segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Cientistas fazem história ao recriar parte de um cérebro

Simulação digital é passo concreto para o sonho de 31 pesquisadores  do Blue Brain Project de reproduzir esse complexo órgão humano



O cérebro é a fronteira final da ciência. A obra-prima do universo, a tecnologia mais avançada de que se tem notícia até hoje. Entendê-lo significa, basicamente, desvendar todos os mistérios da ciência, e um passo fundamental para isso foi dado na última semana pelos 31 pesquisadores do Blue Brain Project, que conseguiram reproduzir digitalmente um pequeno pedaço do cérebro de um rato. A conquista do time comandado pelo professor Henry Markram foi publicada em um artigo no periódico científico “Cell”.
“Reconstruímos uma pequena parte (equivalente a cerca de 0,3 mm³ – menor que uma cabeça de alfinete) do córtex somatossensorial, região responsável pela percepção das sensações, como tato, olfato e visão. Nós a escolhemos porque é uma área que já foi extensamente estudada por nós e por outros pesquisadores, e salvamos os dados desses estudos tanto para construir o modelo como para validar sua precisão”, explica com exclusividade à O TEMPO o pesquisador Srikanth Ramaswamy, um dos desenvolvedores do algoritmo do “cérebro digital” – uma espécie de fórmula para o seu funcionamento. Agora, esse modelo está se comportando como um pedacinho de cérebro em um sistema digital.
Apesar desse passo, a comunidade científica ainda não chegou a uma conclusão se será capaz, um dia, de recriar em ambiente digital um cérebro humano. “Para alguns cientistas, talvez consigamos. Para outros, nós não vamos conseguir mesmo. E há, ainda, um grupo que acredita que só vamos chegar a recriar uma versão digital do cérebro se mudarmos a forma como pensamos em ciência”, explica o neurocientista Bruno Rezende Souza, professor do Núcleo de Neurociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
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O professor Henry Markram é o coordenador do ambicioso projeto


De acordo com ele, nossa ciência ainda é muito baseada nas leis de Newton, segundo as quais toda ação acarreta uma reação. Mas os sistemas complexos, como o cérebro, não obedecem exatamente a essas regras. “Todo sistema orgânico é complexo – tem muitas variáveis. Além disso, ele é dinâmico. Em um milissegundo, as variáveis já podem ser outras. Por fim, ele é aberto, o que significa que as variáveis são influenciadas pelo ambiente”, diz. Entender todas essas questões seria, então, a chave para desvendar, de verdade, os mistérios do universo.

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