangem sua vida de 1725 a
1774, e viria a ser um documento precioso sobre sua época. 

No texto, além da descrição de suas peripécias e múltiplas atividades, ele se revela um perspicaz observador da sociedade aristocrática europeia do século XVIII, e dos costumes nas diversas cortes europeias. Ao escrever as suas memórias com uma caneta de
pena, ele torna-se O Casanova. Em mais de mil páginas, descreve sua relação com as mulheres a quem enviava uma flor, um pente ou qualquer outro objeto simbólico do seu amor prometido.

O aventureiro menciona 116 amantes pelo respectivo nome, e proclama que possuiu centenas de outras, de todos os níveis econômicos e de todas as classes
sociais. “As mulheres que em sua página aparecem formam uma procissão surrealista de lábios, seios e coxas, mas dificilmente se individualizam como seres humanos”, diz Morton Hunt. 
Casanova descreve passagens secretas que dão acesso a alcovas de damas infiéis e duelos travados à primeira luz da madrugada,
quando a honra de noivos e maridos era defendida até a morte. 

A certa altura ele afirma: “Sou suficientemente rico, dotado de aparência imponente e agradável, jogador inveterado, mão aberta, amigo do discurso, mas sempre mordaz, nada modesto, intrépido, galanteador, hábil em suplantar rivais, só reconheço como
boa companhia aquela que me diverte.”

Deduz-se que Casanova podia conquistar quem quisesse, sem dificuldade.
Um dos seus biógrafos diz que ele tinha o dom “de manter a graça e a ereção quando todos em volta as estavam perdendo”. 
O mais famoso sedutor de todos os tempos morreu em Dux , aos 73 anos, em 4 de junho de 1798. 

O próprio julgamento de toda a sua vida está contido na última afirmação que fez: “Não me arrependo de nada.”
“Ele escreveu para salvar sua alma, ou assim costumava declarar, mas esta era uma expressão muito usada por ele para não se referir especificamente à sua tão importante vida sexual, e até mesmo a seu pênis”, esclareceu seu biógrafo.59

Por tudo e por todas, não é de espantar que um homem que dedicou grande parte de sua vida aos prazeres do momento tenha caído em profunda melancolia na velhice. Escrever foi um tratamento sugerido por seu médico para evitar a loucura ou a morte por tristeza. “Casanova apresentou, pela primeira vez no cânone ocidental, a ideia de que a compreensão do sexo, com toda sua
irracionalidade e seu potencial destrutivo, é uma chave para se entender o eu. 
história da minha vida é um texto revolucionário, que fascina por muitas outras coisas além de seus catálogos de conquistas amorosas.”




Nenhum comentário: