quinta-feira, 12 de agosto de 2010

o não dito

O dizer correto nos liga diretamente a algo que é reconhecido e vivenciado como real, eficaz e verdadeiro. Ultrapassando as palavras, permite o acesso a algo que pode ser nomeado, não, porém, apreendido e compreendido com palavras. Esse outro elemento é indizível, porém, no dizer, é colocado em vibração, num movimento que também não pode ser nomeado. Mas nós o percebemos e sentimos, para além das palavras, como algo importante que nos toca intimamente. O que é maior no dizer é, portanto, o que não se diz, o que não pode ser nomeado, o que só atua através do consentimento e, em última instância, não pode ser apreendido ou ficar disponível.
Quanto mais do não-dito vibrar juntamente com o dito, quanto mais solto, intocado e oculto ele permanecer, tanto mais denso e potente será o dizer. Esse dizer se esquiva de toda curiosidade, inquisição, detalhamento, disputa e argumentação. Caso contrário, da plenitude do não-dito, que acompanhou o dizer, só restará o que foi percebido pelo ouvido, desligado do que nos tocou, enriqueceu, centrou e capacitou para uma ação criadora.
Bert H

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