sexta-feira, 15 de julho de 2011

Recém-nascidos revelam o mundo

Recém-nascidos revelam o mundo



Existe um pequeno filme chamado "Briga de Criança", realizado pelos irmãos Lumière nos primórdios do cinema, por volta de 1896, que mostra dois bebês, sentados lado a lado, numa disputa por brinquedos - um querendo aquele que se encontra na frente do outro.
É provável que esse filminho de um minuto de duração tenha sido inspiração para o diretor e cinegrafista Thomas Balmès, que inicia exatamente assim seu longa "Bebês", em cartaz numa única sala de Belo Horizonte, o Cine Paragem.
Só que, diferente das crianças da Era Vitoriana do filme dos Lumière, os dois meninos vistos em "Bebês" são africanos. É esta internacionalização do tema o mote principal de Balmès, que usa as figuras de quatro bebês ao redor do mundo - Namíbia, Japão, Mongólia e Estados Unidos - para falar sobre as diferenças culturais que ainda existem em plena globalização.
A bem cuidada fotografia pode, a princípio, remeter à publicidade com motivos transnacionais, uma espécie de "United Colors of Benetton" em movimento.
Contrastes. Existe realmente uma vontade de Balmès de edulcorar esse universo infantil, tornando seu filme um programa perfeito e extremamente emocionante para aqueles que são ou estão prestes a serem pais e avós.
Mas o registro do diretor, construído ao longo de um ano da vida de seus pequenos protagonistas, vai além. A partir de contrastes culturais, expõe a fragilidade de alguns valores da contemporaneidade e a superficialidade de alguns supostamente imprescindíveis elementos com os quais certos pais cercam sua prole.
O cineasta coloca a câmera à altura das crianças, tentando ver o mundo da forma que elas o veem.
Raramente as faces de seus pais ou de outros adultos são mostradas. Pelo contrário: o filme é todo narrado através de música - de autoria de Bruno Colais, o mesmo compositor da trilha sonora da animação infantojuvenil "Coraline e o Mundo Secreto" e do documentário "Migração Alada" - e das imagens, ao dizer que o que interessa às crianças nessa idade são outras partes da anatomia além dos rostos, como os seios maternos, fontes de alimento e sobrevivência.
E assim "Bebês" encontra inesperadas conexões entre essas crianças de locais tão díspares cultural e economicamente. É um discurso que ilumina não aquilo que nos separa, mas, sim, o que nos torna uno.
Inocências. Uma das crianças protagonistas de "Bebês": formas variadas e novas de contato com a realidade são captadas pela câmera 

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