segunda-feira, 16 de novembro de 2015

O ‘vaso’ que descansa a mente : meditação

Técnica mostra como trabalhar a postura para que ela se torne aliada


BAJA
O ser que medita desenvolve a atenção plena, a quietude da mente, mas e o corpo como fica? Não são poucas as pessoas que sentem desconforto durante a prática, os pés ficam dormentes, a coluna incomoda, não há posição confortável. Parece fácil quando contemplamos quem medita, mas não é.
A arquiteta e instrutora de ioga e meditação, Marcia Baja, 44, é aluna, desde 1996, do lama Padma Samten, mestre do budismo tibetano. Vive no Centro de Estudos Budistas Bodisatva Darmata, no interior de Pernambuco. Ela vem à capital ministrar o curso “O Corpo – Vaso para o Silêncio”, em que ensina que é no silêncio da meditação que o corpo se torna o assento onde vai repousar. “A expressão ‘corpo-vaso’ quer mostrar a receptividade natural do nosso corpo para realizar qualquer atividade para a qual nos dispusermos. Basta treinarmos. Nesse curso, vamos descobrir o potencial do nosso corpo de se tornar um vaso perfeito para o silêncio, para a prática da meditação com completo conforto e estabilidade”, ensina Marcia.

A proposta do curso é iluminar o corpo para que ele se torne um aliado da prática de meditação.
“Isso é possível por meio da consciência. É ela que irá iluminar o corpo para que ele se torne um instrumento para o silêncio e o autoconhecimento. A consciência unida aos exercícios de ioga nos levará a um passeio por todo o corpo, ‘lavando-o’ de todas as limitações e, ao mesmo tempo, oferecendo novas informações e estímulos. Por meio de uma prática contínua, nosso corpo irá mudar, pois ele é receptivo e está em constante movimento e mutação. Se nós o estimularmos adequadamente ele será um aliado não só para a prática da meditação, mas para uma vida muito mais plena e feliz”, comenta a instrutora.

Mas por que as pessoas sentem tanto incômodo durante a prática? “As dificuldades na meditação surgem por não sabermos lidar com o corpo, a mente e a energia quando estamos parados. Estamos completamente identificados com o movimento, e, ao nos depararmos com o silêncio e a imobilidade, todo tipo de aflição pode surgir. Vamos sentir vontade de nos mover, sentir dores, nossa mente parecerá mais agitada do que nunca, emoções irão brotar, e iremos oscilar entre a excitação e o sono. E é assim mesmo para a maioria das pessoas. Mas o ponto é não desistir”, infere Marcia.

Segundo ela, há métodos para se domar o cavalo selvagem da mente e do corpo. “Se formos pacientes e perseverantes iremos colher bons resultados. A meditação é um treinamento. Em nossas vidas, estamos sempre treinando, sempre aprendendo algo novo. Vamos repetindo até a atividade se tornar tão natural a ponto de nem mais precisarmos pensar sobre ela. Com a meditação também é assim, precisamos ser contínuos. Os frutos certamente virão”.

Corpo domado, mas e a mente? Afinal, meditar é estarmos atentos ao nosso corpo, aos nossos pensamentos, ou é a busca do silêncio?

“Há muitos métodos para a meditação. Alguns irão buscar o ‘não pensar’, mas há outros que tentam ir além da noção de ‘pensar’ e ‘não pensar’, buscando apenas o estado natural da mente. Nesse estado natural, tanto o pensar como o não pensar são possíveis. Nessa perspectiva, o maior ganho da meditação será a liberdade. Podemos pensar, mas não somos escravos dos pensamentos.

Podemos também não pensar, mas não nos engessamos nesse estado, achando que os pensamentos são um problema. É a partir dessa liberdade que encontraremos a verdadeira paz. Estaremos em paz no movimento da mesma forma que estaremos em paz no repouso. A meditação deveria nos levar a um ponto livre de extremos”, observa a instrutora.

A qualidade da meditação vem da integração do corpo, da energia, da mente e de um bom alinhamento desses três corpos.

“Quanto mais bem trabalhado o corpo físico na prática de ioga, menos obstáculos teremos durante a meditação - menos dores, menos impulsos de nos mexer, menos riscos de nos machucar. Se nós não prepararmos o corpo, ele será justamente o foco da nossa atenção por um bom tempo. Já se formos praticantes de ioga, teremos um tempo reservado apenas para cuidar do corpo e, ao sentarmos em silêncio, encontraremos um conforto natural e nos sentiremos estáveis, relaxados e cheios de vivacidade. Com esse conforto, poderemos ir adiante e focar em outros aspectos da meditação, que estão relacionados à energia e à mente”, finaliza a instrutora.
Atenção plena. A instrutora de ioga e meditação Marcia Baja vai ensinar como iluminar o corpo para que ele se torne um aliado da prática



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