sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Criei Coragem

Escrito por Dom Josias   




Vale a crítica de Rubem Alves ao povo, através do artigo "Ganhei Coragem", mas não sejamos iludidos pela ideia de que o povo assimilava sem mais sem menos as práticas dos regimes autoritários. Diante deles, o povo agia com a consciência possível para poder sobreviver. A história mostra que no meio do povo sempre houve quem se insurgisse contra a opressão. E frente às tiranias católicas e protestantes da época do Renascimento não vamos imaginar que no meio do povo não tenha existido os gritos da indignação. Democracia tal qual entendemos hoje, com sufrágio universal, é algo muito recente na história. Então, só a partir de tempos muito recentes é que o povo tem maiores responsabilidades sobre os acontecimentos. Ainda assim, é bom que se entenda, que democracia representativa é uma grande camuflagem dos interesses da minoria que se impõe com sua ideologia. Dentro do processo histórico, o povo que gosta de pão, de circo, de churrasco e de música sertaneja, também pode desvendar alguma coisa que está por detrás da camuflagem. 
Em se tratando dos textos bíblicos, o povo conduzido por Moisés se rebelava, mas não faltaram os que foram até o fim, com Moisés. Quanto aos profetas, os que exerciam essa profissão, eram os oficiais, os que viviam no palácio e falavam aquilo que os reis queriam ouvir. Amós, Oséias, Miquéias etc. saíram do meio do povo e foram mortos exatamente por não serem profetas. Só mais tarde o povo entendeu que aqueles que foram rejeitados e mortos é que realmente estavam certos. O resgate da obra deles foi feito muito mais tarde. O povo de Jerusalém, da época de Jesus, iludido pela propaganda dos dirigentes (Saduceus, Fariseus e Herodianos), que se coligaram numa só frente, de fato votou contra Jesus, mas no meio desse mesmo povo estavam os que choraram pelo Mestre.
Em se tratando dos cristãos, as maiores vítimas dos absurdos praticados pela Inquisição católica e pela tirania dos luteranos alemães e dos puritanos calvinistas era exatamente o povo. Camponeses foram massacrados na Alemanha de Lutero e Calvino mesmo foi o responsável pelas mortes dos que não rezaram na sua cartilha. A tirania era tão cruel na Espanha de Fernando, o Católico, que Maquiavel ao fazer referência a esse governante nem teve coragem de citar o nome dele em seu livro "O Príncipe".  
A história mostra que as fogueiras e forças armadas sob o argumento da defesa da fé, não tinha aprovação alguma do povo, a grande vítima da tirania absolutista. Mesmo o aristocrata Thomas Moro, vitima da Reforma na Inglaterra, escreveu sua belíssima Utopia, vislumbrando uma sociedade muito diferente daquela em que vivia. A Maquiavel, Hobbes e Bossuet, teóricos do Absolutismo, se contrapuseram, ainda, além de Thomas Moro, Campanella com sua "Cidade do Sol" e Bacon com sua "Nova Atlântida". Não sabiam ainda como viabilizar suas idéias, mas imaginaram uma sociedade possível.
A respeito das sociedades autoritárias de nossos tempos tenho um texto que escrevi há anos, para uma revista da Escola de Pais de Mineiros, sob o título "A essência do ser humano".  E certamente você já teve acesso ao mesmo. Nos tempos atuais temos poderosíssimos meios de comunicação através dos quais se agem sobre as consciências das pessoas. Mas temos também através desses mesmos meios o despertar das consciências.

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