domingo, 31 de outubro de 2010

meia-idade... eu?

Crise da meia-idade: um mito?
Cada pessoa reage de forma diferente quando a idade começa a pesar


ANA ELIZABETH DINIZ
Quem falou que crise é algo ruim? Ela pode ser uma ótima oportunidade de transformação, de virar a mesa. Chegar à faixa dos 40, 50 anos, não é o fim do mundo, definitivamente.
De acordo com Carlo Strenger, professor da Universidade de Tel Aviv, o aumento da expectativa de vida nas últimas décadas deve fazer com que as pessoas mudem sua ideia de que essa fase seja algo ruim.
"As pessoas passaram a viver vidas mais completas e com mais tempo. Então, precisamos deixar esse estereótipo e começar a pensar em termos de ‘transição da meia-idade’, e não em crise", afirma.
Em artigo escrito em parceria com o pesquisador israelense Arie Ruttenberg e publicado no ano passado na revista norte-americana "Harvard Business Review", o professor afirmou que os anos posteriores à meia-idade representam a melhor época para prosperar e crescer.
Baseado em pesquisa com evidências empíricas e estudos de campo, Strenger descarta o mito de que estar por volta dos 50 anos significa ter que se adaptar para diminuir expectativas.
Imagem. Para Ângela Mucida, psicanalista, mestre em filosofia e doutoranda em psicologia, a etimologia da palavra crise (crìsis,is do latim) é interessante.
"Trata-se de uma mudança súbita implicando um perigo e impondo uma decisão ou uma condução. Não é possível, diante de uma crise, manter-se incólume. A crise de meia-idade pode ser pensada como um momento, variável para cada sujeito, no qual ele se depara com mudanças efetivas que tocam sua imagem, seu corpo e, sobretudo, seus laços sociais. Essas mudanças sinalizam para o sujeito que há um limite do tempo".
A psicanalista não tem dúvidas de que a crise da meia-idade existe. "O real é efetivo porque na vida as coisas não se engatam de maneira perfeita. A passagem do tempo trará sempre em sua sola mudanças e até perdas efetivas que podem fazer "trepidar" muitas maneiras do sujeito se manter na vida", diz ela.
O mundo está cheio desses exemplos. "É a mãe que investiu tudo na maternidade e de repente se vê só, sem seus filhos, um sujeito que se via apenas como trabalhador e se aposenta, alguém que se identificava com suas belas formas e o tempo as esculpiu de maneira irrevogável. Enfim, há várias maneiras de essa ‘crise’ tomar corpo. Ela se mostra sempre muito singular, pois se relaciona à história de vida de cada um", pontua Ângela.
Sem regras. A crise, segundo a psicanalista, não escolhe sexo. "O homem identifica seu lado homem com as conquistas e o poder. O limite do tempo a essas realizações pode acarretar efeitos de crise. A mulher, mesmo participando do mundo das conquistas e do poder, não identifica nele seu ‘ser’ de mulher. Em geral, sofrem mais os efeitos da passagem do tempo sobre a imagem e o corpo, pois eles se traduzem como desvalorização subjetiva. Ambos são suscetíveis às crises, pois sofrem os efeitos do discurso atual que valoriza especialmente o poder, a performance e as belas formas".
Não existem regras nem receitas para superar as crises. "Cada pessoa só pode fazê-lo pelos meios, com seus traços, sua maneira de gerir as mudanças e, sobretudo, sua capacidade de fazer o luto, ou seja, capacidade de substituir uma coisa por outra. Acho fundamental elaborar as perdas e mudanças. Não creio que seja possível evitar as crises, mas elas podem ser tratadas. Cada um deve aprender a ‘ler’ o que o angustia na passagem do tempo", pontua Ângela Mucida.
Dicas 
- Desenvolva metas e vá atrás de objetivos que sejam realmente importantes para você.
- Pense mais em você. Considere o que você mais preza e as suas qualidades e deixe de 
lado o que os outros esperavam de você. 
- Não tenha medo de superar obstáculos ao realizar novas mudanças em sua vida. Invista em novas possibilidades.
- Cultive as novas e antigas amizades.
- Reveja seus valores. Mantenha a atividade do corpo, com exercícios, e da cabeça, com leituras e outros passatempos.

MINIENTREVISTA
"Esse é um momento especial, uma chamada para identificarmos o que de fato é importante para nós"
Pedro Paulo Monteiro Gerontólogo
O que você diria sobre a crise da meia-idade? É um momento de mudanças. O que não é fácil, pois somos resistentes em deixar nossa zona de conforto. Porém, temos de decidir qual caminho seguir. Não sabemos se a direção escolhida será melhor ou pior. Simplesmente temos de optar e experimentar uma nova forma. A palavra "crise", no latim, pode também significar ruptura, término de um estado para se iniciar outro.
Ela existe mesmo? Experimentamos na meia-idade porque passamos a ver a vida de outro modo, passamos de um estado de perspectiva a outro. Quando criança, pensamos em brincar; quando adultos, somos instigados a ter maiores responsabilidades no âmbito do trabalho e da família. Ao chegarmos à meia-idade, passamos a pensar a vida por outro ângulo. Não mais pensamos como pensávamos antes. Sabemos que não somos os heróis como acreditávamos ser. Nessa fase, surgem outras demandas como, por exemplo, ter mais atenção à nossa própria história de vida. Ou seja, o que foi e o que poderá ser.
Quando ocorre? Sobretudo quando sofremos um impasse. No momento em que temos de decidir o que fazer de nossas vidas. É comum surgir questionamentos existenciais a partir dos 40 anos, mas isso não é uma regra, depende de como o sujeito experimenta o seu viver.
Podemos evitá-la? Não penso que deveríamos evitar o que nos faz sentir. Pode ser difícil, ainda mais em tempos de tantas distrações. Vejo a crise da meia-idade como uma oportunidade de se fazer uma revisão de nossa história. Aquilo que é de fato importante para nós, o que é desejo e o que é necessidade.
Pedro Paulo Monteiro vê a crise da meia-idade como uma oportunidade que as pessoas têm de fazer uma revisão em sua trajetória e história de vida

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