sexta-feira, 15 de julho de 2011

Ecoansiedade assola cidadãos ligados em questão ambiental

Ecoansiedade assola cidadãos ligados em questão ambiental
Terapias, discussões e ações coletivas ajudam a amenizar problema psicológico

DENVER, EUA. Quatro décadas após a efervescência do movimento ambientalista, o "ecochique" está presente em todo lugar, desde casamentos verdes até fundos mútuos, sedes de corporações e brechós. E o fluxo interminável de escolhas de moradia verde, incentivado pelos medos que variam da escassez do petróleo até a mudança climática, está dando às pessoas uma nova forma de preocupação.

Os especialistas chamam esse fenômeno de "ecoansiedade". "Isso é o que os psicólogos chamam de sentimento oculto de medo e raiva em relação ao estado da Terra", disse Margaret Emerson, mestre em ecopsicologia da Universidade Naropa, nos EUA. "Se você escolhesse apenas uma coisa para se preocupar em termos ambientais, já seria pesado, mas, com tudo isso pressionando, é psicologicamente estarrecedor". Campos novos de estudo como a ecoterapia e a ecopsicologia surgiram em paralelo a coisas como "os seis níveis de consciência", semelhante aos estágios de pesar, que as pessoas acometidas por ecoansiedade compartilham umas com as outras. Os estágios variam desde negação e medo até aceitação e ação.Casos. Quando Margaret realizou um seminário sobre ecoansiedade no início deste ano na Universidade Naropa, não faltou gente angustiada para participar. "As pessoas falavam sobre todas as formas diferentes pelas quais elas estavam enlouquecendo acerca das coisas", disse ela. Um homem do Estado norte-americano do Colorado ficava "absolutamente devastado" ao ver árvores morrerem e ao perceber que marmotas e outros animais da região do Parque Nacional das Montanhas Rochosas desapareciam, conta Margaret. Uma mulher vegana estava igualmente chateada por motivos diferentes. "A ecoansiedade dela era sobre como tratamos os animais", disse Margaret. "Ela falava e falava sobre isso com as pessoas, mas parecia que ela via cada vez mais fazendas industriais. Ela pensava que, independentemente do que ela fazia, as coisas só pioravam". Pouca ação. Aparentemente, a culpa caminha bem ao lado dessa ansiedade. De acordo com um estudo divulgado na última semana pela Ogilvy Earth, empresa de consultoria sobre sustentabilidade, 82% dos norte-americanos têm boas intenções de viver de forma "verde". Entretanto, só 16% deles se dedicam a viver dessa forma. Quase 50% dos norte-americanos disseram que se sentem mais culpados ao descobrirem mais coisas sobre como ter um estilo de vida sustentável. Os "superverdes", subgrupo de norte-americanos que têm estilos de vida ligados à preservação ambiental, sentem-se duas vezes mais culpados do que os cidadãos comuns. Nos EUA já existem terapias para os ecoansiosos. A psicoterapeuta Carolyn Baker, por exemplo, oferece "acompanhamento de colapso" para pessoas que lidam com ecoansiedade. "Esse tipo de terapia ajuda quando precisamos nos recompor de pensamentos tipo ‘Oh, meu Deus, tenho que salvar o mundo porque já daqui a pouco vai ser tarde demais’", disse Carolyn, que é autora de "Navigating the Coming Chaos" (Navegando Pelo Caos que Está por Vir). "Mas podemos viver de uma forma satisfatória e cuidar do meio ambiente mais próximo de nós, além de reunir uma comunidade em torno disso". Traduzido por André Luiz Araújo

Militante. O ex-ministro Carlos Minc, aqui apoiando o fim das sacolas plásticas, se diz um ecoansioso

REDE ECOLÓGICA
Solução para sentimento de remorso pode estar nas ações coletivas locais

Educação. Alunos de escola dos EUA têm aula sobre ações ambientais e usam materiais reciclados para fazer exposição para o dia da Terra
DENVER. Antes de virar especialista no assunto, a ecopsicóloga Margaret Emerson também passou pelo problema de ansiedade por achar que estaria fazendo pouco para salvar o planeta. O "calmante" para sua ecoansiedade veio quando ela descobriu o movimento Transition Towns (Cidades em Transição), rede baseada na comunidade local que ajuda os vizinhos a lidarem com os desafios da escassez de petróleo e da mudança climática.

Iniciado no Reino Unido em 2005, o movimento Transitions Towns se espalhou rapidamente. Atualmente, a rede já conta com mais de 300 comunidades em vários países do mundo, que variam dos Estados Unidos até Nova Zelândia, Chile e Brasil. Em Minas Gerais, por exemplo, existe uma iniciativa na cidade de São Lourenço.

Margaret participou do seu primeiro treinamento da Transition Towns na cidade de Boulder em 2008 e, depois, começou um grupo para pessoas que vivem no subúrbio de Denver, Colorado. As pessoas se reuniam para aprender sobre coisas como a criação de jardins comunitários, compostagem e até conserto de bicicleta. "O grupo realmente me ajudou psicologicamente", disse ela. "Não só porque, agora, eu posso cuidar de mim mesma um pouco melhor, mas porque fico conhecendo gente que realmente entende e que não vira os olhos para o lado e pensa: ‘Você é uma ecochata, vá para longe de mim’". (COC/NYT)


COLLEEN O CONNO
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THE DENVER POST

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