sexta-feira, 15 de julho de 2011

40 anos de ultraviolência

40 anos de ultraviolência
Clássico cult de Stanley Kubrick, "Laranja Mecânica" foi visionário e permanece um retrato do caos urbano MARCELO MIRANDA


A primeira exibição pública nos Estados Unidos foi no dia 19 de dezembro de 1971, e a estreia nos cinemas da Inglaterra, em 13 de janeiro de 1972. Mas é mesmo ao longo de 2011 que vêm sendo celebrados os 40 anos de lançamento de um dos maiores clássicos cult já produzidos no cinema. Naquele fim de ano, o público começou a tomar contato com o universo doentio de "Laranja Mecânica".
O nono longa-metragem do diretor norte-americano Stanley Kubrick (1928-1999) - de uma carreira de apenas 13 títulos - não foi bem recebido em sua época, como é bastante comum em obras consideradas visionários décadas depois. Acusado de abusar no uso da violência e de defender ideias reacionárias, Kubrick amargou inclusive a censura do título em alguns países (veja mais ao lado) e um razoável fracasso de bilheteria - o filme arrecadou US$ 26 milhões, valor considerado baixo, mesmo para o orçamento de apenas US$ 2,2 milhões.
Visto hoje, "Laranja Mecânica" não apenas se reforça como o grande filme que sempre foi, mas se revela como um trabalho à frente de seu tempo. Adaptando a novela homônima do escritor Anthony Burgess, Kubrick mostrou uma certeira sensibilidade em captar os rumos que a violência urbana tomava já naquela época.
Impacto. "Há um inegável conteúdo premonitório no filme, que coloca em tela comportamentos e questões que foram, cada vez mais, se verificando na realidade dos centros urbanos no mundo", destaca o professor e crítico Rafael Ciccarini, que atualmente faz uma tese de doutorado sobre a obra de Stanley Kubrick.
O impacto provocado por "Laranja Mecânica" já estava presente no texto de Burgess, mas ganhou ainda mais força na maneira como Kubrick o transportou à tela. Para muitos fãs, a novela era inadaptável, especialmente pelo linguajar.
Burgess inventou uma língua própria para o protagonista, Alex, e seus amigos baderneiros. O "nadsat" funcionava como um tipo de gíria, misturando elementos de inglês e russo e formando neologismos aparentemente intraduzíveis. Numa nova edição brasileira do livro, pela editora Aleph, a tradução ficou a cargo de Fábio Fernandes, que conseguiu verter o "nadsat" para o português, incluindo um glossário no final.
Kubrick se apropriou, sem pudor e sob risco de não ser entendido, dos termos usados por Alex no livro de Burgess. Curiosamente - e algo que representa à perfeição o tal caráter premonitório do filme -, o principal neologismo é o hoje reconhecido "ultraviolence" ("ultraviolência"), então uma novidade e o principal fator estimulante adquirido pela turma de Alex ao tomar um determinado tipo de leite, enquanto ouvem composições de Beethoven.
Para ver em casa
"Laranja Mecânica" já foi lançado e relançado em DVD no Brasil. A grande novidade, agora, é que o filme está disponível em Blu-ray no Brasil, podendo ser visto na melhor definição possível. O disco ainda traz diversos materiais extras sobre a produção.


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