segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Onde a neurociência e a meditação se encontram

Encontro vai abordar as reações do cérebro ao ato de meditar


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Elisa Harumi Kozasa estuda as neuroimagens do cérebro
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O monge Napoleão Gontijo diz que a mente é o estado absoluto

Avanços em neuroimageamento do cérebro e outras técnicas permitiram que os cientistas documentassem os benefícios da meditação, prática que produz mudanças significativas tanto na função como na estrutura do cérebro, podendo ter impacto substancial em processos biológicos essenciais à saúde física e mental.

Quem está à frente desse estudo é Elisa Harumi Kozasa, pesquisadora e docente do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, formada em ciências biológicas pela Universidade de São Paulo e com pós-doutorado pelo departamento de Psicobiologia.

Suas principais pesquisas abordam a neurofisiologia de estados de consciência como a meditação por meio da neuroimagem funcional e da avaliação de intervenções que envolvem treinamento de habilidades cognitivas e comportamentais e que promovem melhor qualidade de vida e bem-estar.

A pesquisadora estará em Belo Horizonte para a jornada Meditação e Neurociência, promovida pelo Istituto Biaggi, instituição especializada no desenvolvimento humano, e pelo Centro Zadam de Meditação, coordenado pelo monge Napoleão Coelho.

“Nos estudos sobre os efeitos da meditação no cérebro foram encontrados alguns dados interessantes, como melhora da função cognitiva (atenção, memória), processamento emocional relacionado a mudanças na função de áreas como o córtex pré-frontal, hipocampo e a ínsula, por exemplo. Em alguns estudos, encontramos mudanças na estrutura cerebral dos praticantes de meditação, como o córtex cerebral mais espesso, em algumas regiões do cérebro”, pondera Elisa.

Na prática, o cérebro de quem medita é diferente do de quem não medita? “Em um estudo que publiquei em 2012, na ‘Plos One’, mostro que, por meio de um método computacional de classificação, foi possível verificar, com uma precisão de quase 95%, se um cérebro, pela sua estrutura, pertencia a uma pessoa que meditava com regularidade ou não. Em um editorial da Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine apresentei uma panorâmica de práticas como a ioga e a meditação e suas contribuições na área da reabilitação”, explica a pesquisadora.

A meditação pode influenciar positivamente processos biológicos essenciais à saúde física e mental, desde que a pessoa a pratique com regularidade.

“De qualquer maneira, no caso de pacientes em tratamento, é sempre importante conversar com o médico sobre o interesse em praticar meditação, principalmente nos diagnósticos psiquiátricos mais severos”, ressalta Elisa.

Ela recomenda a meditação para pessoas que sofrem de hipertensão. “A prática regular pode trazer benefícios para quem sofre desse problema. Muitas pessoas também obtêm bons resultados na redução do estresse e melhora dos sintomas de insônia, como mostram alguns estudos. Quando meditamos, estamos treinando nossas funções mentais e, consequentemente, nosso cérebro”.

AGENDA: A jornada Meditação e Neurociência acontece no dia 26 de setembro, no Centro Zadam de Meditação. Informações: (31) 9732-3051 e (31) 3222-1367.

Depoimento

“A mente pode ser um caminho para se chegar a Deus”

O processo meditativo é um acontecimento histórico de pelo menos 5.000 anos. A neurociência tem se tornado uma ferramenta para descrever o trânsito dos neurotransmissores que estão relacionados com o processo da meditação.

Ela tenta responder a perguntas como, o que acontece no cérebro das pessoas quando estão em meditação, qual é o processo que ocorre e que transformação ele gera.

No cérebro acontecem processos sinápticos que vão criar condições para alterar o comportamento das pessoas, e uma dessas situações é a meditação.

Os cientistas estão estudando quais neuroquímicos estão vinculados à meditação e criando ponte com o bem-estar das pessoas.

A grande incógnita ainda é compreender o que ocorre no cérebro que promove uma nova conduta na mente da pessoa.

O discurso sobre o que é a mente é muito mais amplo, pois se refere a tudo que existe no mundo. A mente é a cultura, a relação com todas as coisas da natureza e pode, inclusive, ser um caminho para se chegar a Deus. A mente é o estado absoluto.

No ser humano, o trânsito dos neuroquímicos pode gerar diversos tipos de mente, como, por exemplo, patológicas, ativas, boas, compassivas.

Essas características que enobrecem o homem começam a ser identificadas neuroquimicamente a partir do cérebro.

Contudo, a mente não é o cérebro, mas tudo o que eu percebo está sendo formado por bilhões de circuitos sinápticos. Dentro do cérebro existem mais processos sinápticos operando do que todos os átomos do universo.
Napoleão Gontijo, monge Ryo Kei, zen-budista
 
Praticantes têm mais foco diário

A pesquisadora Elisa Harumi Kozasa foi finalista do Prêmio Saúde de 2013, com um estudo em que foi possível verificar que cuidadores de pacientes com Alzheimer que passaram por um programa que envolvia ioga e meditação conseguiram não apenas diminuir a percepção de seu próprio estresse, como também reduzir os níveis de cortisol (principal hormônio relacionado ao estresse) pela metade, quando comparado a um grupo controle.

“Hoje, há um grande interesse, na área de saúde,em programas que possam ajudar a tornar o estilo de vida mais saudável, com redução de sintomas de estresse e que trazem bem-estar.

Nesse sentido, programas que incluam práticas meditativas podem ter um papel importante, não apenas no tratamento de doenças, como também na promoção de saúde. Tais práticas ajudam o indivíduo a desenvolver um foco de atenção para sua vida diária”, propõe a pesquisadora.

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