segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Ciência esbarra no tempo na luta contra o envelhecimento

"Não acredito que seja ainda neste século que vamos desenvolver um elixir da juventude, pois as variáveis são inúmeras", diz nutróloga


envelhecimento


Ser jovem para sempre parece ser um desejo íntimo de todo ser humano. E a ciência corre atrás: pesquisa após pesquisa, estudiosos vêm tentando descobrir como prolongar nosso tempo de vida sobre a Terra. 
 
No mais recente trabalho sobre o assunto, publicado em julho deste ano no periódico “Molecular Cell”, o professor de biociência molecular Richard Morimoto, autor da pesquisa e professor da Universidade Northwestern, dos Estados Unidos, conseguiu paralisar o envelhecimento em vermes microscópicos da espécie C. elegans. 
 
Ele percebeu que as células do C. elegans sofrem um declínio significativo depois que atingem sua maturidade reprodutiva. “Vimos uma queda dramática da resposta de proteção ao choque térmico no início da vida adulta”, comenta Morimoto. Sem essa proteção, as células começam a morrer. Restabelecer essa proteção, portanto, seria a melhor forma de manter esses organismos vivos e jovens. 
 
Pesquisadores espanhóis foram por outro caminho. O grupo, da Universidade de Oviedo, estudava um medicamento para tratar doenças raras associadas ao envelhecimento prematuro. Eles introduziram em ratos de laboratório duas moléculas experimentais que bloquearam a ação de uma proteína capaz de inibir a formação de células-tronco. 
 
O resultado surpreendeu até os próprios cientistas: além de aliviar os sintomas das doenças, o medicamento ainda rejuvenesceu as células do organismo das cobaias. “Demonstramos que a inibição (do marcador) DOT1L in vivo aumenta o tempo de vida e melhora o fenótipo de envelhecimento em ratos”, declaram os pesquisadores no texto da pesquisa. Os ratos que receberam as moléculas viveram 65% mais. Se a experiência mostrar os mesmos resultados em humanos, nossa expectativa de vida poderia ir para 135 anos, aproximadamente. 
 
Na Rússia, outro grupo de cientistas tenta uma terceira abordagem. Cientistas da Universidade Estadual de Moscou estão desenvolvendo um novo antioxidante para agir sobre as mitocôndrias celulares. “Elas são as culpadas pelos ataques no coração e por doenças como o Alzheimer e o Parkinson. Se as doenças passarem a se desenvolver mais lentamente, então nossa ideia para combater o envelhecimento através das mitocôndrias está correta”, prevê Maxim Skulachev, coordenador da pesquisa. 
 
 

Vamos ter que esperar

As pesquisas são promissoras. Mas não para as pessoas da nossa geração. O médico Luiz Vicente Rizzo, diretor-superintendente de pesquisa do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein, que tem pesquisas centradas no envelhecimento, não hesita em dizer que nenhuma das pessoas vivas hoje irá se beneficiar dessas descobertas.
 
“Se você for um C. elegans ou um rato, pode ficar muito feliz. Mas o DNA dos primatas têm características únicas, então, até que essas descobertas sejam transpostas para um organismo tão complexo quanto o do ser humano, já teremos morrido”, garante ele, categórico. “Não acredito que seja ainda neste século (que vamos desenvolver um elixir da juventude), pois as variáveis são inúmeras”, reforça a nutróloga Dinah Ribeiro de Paula, vice-diretora da Sociedade Brasileira de Antienvelhecimento. 
 
Por enquanto, a ciência tem focado na prevenção e no tratamento de doenças – vide o recente aumento da expectativa de vida. E isso deverá nos bastar. 
 
 

Envelhecimento saudável continua sendo o mais importante

A realidade é dura: os seres – inclusive os humanos – foram feitos para envelhecer. O que podemos (e devemos) fazer é cuidar para ter um envelhecimento saudável. Para isso, não há segredo. “Manter uma vida saudável, com boa alimentação, atividade física, sono reparador, boas relações sociais, gostar do que faz etc serão ainda a chave de um envelhecimento bem sucedido”, lembra a médica Dinah Ribeiro de Paula, da Sobrae.
 
O cérebro também se beneficiará muito disso, mas é possível fazer mais. “A pessoa tem que ter o hábito de manter uma atividade intelectual rica ao longo da vida, principalmente fazendo atividades com um objetivo definido, como um curso de línguas, aprender uma nova habilidade, fazer um voluntariado”, aconselha o neurologista Paulo Caramelli, que pesquisa sobre envelhecimento na UFMG.
 
“Seu relógio (biológico) vai marcar fim de jogo em um ponto qualquer. Jogue bem o jogo. Viva sua vida de maneira que valha a pena, equilibrando hábitos saudáveis e espaços para a sua diversão. Esse é o verdadeiro elixir da juventude – não interromper marcadores de envelhecimento”, aconselha o médico Luiz Vicente Rizzo, do Hospital Albert Einstein.

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