terça-feira, 19 de julho de 2011

cidades europeias tentam criar paraiso para pedestres

Maioria das vias do continente surgiu antes da invenção do automóvel


THE NEW YORK TIMES



Conscientização. O bonde é muito usado em Zurique, cidade que vem dificultando o uso dos carros em favor das bicicletas e do transporte público


Zurique, Suíça. Enquanto cidades brasileiras e norte-americanas estão sincronizando as luzes verdes dos semáforos para melhorar o fluxo do trânsito, abrindo vias exclusivas para ônibus e construindo estacionamentos subterrâneos, muitas cidades europeias estão indo na contramão dessa ideia. Muitos municípios estão criando ambientes abertamente hostis para os carros. Os métodos variam, mas a missão é clara - encarecer e dificultar o uso dos veículos para pressionar os motoristas a utilizarem meios de transporte mais ambientalmente corretos.

Grandes cidades como Viena (Áustria), Munique (Alemanha) e Copenhague (Dinamarca) fecharam grandes trechos de ruas para os carros. Barcelona (Espanha) e Paris (França) tiveram pistas de carros substituídas por programas populares de ciclovias. Motoristas de Londres (Reino Unido) e Estocolmo (Suécia) cobram taxas de congestionamento para se entrar na região central da cidade.

E nos últimos dois anos, dezenas de cidades alemãs se juntaram a uma rede nacional de "zonas ambientais", onde apenas carros com baixas emissões de dióxido de carbono podem entrar.
Cidades com pensamento semelhante receberam com agrado novos shopping centers e prédios de apartamentos, mas restringiram severamente o número de vagas de estacionamento disponíveis nas ruas.

"Nos últimos anos, até ex-capitais automotivas, como Munique, evoluíram para ‘paraísos dos pedestres’", disse Lee Schipper, engenheiro pesquisador da Universidade Stanford que é especialista em transporte sustentável.

Tendência. "Nos Estados Unidos, existe uma tendência muito maior de adaptar as cidades para acomodar o tráfego", explicou Peder Jensen, chefe do Grupo de Energia e Transporte da Agência Ambiental Europeia. "Aqui (na Europa), porém, existe um movimento para tornar as cidades mais habitáveis para as pessoas e relativamente livres de carros", continua o especialista.

Para isso, o Departamento de Planejamento de Trânsito de Zurique vem trabalhando para atormentar a vida dos motoristas. Semáforos que ficam pouco tempo com a luz verde foram instalados nas vias de acesso à cidade, provocando atrasos e raiva em quem tem que dirigir até o trabalho. As passagens subterrâneas para pedestres, que permitiam o trânsito fluir livremente nos grandes cruzamentos, foram removidas.

Os operadores dos bondes da cidade, cujos vagões e trilhos estão em ampla expansão pelas ruas, podem acionar os sinais vermelhos dos semáforos em seu favor enquanto se aproximam de cruzamentos, forçando os carros a pararem.

Tartarugas Próximo à Lovernplatz, uma das praças mais movimentadas de Zurique, os carros estão proibidos em vários quarteirões.

Nos lugares onde eles são permitidos, a velocidade foi limitada a um "passo de tartaruga" para que as faixas de pedestres e os sinais de travessia fossem retirados completamente, dando às pessoas a pé o direito de atravessar em qualquer lugar, em qualquer momento.

Em pé, parado e vendo carros se movendo lentamente próximos a um grande número de bicicletas e pedestres, o chefe de planejamento de trânsito Andy Fellman sorria. "Dirigir é uma experiência de parar e arrancar", disse ele. "É disso que gostamos! Nosso objetivo é reconquistar o espaço público para os pedestres, em vez facilitar para os motoristas".

Traduzido por André Luiz Araújo


BOLSO
Gasolina cara é outra forma de pressão
ZURIQUE. Apesar de algumas cidades de todo o mundo estarem realizando medidas para reduzir o fluxo de veículos automotores, expandindo ciclovias e "pedestrializando" alguns trechos de ruas, isso ainda é raro fora da Europa.


As cidades europeias geralmente têm incentivos mais fortes para agirem. Como a maioria foi construída antes do advento dos carros, suas ruas estreitas são ruins para o trânsito pesado. O transporte público normalmente é melhor na Europa do que nos EUA ou Brasil, e a gasolina custa, em média, R$ 3,36 por litro – mais caro do que no resto do mundo. Isso contribuiu para a elevação dos custos de deslocamento por carro.


Metas. Além disso, os países da União Europeia provavelmente não conseguirão cumprir as reduções das emissões de dióxido de carbono acordadas no Protocolo de Kyoto se não reduzirem o número de carros nas ruas. Os Estados Unidos nunca ratificaram esse pacto.


Em todo o mundo, as emissões relacionadas ao transporte continuam subindo sem parar, sendo que metade delas vem dos carros particulares. Entretanto, um impulso importante por trás das reformas do trânsito na Europa é bem familiar a prefeitos em qualquer lugar: tornar as cidades mais convidativas, com ar mais limpo e menos trânsito.


Michael Kodransky, gerente do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento de Nova York, destaca que, "anteriormente, a Europa estava no mesmo caminho dos EUA, com mais pessoas querendo possuir mais carros próprios". Mas, na última década, "houve uma mudança consciente no pensamento e políticas mais firmes. Isso está gerando um efeito", disse ele. (ER/NYT)
FOTO: CHRISTOPH BANGERT/THE NEWYOR
Limmatquai, em Zurique, hoje é uma zona apenas para pedestres, mas tinha congestionamentos todo dia

PREDOMÍNIO
Carro ocupa 38 vezes mais espaço do que uma pessoa
ZURIQUE. Urbanistas geralmente concordam que um aumento no uso de carros particulares para deslocamento não é desejável para nenhuma cidade do mundo. Andy Fellmann, chefe de planejamento de trânsito, calcula que uma pessoa usando um carro ocupe 115 m³ de espaço urbano, enquanto um pedestre ocupe apenas 3 m³. "Não é justo para as outras pessoas o uso do carro", disse ele.

E para cumprir as rígidas diretrizes de poluição por partículas finas estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde, muitas cidades europeias concluíram que, para as pessoas largarem seus carros, medidas extremas são necessárias. Muitos municípios estão investindo em um bom transporte público. Outra estratégia recente na Europa é a elevação dos preços dos estacionamentos rotativos. (ER/NYT)

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